Hélio Coelho e Vanda Terezinha Vasconcelos
01/09/2020 15:59 - Atualizado em 01/09/2020 16:00
Corria o ano de 1939. Lá fora, em breve começaria a Segunda Guerra Mundial. No Brasil, vivíamos um tempo de restrições democráticas, sem eleições, sem partidos políticos, sem as liberdades formais para o livre debate das ideias em público. Campos era uma cidade que girava em torno das usinas, do comércio e da cana. Havia teatros, clubes, jornais, Carnaval, jogos, casas de mulheres, os ritos e as rezas, faculdades, as confeitarias e os cafés onde se misturavam boêmios, jornalistas, advogados, médicos, músicos, poetas, intelectuais e políticos, todos buscando nas brechas possíveis espaços para se expressar. Foi nesse ambiente que a Academia Campista de Letras (ACL) foi fundada em 21 de junho. Entre seus fundadores, ainda que figurassem progressistas no campo literário e político-ideológico, o grupo hegemônico — ainda que de indiscutível renome intelectual — era constituído por moderados, e conservadores. Tanto é verdade que, por muito tempo, a Academia ficaria blindada ao Modernismo e suas tendências que, numa espécie de Modernismo tardio, corajosamente e com brilho despontava entre nós como resistência cultural ao longo dos anos 50. Dialeticamente, tempos depois, por ironia e imperativo histórico, seus mais representativos nomes passaram a fazer parte da instituição, em muito contribuindo para sua oxigenação e fortalecimento até os dias atuais...
Fundada no Café Clube (no Boulevard Francisco de Paula Carneiro/ “Calçadão”) entre falatórios, declamações e tertúlias, das mesas do Café saíram para concretização do ato no antigo Edifício Trianon, na sala de representação do Diário Oficial/RJ, como nos informa Herbson Freitas, sendo seu primeiro presidente o advogado Nelson Pereira Rebel (1939-1944). Estavam lá: Barbosa Guerra, Gastão Graça, Alberto Ribeiro Lamego, Dióscoro Vilela, Manoel Joaquim da Silva Pinto, Jerônimo Ribeiro, Álvaro Duarte Barcelos, Rogério Gomes de Souza, Letelbe Barroso, José Honório de Almeida, Godofredo Tinoco, Herdy Garchet, Mário Barroso, Alberto Frederico de Moraes Lamego, Silvio Fontoura, Abelardo N. Vasconcelos, Jaime Landim, José Landim, Ewerton Paes da Cunha e Isimbardo Peixoto (segundo Dr. Welligton Paes).
Criada nos moldes da Academia Brasileira de Letras (modelo da Academia Francesa), estruturou-se a ACL, com 40 cadeiras reverenciando figuras ilustres nas letras e nas artes, nas ideias, no brilho cultural de Campos da segunda metade do século XIX e primeiras décadas do século XX. Foi um começo difícil, funcionando precariamente aqui e ali — Automóvel Clube Fluminense, Associação de Imprensa Campista (fundada em 1929), residências de Acadêmicos — até que, em 10 de abril de 1948, recebeu as chaves, por decreto oficial do prefeito Salo Brand, e instalou-se no belo, hoje centenário e imponente prédio de sua sede, no Jardim São Benedito (praça Dr. Nilo Peçanha). Esta conquista não impediu algumas dificuldades de funcionamento adequado, e turbulências no fim da Era Godofredo Tinoco (um capítulo à parte, entre críticas e aplausos, 1944-1983), levaram a que suas reuniões fossem realizadas no Salão Nobre da Santa Casa, no escritório do acadêmico Dr. Renato Aquino e no Hotel Planície, retomando suas atividades na sede em função dos esforços e gestões dos presidentes Jamil Ábido (1983-1984), Américo Rodrigues da Fonseca (1984-1996) e Walter Siqueira (1996), com destaque para a atuação de Renato Aquino (1996-1999), Waldir Carvalho (1999-2001) e Raul Linhares (2001-2003). Nos últimos 17 anos, sob a presidência de Arlete Parrilha Sendra (2003-2005, 2007-2009), Herbson Freitas (2005-2007) Elmar Martin s(2010-2012/13), Hélio de Freitas Coelho (2013-2018), Herbson Freitas (2018-2019) e Vanda Terezinha Vasconcelos (2020-2021), a Academia tem ampliado suas relações com a comunidade acadêmica para além da letras, buscando sua inserção com maior intensidade na vida cultural de nossa Terra, promovendo cursos, concursos literários, editando livros, jornal e revistas, dando visibilidade aos trabalhos de acadêmicos/as e autores convidados, celebrando convênios com o poder público municipal que viabilizaram ampliação e melhoria nas instalações. Essa parceria precisa ser restabelecida, pois é preciso retomar a excelência dessas publicações, e muito há por fazer no sentido de a ACL vir a ocupar efetivamente seu papel de instância e agência de produção cultural, circulação de ideias e socialização do saber. Merece destaque nossa intensa participação no processo de fundação e construção da Federação das Academias de Letras do Estado do Rio de Janeiro, sob a batuta e inspiracão do Dr. Waldenir de Braganca, tendo a honra de sediar a I Jornada Cultural da Falerj em nossa cidade, no dia 24 de março de 2018, numa grande homenagem ao campista histórico presidente Nilo Peçanha.
A gestão iniciada agora, em março de 2020, viu-se impedida de desenvolver o programa que havia traçado por conta da pandemia, o que não impediu a adoção de uma série de medidas junto aos acadêmicos, acadêmicas e à comunidade campista. Destaque-se o começo de uma reestruturação administrativa e espacial, um avanço no processo de inserção nas redes sociais e a elaboração de pequenos vídeos nos quais cada acadêmico/a se apresenta e traça um perfil da vida e obra do patrono de sua cadeira. Com uma nova diretoria de elevado nível cultural, entusiasmada e com domínio das novas tecnologias de comunicação, com certeza muito vai ser realizado ao longo do ano. Aos 81 anos, a ACL avança como convém existir, ser e avançar uma Academia no século XXI. Abaixo, as 40 cadeiras da ACL, com seus patronos e seus atuais ocupantes.
01 - Patrono: Alberto de Faria, Acadêmico: Hélio Gomes Cordeiro; 02 - Álvaro Ribeiro de Barros, Ana Raquel de Souza Poubaix; 03 - Anfilóquio de Lima, Welligton Paes; 04 - Amélia Gomes de Azevedo, Sylvia Paes; 05 - Balthazar Dias Carneiro, Geraldo dos Santos Machado; 06 - Benedito Pereira Nunes, Inês Cabral Ururahy Souza; 07 - Eloy Ornellas, Ronaldo Henrique Barbosa Júnior; 08 - Flamínio Caldas, Antonio Manoel Alves Rangel; 09 - Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, Simonne Teixeira; 10 - Francisco Portela, Alcimar das Chagas Ribeiro; 11 - Francisco Augusto de Paula Carvalho, Heloisa Helena Crespo Henrique; 12 - Heitor Silva, Hélio de Freitas Coelho; 13 - Inácio de Moura, Renato Aquino; 14 - João Barreto, Vanda Terezinha Vasconcelos; 15 - João Antonio de Azevedo Cruz, Joel Ferreira Mello; 16 - João Batista de Lacerda Filho, Arlete Parrilha Sendra; 17 - João Batista de Lacerda Sobrinho, Elias Rocha Gonçalves; 18 - João Batista Pereira, Carmen Eugênia Sampaio de Lemos; 19 - José Alexandre Teixeira de Mello, Christiano Abelardo Fagundes Freitas; 20 - José Bernardino Batista. Pereira de Almeida, Cândida Maria Rebel Albernaz; 21 - José Carlos do Patrocínio, Herbson da Rocha Freitas; 22 - Conselheiro José Fernandes da Costa Pereira Júnior, Walter Siqueira; 23 - José Joaquim da Cunha Azeredo Coutinho, Levi de Azevedo Quaresma; 24 - José Pinto Ribeiro Sampaio, Roberto Pinheiro Acruche; 25 - Júlio Feydit, Vilmar Rangel; 26 - Luiz Felipe Saldanha da Gama, Genilson Paes Soares; 27 - Manoel Camilo Ferreira Landim, João Zaccaro Noronha; 28 - Manoel Martins do Couto Reis, Edinalda Maria Almeida Silva; 29 - Manoel Rodrigues Peixoto, Sebastião José de Siqueira; 30 - Max de Vasconcellos, Fernando da Silveira; 31 - Manuel Múcio da Paixão Soares, Aluysio Abreu Cardoso Barbosa; 32 - Nilo Peçanha, José Florentino Salles; 33 - Obertal Chaves, Orávio de Campos Soares; 34 - Pedro Augusto Tavares Junior, Sandra Maria França Viana; 35 - Pedro Manoel Moll, Elmar Rodrigues Martins; 36 - Sebastião Viveiros de Vasconcelos, Joel Maciel Soares; 37 - Severino Lessa, Gilda Maria Wagner Coutinho; 38 - Teófilo Guimarães, Carlos Augusto Souto de Alencar; 39 - Conselheiro Tomás José Coelho de Almeida, Alberto Rosa Fioravanti; 40 - Tancredo Saturnino Teixeira de Mello, Oswaldo Barreto de Almeida.
* Hélio Coelho é professor da Universidade Federal Fluminense (Serviço social - Campos), da Faculdade de Direito de Campos (UnifluI). Membro da ACL.
* Vanda Terezinha Vasconcelos é médica, professora da Faculdade de Medicina de Campos, presidente da Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia e presidente da ACL.