Perigo com a prática de esportes em vias públicas por falta de bons espaços
Ícaro Abreu Barbosa 25/09/2020 19:10 - Atualizado em 27/09/2020 13:31
Praticantes de caminhada e ciclismo se expõem ao perigo em vias públicas
Praticantes de caminhada e ciclismo se expõem ao perigo em vias públicas / Foto: Rodrigo Silveira
Com mais de 500 mil habitantes, Campos, maior cidade do interior do estado do Rio de Janeiro, não conta com espaços próprios para prática de esportes e atividades físicas ao ar livre que ganham cada dia mais adeptos, como ciclismo, corrida e caminhada. Nos poucos locais de lazer existentes, as reclamações de abandono, falta de manutenção e fiscalização são constantes. Por dividirem espaço com motoristas, os atletas acabam se expondo a riscos que podem acabar resultando em acidentes. Foi o que aconteceu com o dentista e empresário Luís Gustavo Póvoa, de 42 anos, gravemente ferido após ser atropelado enquanto corria no acostamento da avenida Nilo Peçanha, no Parque Santo Amaro, no último dia 18. Luís Gustavo segue internado no Hospital da Unimed, e o seu estado de saúde é estável, apresentando evolução, apesar da gravidade das múltiplas lesões.
- Infelizmente, a imprudência ainda é o maior causador de acidentes de trânsito. Esse foi um exemplo: ele foi atropelado no acostamento, então, é preciso reforçar a questão da educação no trânsito. Temos projeto para melhorar a segurança em pontos onde há a prática de atividades, mas há que se ressaltar o grande número de acidentes causados por imprudência. Hoje, os acidentes de trânsito matam mais que a pandemia - respondeu o presidente do IMTT, Felipe Quintanilha, sobre o caso do atropelamento do dentista Luís Gustavo Póvoa. Quintanilha reforçou: "A Guarda Civil Municipal também está nas ruas, diariamente, para orientar e fazer valer a legislação de trânsito."
Dentre os problemas, na visão de praticantes de esportes e atividades físicas, a falta de locais próprios e seguro predomina. Para o presidente da Federação de Ciclismo do Estado do Rio de Janeiro (Fecierj), Rodrigo Rocha, “faltam espaços e incentivos para a modalidade em Campos. Pistas de BMX, uma entrada infanto-juvenil ao ciclismo poderiam ser feitas em lugares como o Parque Alberto Sampaio ou reformadas, como a que existia atrás da rodoviária Roberto Silveira, na praça da República, e foi fechada”.
Na opinião de Marcos Almeida, dono de academia e assessor de marketing esportivo, é difícil não pensar que Campos esteja em defasagem no sentido de áreas próprias para os desportistas de competição e para os que estão em busca de um hobby ao ar livre para tentar fugir da rotina e aliviar o estresse causado pelo longo período de confinamento, provocado pelo isolamento social durante a pandemia de Covid-19.
— Estamos carecendo de uma cidade mais amiga dos ciclistas e das pessoas que gostam de atividades físicas ao ar livre. Isso pode ter uma origem na dificuldade financeira do município, mas seria um fator positivo até para economia, pois é uma alternativa para entregadores que contam com suas bicicletas — comentou Marcos, citando como exemplo a ciclovia da avenida Alberto Torres, com pintura desgastada e utilização indevida de carros para estacionamento irregular e depósito de entulhos.
Rodrigo Rocha endossa o alerta para as falhas nas vias públicas municipais, estaduais e federais. No sentido das vias dentro da cidade, buracos são uma constante. Em relação aos carros em locais indevidos, a falta de fiscalização faz com que ali permaneçam estacionados de maneira irregular. Os ciclistas reconhecem o perigo de acostamentos sem sinalização específica, mas, sem outra opção, se aventuram na BR 101, BR 356 e RJ 216. Os riscos não deixam de existir em estradas secundárias. “Na estrada da Tapera, por exemplo, há as questões da falta de acostamentos e do mato alto, aproximando ainda mais os ciclistas dos carros e aumentando o perigo”, disse Rodrigo.
Problemas estruturais também são notados em praças públicas. “A praça do Flamboyant está com uma demanda de pessoas que desejam, após esse período presas em casa por conta da pandemia, caminhar, pedalar, patinar e ficar ao ar livre. O problema é que o lixo natural está tomando conta do espaço”, declarou Marcos Almeida. “Folhas e galhos no chão são comuns, e até as barras de ferro que cercavam o espaço dos patins estão caídas. Já não temos muito espaço, e os que temos não são limpos e cuidados pela gestão”.
 
Busca por lugares mais seguros
Na busca por espaços, adeptos de caminhadas e ciclismo têm usado a pista em frente ao condomínio Damha I, na área do Parque Julião Nogueira. Inicialmente construída para ligar à outra unidade de condomínios, que não foi construída, a pista de dois quilômetros, totalizando quatro de ida e volta, foi repassada para a gestão da Prefeitura.
— É um local seguro e bem cuidado que ainda não está sendo muito divulgado, mas é um ponto promissor para as práticas esportivas. A governabilidade precisa buscar formar parcerias privadas — disse Marcos Almeida.
A respeito das ciclovias (na 28 de Março, Arthur Bernardes e José Carlos Pereira Pinto), também há situação de abandono. “Algumas ciclovias têm buracos grandes, o maior perigo. Precisamos de mais segurança para as pessoas”, afirmou Rodrigo Rocha.
Consultada, a Prefeitura de Campos informou que o município possui cerca de 51 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas, sendo a Patesko (da 28 de Março) a maior e principal do município. Outras duas importantes ciclovias estão localizadas nas avenidas José Carlos Pereira Pinto, no Parque Rio Branco, e Nazário Pereira Gomes, no Fundão, em Guarus.
Segundo o Instituto Municipal de Trânsito e Transporte (IMTT), dentro do novo modelo de sistema de transporte que está sendo implantado, existia o projeto de instalar bicicletários em cada ponto de integração, incentivando o uso de bicicletas. Este projeto foi impossibilitado por falta de recursos.
Em nota, a Fundação Municipal de Esportes (FME) respondeu:
"Durante a gestão do prefeito Rafael Diniz, entre 2017 a 2019, a FME criou vários projetos visando incentivar a prática esportiva no município. Passando de pouco mais de 1.500 alunos praticando uma atividade esportiva para cerca de 20 mil atendimentos entre natação, hidroginástica, ballet, triathlon, judô, karatê, jiu-jitsu, ciclismo, ginástica funcional, vôlei, entre outras modalidades. Ao todo, são 51 modalidades esportivas, implantadas nos sete Centro Escola Esportiva – CEDE, Praças e vias públicas.
 
Um dos primeiros projetos implantados foi o Via Esporte que, antes da pandemia, funcionava aos domingos das 8h às 13h30, na Avenida Arthur Bernardes, no trecho entre a BR-101 e a Avenida José Alves de Azevedo (Beira-Valão), espaço que ganhou o gosto do campista e se transformou em palco de várias ações, como o Federal Kids, corrida para o combate à pedofilia, campanhas de doação, entre outros eventos. Também foi criada uma Área de Treinamento na Avenida Arthur Bernardes, entre a Rua Tenente Coronel Cardoso e a Avenida Alberto Lamengo (Uenf) voltada para ciclistas treinarem. A FME também apoiou e incentivou provas ciclísticas promovidas pela Federação Estadual de Ciclismo e criou uma escolinha de ciclismo para crianças, no Cepop. Também foi implantado em abril de 2017, o Paraesporte, maior projeto público esportivo do país voltado para pessoas com deficiência. São mais de 19 modalidades esportivas voltadas para crianças e adultos. Em março de 2018, as equipes de vôlei e futebol do Paraesporte, integrou a seleção brasileira, participando dos Jogos Mundiais das Olimpíadas Especiais, em Abu Dhabi, onde conquistaram respectivamente medalhas de bronze e prata. O evento reuniu cerca de 6 mil atletas de 190 países. O Paraesporte chegou a atender mais de 1000 pessoas, mas devido a pandemia as atividades tiveram que ser suspensas."
Visando incentivar o esporte associado ao Turismo, a FME criou o Projeto Caminha Campos, realizado, a cada 15 dias: uma caminhada ao ar livre, mostrando as belezas naturais da cidade, como o Morro do Rato e Lagoa de Cima. Também foi implantado em Lagoa de Cima o Projeto Esportes Náuticos, voltados para os moradores da localidade praticarem uma atividades esportiva, como canoa havaiana, stand up e canoagem.
Depois de mais de 12 anos, a Prefeitura resgatou os Jogos Estudantis de Campos- JECs- que, por três anos consecutivos, reuniu dezenas de escolas e centenas de estudantes nas competições, incentivando a prática esportivas nas escolas. Também foi retomada o Campeonato Campista de Natação, que ficou parado por mais de 20 anos. Essas ações, ao longo dos últimos três anos, atraíram cerca de 20 mil pessoas, que praticavam uma ou mais modalidades, das 50 oferecidas, em 20 locais diferentes, tanto na área central, como nos distritos de Morro do Coco, Travessão, Dores de Macabu, Farol de São Thomé, Santa Cruz, entre outras.
 

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