Folha Letras: Manoel Rodrigues Peixoto (ACL - Cadeira 29)
Sebastião José de Siqueira - Atualizado em 29/09/2020 16:13
Manoel Rodrigues Peixoto
Manoel Rodrigues Peixoto / Divulgação
Rodrigues Peixoto nasceu em Campos, no dia 1º de agosto de 1843. Era filho do tenente-coronel Germano Rodrigues Peixoto e de D. Maria Josefa da Silva Peixoto.
Começou seu curso primário em Campos, em 1855. Em 1857, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde, concluído o primário, foi fazer o curso de humanidades no Colégio Marinho. De 1860 a 1864, morou em São Paulo, onde, na faculdade de direito, recebeu o título de bacharel em ciências jurídicas e sociais. Voltou a morar em Campos em 1865, onde abriu sua banca de advogado com o companheiro Dr. Tomás Coelho.
Em 1866, fez uma viagem de passeio à Europa, permanecendo até 1868. Nessa viagem, percorreu Portugal, França, Espanha, Itália, Inglaterra, Suíça, Grécia e Turquia.
Voltando ao Brasil, no mesmo ano, casou-se com Maria Isabel de Miranda Manhães, filha do Dr. Joaquim Manhães Barreto e de Antônia Gregório de Miranda Manhães, e neta dos barões de Abadia.
No período de 1868 a 1881, dedicou-se à indústria e à agricultura. Em 1874, com o Dr. Francisco Portella, conseguiu a concessão para a construção da estrada de ferro do Carangola, que ligou o Norte Fluminense ao oeste de Minas e ao sul do Espírito Santo.
Em 1881, fundou o Engenho Central do Cupim, estabelecimento modelo para a fabricação do açúcar. De espírito democrático, nesse mesmo ano foi eleito deputado geral pelo partido Liberal, tendo como adversário seu colega de banca de advocacia, Dr. Tomás Coelho.
O Dr. Rodrigues Peixoto colaborou de forma expressiva na imprensa campista, nos jornais “Monitor Campista”, “O Independente” e “O País”, com assuntos literários e de interesse geral.
No Rio de Janeiro, publicou artigos que se transformaram em livros e folhetos como os dos seguintes títulos: “A Questão Religiosa”, “Máxima de Cavour”, “República ou Monarquia” e a “Crise do Açúcar”.
Na Câmara dos Deputados, teve destacada atuação, e entre seus discursos importantes estão aqueles que se referiam ao orçamento da receita do império e os das medidas para corrigir o déficit orçamentário que se agravava a todo dia.
Apesar de fazendeiro que se utilizava do elemento servil, Dr. Rodrigues Peixoto votou a favor do projeto Dantas, que propunha a abolição, o que lhe causou a perda da reeleição em 1885, já que quase todo o seu eleitorado, do 6° distrito, tinha interesse na manutenção da escravidão. Em 1887, foi eleito deputado pela oposição.
Em 1888, Dr. Rodrigues Peixoto empreendeu viagem aos países do Prata, onde estudou o problema da imigração e da colonização. Voltando à Câmara, se destaca fazendo oposição ao gabinete João Alfredo e interpelando com frequência o governo. Deu seu voto em favor da lei que extinguiu a escravidão em 13 de maio.
Foi eleito novamente deputado, e certamente seria escolhido senador, já que fazia parte da lista tríplice, se não caísse a monarquia. Em 1904, o Dr. Nilo Peçanha, então presidente do estado do Rio de Janeiro, convidou o Dr. Rodrigues Peixoto para exercer o cargo de prefeito do município de Campos, fato que inaugurava o regime prefeitoral da terra campista, tendo tido desempenho brilhante nesta função.
Após deixar a Prefeitura, foi eleito deputado federal pelo nosso estado, ocupando mais tarde o cargo de diretor geral da diretoria de agricultura do recém-criado ministério da Agricultura.
Esteve Dr. Rodrigues Peixoto ligado também à magistratura; Foi suplente de juiz municipal em Campos de 1869 a 1873, tendo nesse período iniciado a reforma judiciária. Serviu também como promotor interno na Comarca de Campos e substituto do juiz de órgãos e de direito de Campos.
Gostaria agora de falar do poeta Rodrigues Peixoto. Pouco se sabe de sua vida amorosa, mas suas passagens pela vida nos levam a pensar que foi um passional.
Homem educado, culto, inteligente, tinha o domínio perfeito de si próprio, de modo que quando abraçava uma causa, o fazia apaixonadamente, com vontade firme, inabalável, mas sabendo sempre se conduzir com serenidade sem excesso.
Foi assim na sua vida pública, tinha que ser assim na sua vida amorosa.
Da sua bagagem literária, onde fazem parte seus discursos, todos em linguagem elegante, por vezes lírica, pouco havia que fizesse se pensar numa tendência para a poesia.
Mostrou-se como sempre vibrante nas lutas públicas, e não poderia atravessar a fase amorosa de sua vida sem perpetrar um verso.
Como era dotado de uma cultura universalizada, tinha de saber manejar a métrica e a rima, mas poucas produções desse gênero chegaram até nós:
“Prometem-me seus olhos mil amores,
sorrisos, flores, da ventura a palma,
mas de seus lábios só me vêm desprezo,
que sinto aceso, corroer-me a alma.”
O autor revela nesses versos um conformismo que toda a sua vida desmente. Versos cadenciados, bonitos, mas desencantados. Mais adiante, vimo-lo com espírito conselheiral, como sempre, nestes versos:
“És versátil, volúvel, inconstante
não amas a ninguém: és beija-flor!
Se da rosa te enfara o puro odor,
logo mudas de amor no mesmo instante...

Cada flor, a porfia, mais amante, cativar-te procura com ardor:
esta busca aspirar o teu olor
aquela outra ficar mais fascinante.

Baldado é todo esforço! Sem parar, voltejas, incessante, em torno delas, sem nenhuma poder te avassalar...

Borboleta, gentil de cores belas:
não vás teu pó sutil desperdiçar
ou romper, adejando, asas singelas!”
Porém onde o seu coração vibra com espontaneidade, ternura e poesia é nos delicados versos que dedica a aquela que viria a ser sua esposa. Versos precedidos por essa dedicatória: “A minha noiva, depois minha mulher, D. Maria Isabel de Miranda Manhães”:
“Mais uma gota, que no mar se perde
da eternidade,
mais uma rosa que inocente esfolhas,
em soledade

quisera a urna eu ter sido sempre
de tua infância,
flor encantada, que no tempo espalha
tanta fragrância;

colher os sonhos que tua alma inundam
de tanta luz,
beber as preces, que teus lábios rezam
ao pé da cruz;

Mirar- me sempre nestes olhos meigos,
que sabes ter,
e, após fitar-te, sem mais outro anhelo que
o de te ver
sentir-te a vida, num jardim imenso
aberto em flor
e ambos unidos num enlace eterno,
cheios de amor

eis quanto almejo, sonho de meus sonhos
meu céu jocundo,
porque és aquela que me empolga a vida,
sendo meu mundo!”
De verdade, foi esse o seu único amor, que se saiba. Amor da jovem que, com 21 anos, “lhe empolgou a vida”; foi sua grande inspiradora, e que o levaria ao oratório do palacete da baronesa de Abadia, à rua Direita, em 9 de maio de 1868. Foi seu grande e único amor, pois, ficando viúvo quatro anos após, viveu até os 76 anos sem substituir “aquela que me empolga a vida, sendo o meu mundo.”.
Rodrigues Peixoto dá nome a uma rua de Campos, que começa na rua Manhães Barreto e termina a Bruno de Azevedo. Ele teve apenas um filho. Dr. Wladimir Peixoto, que também foi republicano, tendo fundado em 1889 o jornal “A Revolução”.
O nosso patrono, Manoel Rodrigues Peixoto, veio a falecer em 29 de setembro de 1919.
Bibliografia:
1. “Rodrigues Peixoto (O Homem e a Obra) - Godofredo Tinoco. Niterói - 1945
2. “Movimento literário em Campos” - Múcio da Paixão. Rio de Janeiro - 1924
3. “A lírica do Dr. Manoel Rodrigues Peixoto” - Isimbardo Peixoto. Oficinas da Folha do Comércio - 1943
4. “Gente Que é Nome de Rua” – biografias. Waldir P. Carvalho, vol - 1985.
Fontes de consulta:
Biblioteca do médico e historiador Dr. Wellinigton Paes
Biblioteca da Prefeitura Municipal de Campos

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