Verônica Nascimento
11/08/2020 21:43 - Atualizado em 12/08/2020 10:50
Este é o mês Agosto Dourado, de incentivo à amamentação. O dourado está relacionado ao padrão ouro da qualidade do leite materno para a sobrevivência, proteção e desenvolvimento da criança. No Hospital Plantadores de Cana (HPC), as mães de UTI ganham pão de mel, de cor dourada, para marcar a campanha iniciada com a Semana Mundial de Aleitamento Materno. No entanto, o Banco de Leite do HPC — único do interior fluminense e um dos três existentes no estado do Rio — passa por uma grave crise, com o estoque muito abaixo do necessário. O medo da Covid-19 tem comprometido até mesmo a coleta domiciliar do leite materno doado.
Os 40 leitos da UTI Neonatal do hospital estão ocupados, mas a quantidade de leite obtida semana passada alimentou apenas cinco bebês que não poderiam fazer uso de fórmulas infantis. A queda brusca nas doações é uma realidade em bancos de leite de todo o país, devido à pandemia do novo coronavírus.
— Perdemos muitas doadoras em função da Covid-19, na fase do lockdown, e elas não retornaram com as doações. Sempre tivemos um padrão rigoroso de qualidade e com, com a pandemia, reforçamos os procedimentos de segurança. Para a coleta domiciliar, nossa equipe sai toda paramentada, com capote, máscara, luvas e o kit é todo esterilizado. Até o veículo de transporte é higienizado. Como as pessoas estão com medo, evitamos entrar nas casas e deixamos o kit na portaria ou entregamos no portão, recolhendo o leite do mesmo modo. Não há risco de transmissão do coronavírus — garante a coordenadora do Banco de Leite do HPC, a enfermeira Fabiana Passos.
A coordenadora explica que, no banco, todo o leite coletado passa um processo minucioso e demorado até ficar apto à utilização. “Todo frasco que chega é inspecionado. O leite humano doado passa por um processo de pasteurização, que dura em média quatro horas. Depois da pasteurização, é colhido um material biológico de cada frasco de leite, que vai para a estufa por 48 horas e que, a cada 24 horas, é analisado. Todo esse processo torna inativo qualquer tipo de vírus ou bactéria”.
De fato, a orientação das organizações de saúde é que a amamentação não seja dispensada, nem mesmo por mães com a doença. O controle de qualidade da unidade do HPC é reconhecido por profissionais da área.
— A campanha Agosto Dourado é importante para conscientizar sobre a importância do leite materno, indispensável à saúde do bebê, por conter anticorpos, imunoglobulinas que fortalecem o sistema imunológico. E mesmo com confirmação da Covid, as mães devem continuar amamentando, resguardados todos os cuidados com a higienização, como lavar as mãos com sabão, usar álcool em gel, prender os cabelos, usar máscara facial. A amamentação também é benéfica para a mãe e pedimos também que não deixem de fazer doações, pois não há risco algum de contágio. Conhecemos o trabalho do Banco de Leite dos Plantadores de Cana e sabemos que é oferecido todo o suporte para a prevenção da Covid — acrescentou a nutricionista infantil, especialista em aleitamento materno, Ana Luíza Ferraz.
Em prol do ambiente — O tema do Agosto Dourado deste ano é Apoie o aleitamento materno para um planeta mais saudável. A ideia é mostram conexões entre a saúde humana e os ecossistemas da natureza, apresentando o leite materno como “natural, renovável e ambientalmente seguro”.
— São 17 objetivos, associados aos valores nutricionais do leite humano para a saúde e fortalecimento do bebê, inclusive em situações de emergência, como pandemias, apontam o benefício ecológico, com relação às fórmulas infantis. Se a criança é amamentada, não há consumo de fórmulas e são menos latas depositadas no solo, jogadas em oceanos, menos madeira cortada para produção dos recipientes. Também relacionam a amamentação com a redução da pobreza e desigualdade, uma vez que não interfere na renda familiar. São tantos ativistas em defesa de animais, da flora, da água, e o aleitamento materno pode influenciar positivamente nessas causas, na preservação ambiental — explicou Fabiana Passos.
O bem que faz amamentar e doar - Cilícia Nunes, a Cissa, e Danielle Nascimento são mães e sabem bem a importância do aleitamento materno. Elas usam redes sociais para destacar a importância da amamentação e da doação de leite humano.
Cissa, mãe de Jorginho, de um ano e oito meses, viveu momentos difíceis nos dois primeiros meses de vida do filho. “Meu filho hoje é forte e saudável, mas tive problemas seríssimos com a amamentação. Me sentia horrível, porque produzia muito leite e não sabia como amamentar meu filho. Procurei o Banco de Leite e eles me orientaram. Sou grata à equipe pelo que fizeram pela minha família. Me ajudaram não só no processo de amamentação, mas no de doação. Eu chegava a doar 500ml de leite diários e aquilo me fazia muito bem. Me sentia feliz em ajudar outras crianças”.
Danielle acompanha o filho Erick, de quatro meses na UTI Neonatal do HPC. “Sou mãe de prematuro e doadora de leite. Estou há quatro meses no hospital e vejo a necessidade desses bebês que estão internados. Peço que as mães que estão amamentando retornem com as doações ou comecem a doar leite materno. A equipe do Banco de Leite fornece o kit para a coleta e recolhe o material em casa, sem que a doadora precise vir ao hospital”, contou a “mãe de UTI”, que doa leite para os bebês internados no setor.
A coordenadora do Banco de Leite do HPC explica que a unidade também funciona como uma Casa de Apoio, orientando e atendendo mães com problemas para amamentar. A especialista em amamentação elogia o trabalho desenvolvido pela equipe e destaca sua importância: “Às vezes a mãe acha que o leite é fraco, que não produz leite suficiente ou que algum problema a impede de amamentar. Ficam tristes com isso, não sabem lidar com a situação e, por falta de acompanhamento, de apoio mesmo, acabam se privando e privando os filhos desse benefício. Então, esse trabalho de apoio do Banco de Leite é muito importante”, concluiu Ana Luíza Ferraz.