Foi à designação criada em 1961 pelo crítico húngaro Martin Esslin (1918-2002), radicado na Inglaterra, tentando sintetizar uma definição que agrupasse as obras de dramaturgos de diversos países, as quais, apesar de serem completamente diferentes em suas formas, tinham como ponto central o tratamento inusitado de aspectos inesperados da vida humana. Essas obras estavam focadas em questões existencialistas e tentavam expressar o que acontece quando a existência humana é tida como sem sentido ou sem propósito, resultando na dissolução das comunicações.
O Teatro do Absurdo nasceu do Surrealismo, sob forte influência do drama existencial. O Surrealismo, que explora os sentimentos humanos, tecendo críticas à sociedade e difundindo uma ideia subjetiva a respeito do obscuro e daquilo que não se vê e não se sente, foi fundamental para o nascimento desse gênero que buscava, na segunda metade do século XX, representar no palco a crise social que a humanidade vivia, apontando os paradigmas e os valores morais da sociedade como fatores principais da crise. A principal fonte de inspiração dos dramas absurdos era a burguesia ocidental, que, segundo os teóricos do Absurdo, se distanciava cada vez mais do mundo real, por causa de suas fantasias e ceticismo em relação às consequências desastrosas que causava ao resto da sociedade.
Como o próprio nome diz, o Teatro do Absurdo propõe revelar o inusitado, mostrando as mazelas humanas e tudo que é considerado normal pela sociedade hipócrita. Essa vertente desvela o real como se fosse irreal, com forte ironia, intensificando bem as neuroses e loucuras de personagens que, genericamente, divulgam o homem como um psicótico, um sofredor, um ser que chega às últimas consequências, culminando sempre na revolução, no atrito, na crise e na desgraça total. Extremamente existencialista, o Absurdo critica a falta de criatividade do homem, que condiciona toda a sua vida àquilo que julga ser o mais fácil e menos perigoso, se negando a ousar, utilizando-se de desculpas para justificar uma vida medíocre.
O Teatro do Absurdo foca principalmente o comportamento humano, deflagrando a relação das pessoas e seus atos concomitantes. O objetivo maior desse gênero é promover a reflexão no público, de forma que a maioria dos roteiros absurdos procura expor o paradoxo, a incoerência, a ignorância de seus personagens em um contexto bastante expressivo, trágico, aprofundado pela discussão psicológica de cada personagem apresentado, com uma nova linguagem. Para Ionesco, membro da Academia Francesa, autor de um dos primeiros espetáculos absurdos, como "A Cantora Careca" (1950), renovar a linguagem é renovar a concepção, a visão do mundo.
Essa linguagem é traduzida não só nas palavras de cada um dos personagens, e sim em todo o contexto inovador, pois cada elemento no Teatro do Absurdo influencia a mensagem, inclusive os objetos cênicos, a iluminação densa e utópica, além dos figurinos. Todos esses elementos materiais do espetáculo contribuem para o enriquecimento da mensagem,que deve ser clara para não haver dúvidas por parte do público. A ironia constitui-se numa figura de linguagem extremamente difícil de ser praticada no palco, pois, exagerada ou mal formulada, pode ganhar um sentido contrário àquele intencionado pelo diretor.
Um dos autores de vanguarda do Teatro do Absurdo é Samuel Beckett, autor do clássico "Esperando Godot", que conta a história de dois personagens que esperam ansiosos por ajuda numa terra onde nada acontece de inovador, onde tudo se repete sem cessar, obrigando os angustiados personagens a tentar iludir a tristeza e frustração. Esse texto traduz perfeitamente a essência do Absurdo, sendo Beckett uma pessoa que, desde jovem, manifestava seu dom à rebeldia: um homem contrário a religiosidade, mesmo sendo de família protestante, além de ser um homem adepto à revolução dos costumes. O Absurdo, assim como o Dadaísmo, promoveu a revolução na linguagem e na ideologia da sociedade, obtendo muitas críticas de um público que, apesar de proletário, consumia o idealismo burguês da época. Harold Pinter, autor de "Velhos Tempos", "O Zelador", "A Coleção", e o autor americano Edward Albee, autor de "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", buscaram a orientação absurda para tecer suas críticas em favor das classes menos favorecidas, constituindo obras anti-literárias, com o mesmo brilhantismo de Ionesco e Beckett (que ganhou o Prêmio Nobel em 1969), com identidades próprias que lhes deram lugar de destaque na história da arte dramática.
A partir das ideologias de Artaud de quebra com os paradigmas clássicos do teatro ocidental, surgiu o Teatro Pânico, uma forma de Teatro do Absurdo calcado no drama e em contextos que mostram a revolta do autor perante o mundo. Apesar de possuir algumas ideias artaudianas, o Teatro Pânico mantém elementos básicos do teatro ocidental, como o diálogo de seus personagens. Esse gênero foi essencial para reafirmar o Teatro do Absurdo como vertente teatral, propondo a forma agressiva de expor seus personagens numa crítica mordaz contra a sociedade, onde homens e mulheres vivem suas vidas num limite extremo, sempre numa virtual solidão.
A concepção de Teatro Pânico nasceu em fevereiro de 1962, em Paris, e misturava terror com humor. A filosofia pânica diz que a memória é fundamental para o homem, pois esse não passa de um grande fundo de saberes que, com o passar dos anos, compõe um quadro estético, ético e moral. Na visão de um dos principais diretores do Teatro Pânico, o espanhol Fernando Arrabal, autor de "A Guerra dos Mil Anos", o Pânico mistura a vida privada com a vida artística, o lirismo e a psicologia, onde o teatro passa a ser encarado como um jogo, ou uma festa. Muitos associaram o Pânico com o Dadaísmo, gênero que contesta a razão em prol do subjetivo. Dessa forma, os espetáculos pânicos propõem, acima de tudo, uma linguagem extremamente transcendental em relação aos temas abordados. Nada disso poderia ser possível sem a estruturação do Teatro do Absurdo, que possibilitou no homem uma evolução no que se diz respeito aos seus dogmas.
E o Teatro do Absurdo do autor espanhol Fernando Arrabal foi o escolhido para a 11ª primeira edição do projeto "Leituras Santas", que consiste na leitura dramatizada por atores campista, on-line, pelo Instagram @santapaciênciacasacriativa. O texto para apresentação no dia 26 de agosto, às 20h, é um clássico do Teatro do Absurdo, o espetáculo "Piquenique no Front", que conta de forma bem humorada, original e absurda a história do incompetente soldado Zapo que, em combate, recebe num domingo a inesperada visita dos seus pais, o Senhor e a Senhora Tépan, para um piquenique em pleno campo de batalha. Sem entender, Zapo acompanha essa atividade familiar com acontecimentos insólitos. Entre bombas, tiros, rajadas de metralhadora, a prisão do soldado inimigo Zepo e enfermeiros farejadores de feridos, o banquete acontece com tranquilidade e regado a gentilezas. Participam dessa leituras os atores Fred Rangel, Ícaro Pinheiro, Eliana Carneiro, Phellipe Rangel, Nathan Silva e João Victor Barbosa. No apoio técnico e Videomaker, Alexandre Ferram. Direção e produção: Fernando Rossi. Realização: Santa Paciência Casa Criativa.
"Piquenique no Front", de Fernando Arrabal, é uma comédia escrita pelo autor espanhol em Madrid, 1952. A peça faz parte do estilo conhecido como Teatro do Absurdo, embora nenhum autor dessa nomenclatura jamais tenha se declarado “absurdista”. Em geral, as peças ditas do Absurdo tratam de temas como este: o inverossímil é tratado como verossímil e até com uma estranha naturalidade, a fim de expor o absurdo da situação real. A realidade, posta pelas lentes do impossível, desmonta a seriedade do tema. O que é violento no mundo real, no absurdo, se torna humor. Zapo e Zepo, os inimigos, são iguais, falam iguais, agem iguais, inclusive ouvem as mesmas histórias de seus superiores. A única diferença entre eles é a cor de seu uniforme. Esse é o motivo porque se matam. "Piquenique no Front" nos faz perceber que, mesmo depois de tantas décadas, a banalização da vida e da morte continua acontecendo nas ruas e no mundo à nossa volta. Isso comprova a genialidade desse autor. Não à toa, sua peça é uma obra prima do Teatro do Absurdo, com traduções e montagens em todo o mundo.