Risco de colapso na Saúde de Campos com a Covid-19
Verônica Nascimento 18/08/2020 23:23 - Atualizado em 19/08/2020 07:55
Centro lotado após reabertura do comércio
Centro lotado após reabertura do comércio / Genilson Pessanha
O aumento de casos e de ocupação de leitos clínicos e de terapia intensiva por pacientes com Covid-19 em Campos, após a reabertura do comércio, bares e restaurantes no último dia 7, aponta para o risco de um colapso no sistema de saúde do município, segundo preocupação confirmada pela direção de hospitais filantrópicos e particulares da cidade. A maioria aposta na retomada do lockdown pelo poder público municipal, hipótese nunca descartada pelo prefeito Rafael Diniz (Cidadania), caso se fizesse necessária, mas que foi afastada nessa terça-feira (18) pela Vigilância Municipal em Saúde, cujas projeções indicam, mesmo com o aumento verificado, não haver probabilidade do sistema colapsar. Mas é unânime o entendimento que, mesmo com a maior parte dos estabelecimentos comerciais seguindo os protocolos de combate ao vírus, a maioria da população não cumpre as medidas sanitárias individuais e sociais de prevenção ao contágio.
Boletim epidemiológico de terça registrou quatro óbitos e 88 novos casos de Covid-19, em 24 horas. Campos já contabiliza 262 mortes e 3.964 pessoas infectadas. Outros 10.125 pacientes apresentaram sintomas suspeitos e são acompanhados por equipes de saúde. Além disso, 2.773 pessoas se recuperaram da doença. Já um levantamento do Painel Covid-19 Norte e Noroeste informou que o município está entre os três que elevaram os índices de infecção e de mortes pelo novo coronavírus nas regiões. Entre 2 e 8 de agosto, o número de casos confirmados saltou de 255 para 457, uma aceleração de 79,2%, enquanto as mortes pela doença passaram de 17 para 24.
A Prefeitura de Campos disponibiliza cerca de 230 leitos para pacientes com Covid no Centro de Controle e Combate ao Coronavírus, Hospital Geral de Guarus, Hospital Ferreira Machado, UPH São José, Santa Casa de Misericórdia, Hospital Plantadores de Cana e Hospital Escola Álvaro Alvim. Os hospitais Dr. Beda e Unimed também prestam o atendimento e informam as taxas ao município. Até terça, a ocupação dos leitos públicos (próprios e contratualizados) era de 64% em UTI e 44% em clínicos.
“Desde o início da pandemia, foram adotadas diversas medidas de restrição e isolamento, incluindo períodos de lockdown total e parcial, para achatar a curva de propagação. Com isso, evitou-se um grande aumento exponencial em fases posteriores. Projeções da equipe técnica levam a crer que, no momento, não há tendência ao colapso do sistema de saúde, mesmo com este aumento”, informou a Vigilância, por nota.
Centro de Controle e Combate ao Coronavírus
Centro de Controle e Combate ao Coronavírus / Divulgação - Supcom
Números preocupam
— O Hospital Escola Álvaro Alvim, a pedido da secretaria municipal de Saúde, abrirá, esta semana, três leitos de terapia intensiva exclusivos para pacientes com Covid-19.
— Como o município não faz testes em massa, o parâmetro para analisar a situação é o número de infectados e, principalmente, a taxa de ocupação de leitos de UTI. O risco de colapso existe e é real, porque o hospital de campanha não saiu e a sorte é o município contar com os hospitais filantrópicos. Mas, se a ocupação de leitos em Campos ficar superior a 90%, o município vai ter de se movimentar para abrir novos leitos para que não haja risco de desassistência a pacientes com complicações pulmonares mais graves. Penso que o prefeito esteja analisando a possibilidade de retomar o lockdown, porque, infelizmente, a população demonstra não ter noção de autoproteção e proteção ao outro. Então, creio que o prefeito, a persistir o aumento desses números, deverá retomar o decreto de lockdown e fechar tudo. E é importante que ele faça isso enquanto é tempo — declarou Geraldo Venâncio, diretor do Álvaro Alvim.
A Santa Casa de Misericórdia dá suporte ao município no atendimento aos casos de Covid, com recursos encaminhados pelo governo federal. “O hospital tem 10 leitos de UTI e sete leitos de enfermaria ocupados e já com solicitação de mais pacientes para serem internados. Tivemos um aumento de casos da semana passada para cá e lógico que isso está relacionado ao aumento de circulação das pessoas devido à reabertura do comércio. A Covid afetou a economia e o município, para melhorar a questão financeira, promoveu a abertura de bares, restaurantes, comércios, uma medida necessária, mas que deve contar com a colaboração da população, o que não está ocorrendo. A população não teve a maturidade de entender que essa abertura gradativa do comércio obrigatoriamente tem de estar acompanhada da manutenção das medidas de isolamento pessoal e isso pode gerar um colapso na saúde. Acho que o município deve recuar, até para a gente ter tempo hábil de reestruturar os serviços para receber o quantitativo que vai ser muito maior”, opinou o diretor da Santa Casa Cléber Glória.
O Hospital Plantadores de Cana informou que, nessa terça, dos 12 leitos de UTI-Covid, 10 estavam ocupados. Na Beneficência Portuguesa, a ocupação era de 27 dos 29 leitos de UTI e 40 dos 60 de enfermaria. “Acho que tem de haver uma comunicação social efetiva, alertando a população dos procedimentos que evitam o contágio. Conheço pessoas instruídas que não estão seguindo as regras de proteção pessoal e coletiva”, disse o diretor da Beneficência Renato Faria.
O Hospital Unimed informou que ampliou o número de leitos e que não houve “aumento significativo no atendimento e internação de pacientes com Covid-19”. A situação é diferente no Hospital Dr. Beda, que se sentiu a “explosão de casos” e, conforme a assessoria, o índice de ocupação de leitos passa de 80%, mas o hospital apresenta um diferencial que dá suporte extra ao atendimento e à taxa de ocupação: um cateter de alta compressão para ventilar, que evita a intubação em alguns casos graves da doença. O hospital, contudo, reconhece o risco de um possível um colapso na saúde.
Prefeitura pede colaboração da população
Aglomerações de pessoas, quase todas sem máscaras de proteção, estão comuns em centros comerciais e áreas de lazer noturno da cidade, mas a Prefeitura está reforçando a fiscalização. Apesar de afastar mudanças imediatas, a Vigilância em Saúde município alertou que, “se houver piora nos indicadores do modelo que está sendo seguido (fase amarela de retomada das atividades econômicas e de alerta máximo para a Covid-19), poderá haver a volta para fases de maior rigor quanto ao isolamento”.
A diretora do órgão, Andreya Moreira, avisa: “A Prefeitura vem tomando todas as medidas necessárias ao enfrentamento do Covid-19, porém, é preciso que a população esteja atenta e responsável quanto à necessidade de higienização, à obrigatoriedade do uso de máscara e à manutenção do distanciamento social para minimizar os impactos da doença. O município faz a sua parte, implantou em tempo recorde leitos aptos ao tratamento da doença, fizemos treinamentos com as equipes de saúde. Estamos diuturnamente atuando para minimizar os impactos da doença na nossa população, antes mesmo do primeiro caso em Campos. Mas a eficácia das medidas do poder público só acontece quando a população faz a sua parte”.
A Prefeitura de Campos informa ainda que intensificou a fiscalização e que já foram mais de cinco mil vistorias em comércios e aplicação de mais de 400 multas por descumprimento de regras, desde que o decreto 33/2020, de 20 março, passou a vigorar. Membro do grupo de crise para enfrentamento à Covid-19, Felipe Quintanilha, secretário de Desenvolvimento Econômico, critica a falta de comprometimento de parte da população.
— Lamentamos profundamente o fato de que parte da população não respeite o isolamento, a necessidade de distanciamento social ou o uso de máscaras que são obrigatórios e extremamente necessários para enfrentar o novo coronavírus. A Prefeitura de Campos está buscando alternativas, ainda que tenhamos extrema dificuldade. Não há fiscalização que dê conta se a população não colabora — pontuou o secretário.
Painel aponta propagação do coronavírus no Norte e Noroeste Fluminense
O Brasil confirmou nessa terça 3.407.354 casos e 109.888 mortes pelo novo coronavírus, segundo o Ministério da Saúde. Dados de um consórcio de veículos de imprensa apontam que o país já superou a marca de 110 mil mortes. O estado do Rio registrou, em um dia, mais 162 óbitos e 4.829 novos casos de Covid-19 e já são 14.728 mortes e 199.480 pessoas infectadas. Os municípios das regiões Norte e Noroeste Fluminense somaram 683 óbitos por Covid-19 e 21.275 casos positivos da doença até a última segunda-feira (17). Do total de casos confirmados, 18.147 pessoas se recuperaram do coronavírus.
Com aumento de 38,2%, as duas regiões atingiram a marca de 2.139 novos casos de coronavírus na última semana, entre 9 e 15 de agosto. É o segundo maior número de infectados em sete dias desde o início da pandemia.
Os dados foram divulgados em levantamento do Painel Covid-19 Norte e Noroeste Fluminense, que também mostra que houve crescimento de 18,2% na quantidade de mortes na comparação com a semana anterior. O índice saltou de 44, entre 2 de 8 de agosto, para 52 óbitos.
As três maiores cidades da região apresentaram alta na quantidade de pessoas infectadas. Foi a primeira vez que Campos, Macaé e Itaperuna registraram mais de 400 casos da doença na mesma semana.
O dado de infectados em Campos saltou de 255 para 457, com uma aceleração de 79,2%. O pico da pandemia, até o momento, aconteceu na semana entre os dias 28 de junho e 4 de julho, quando foram registrados 2.272 casos nas regiões.
A região chegou ao pico de 69 mortes entre 26 de junho e 1º de julho e o índice sofreu uma queda significativa para 44 óbitos, entre 2 e 8 de agosto. No entanto, o número de vidas perdidas para a Covid-19 voltou a crescer para 52 na última semana.
Em Campos, a quantidade de pessoas que morreram em decorrência do coronavírus subiu de 17 para 24. É o segundo maior número desde o início da pandemia, ficando atrás apenas dos 38 registros entre 26 de julho e 1º de agosto.

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