Power (Netflix) — Os grandes lançamentos da Netflix neste período de quarentena (com exceção de “Destacamento Blood”) têm as mesmas características; são filmes de ação com bom elenco e potencial para a criação de franquias.
É uma fórmula repetida: são filmes que trazem um conceito, com motivações mínimas para os personagens e, entre uma cena de ação e outra, se encontra um momento de respiro para tentar justificar as relações entre os personagens ou qualquer outra coisa.
“Power” é o mais novo lançamento da plataforma e se enquadra em todos os quesitos citados acima, com a curiosidade de ser o filme que mais se parece com um quadrinho, apesar de ser o único dessa safra recente que não tem relação direta com a nona arte.
Na trama, uma nova droga, intitulada “Power”, é distribuída em Nova Orleans. Essa droga permite ao usuário ter cinco minutos de super poderes, que variam de pessoa para pessoa e podem ter efeitos colaterais irreversíveis.
No combate à nova droga, um ex-soldado, um policial e uma traficante acabam se unindo por forças das circunstâncias e precisam dar fim à distribuição da droga.
O roteiro de Mattson Tomlin é original no conceito de não adaptar nenhuma obra pregressa, porque todas as ideias e conceitos presentes no filme são oriundos dos quadrinhos (não por acaso, ele é o roteirista do próximo filme do Batman), o que não chega a ser um problema. O que incomoda é a falta de criatividade em sua execução.
Seguindo a fórmula que mencionei no primeiro parágrafo, o conceito aqui é a forma como a droga funciona. Uma droga que permite diferentes poderes, mesmo que por um curto espaço de tempo, é uma premissa repleta de possibilidades, e o filme não consegue surpreender narrativamente, nem esteticamente, em nenhum momento.
Os efeitos imprevisíveis da droga são pouco explorados. Os poderes destacados são geralmente previsíveis, e os efeitos especiais oscilam muito: em alguns momentos são bem realizados, já em outros, são bem artificiais.
Ao menos o roteiro é eficiente em apresentar informações aparentemente aleatórias, que posteriormente vão se encaixar na trama, em um jogo de entrega e recompensa que é sempre interessante.
As motivações do trio de protagonistas e suas relações funcionam, mas os demais personagens são caricaturas exageradas que incomodam. Seja a traficante sul-americana, a dona da companhia produtora da droga, mas principalmente o traficante Biggie (Rodrigo Santoro), personagem mais próximo de um vilão presente na trama, que traz diálogos e momentos constrangedores.
A dupla de diretores Henry Joost e Ariel Schulman (“Atividade Paranormal 3”, “Nerve”) traz um colorido vibrante, característica esta presente em outras obras da dupla, que dá ao longa um tom de violência um pouco acima do normal nesse tipo de produção. Mas, os diretores perdem a mão em um frenesi injustificado na montagem das cenas de ação. São cenas repletas de cortes rápidos que se tornam confusas, prejudicando o entendimento de toda a mise-en-scène do filme.
Certamente o ponto alto da obra é o elenco que dá vida ao trio principal. Se não estão em seus melhores papéis, os atores ao menos funcionam muito bem na proposta do longa. Destaque para a jovem Dominique Fishback (“O Ódio que Você Semeia”), que interpreta Robin, a traficante que sonha ser cantora de rap e traz em seu figurino as cores do famoso personagem que leva o seu nome.
No fim das contas, “Power” termina como um filme de boas ideias mal aproveitadas, mesmo que não sejam inovadoras. Acaba soando bem genérico. Falta um diferencial, algo que o tire do grupo de filmes esquecíveis que todos nós teremos ao final deste período de quarentena.