Joel Maciel Soares: Reflexões sobre Viveiros de Vasconcelos
Joel Maciel Soares - Atualizado em 18/08/2020 13:14
Viveiros de Vasconcelos
Viveiros de Vasconcelos / Reprodução/Autores Campistas
Merece todo o nosso aplauso o projeto da Academia Campista de Letras, sob a direção e o dinamismo de sua presidente, Dra. Vanda Terezinha Vasconcelos, de levar algumas reflexões de seus membros ao conhecimento do grande público, nesta época de quarentena.
A Academia Campista de Letras houve por bem, em sua constituição, homenagear o grande campista Viveiros de Vasconcelos, ou melhor, Sebastião Viveiros de Vasconcelos, com uma cadeira, a de número 36, ocupada por mim, Joel Maciel Soares.
Viveiros de Vasconcelos nasceu em Campos no ano de 1870, no distrito de São Sebastião, no dia 28 de setembro, uma quarta-feira de início de primavera. Seus pais foram Sebastião Viveiros de Vasconcelos e dona Ana Gomes de Vasconcelos.
Suas atividades intelectuais ganharam fama e pro-funda significação para os seus contemporâneos quando, em plena maturidade cultural e biológica, no primeiro quartel do século passado, colaborou intensamente com a imprensa, publicando versos, ensaios e artigos.
Viveiros foi, antes de tudo, um grande educador. Nós, campistas, quando mergulhamos a nossa atenção naqueles 25 anos iniciais do século 20, ficamos atônitos com a presença de grandes vultos no campo da educação.
Daí o nosso preito de gratidão a esse eminente professor, que no dia 16 de agosto assinalou a marca de 93 anos completos de seu desaparecimento físico entre nós.
Tínhamos, no começo daquele século, duas grandes entidades, que se destacavam das demais: o Liceu de Humanidades de Campos e a Escola Normal, que funcionavam juntos, no mesmo espaço. Essa dupla era na verdade um viveiro (sem trocadilho) de eminentes figuras de nosso campo educacional.
Naquele período áureo da história de nosso ensino, rico de luminares, despontaram duas figuras impares: Viveiros de Vasconcelos, lente catedrático de Português, e Cora de Alvarenga, afamada professora de Matemática. Ele assinalou sua presença com uma participação efetiva, quando fundou o Colégio Viveiros, de enorme conceito educacional, assim como no exercício do magistério e na direção do Liceu e da Escola Normal. Ela como brilhante professora de Matemática, tanto no Liceu quanto na Escola Normal. Evocamos sua presença em nossas humildes reflexões, como homenagem a uma ilustre representante da mulher campista no campo do ensino. Cora representa a colaboração inequívoca da mulher naquele início de século, lado a lado com Viveiros de Vasconcelos, e com ele dividindo as glórias de nossas mais gratas tradições.
Quando Getúlio Vargas visitou nossa cidade, no apogeu de seu poder político, nos anos 40, ele aqui chegou desembarcando de um hidroavião, que pousou nas águas de nosso Paraíba. O Paraíba, no dizer de nosso poeta Antônio Barcelos Sobral, “era um rio de águas sonhosas que sonhava e sonhar fazia. Era só a Lua nele estirar-se”.
Pois bem, Getúlio Vargas, fazendo justiça ao nosso desenvolvimento, afirmou que Campos era o “espelho do Brasil”. Naturalmente, fazia menção não só à nossa pujante indústria canavieira, ostentando mais de 20 usinas de açúcar, como também à eficiência de nosso ensino.
Viveiros de Vasconcelos e Cora de Alvarenga tinham algo em comum: eram os autores de dois livros extraordinários, adotados por todas as escolas de nossa região. Ele com o seu famoso “Verbos Portugueses e Rudimentos de Análise Léxica”, livro conciso e completo em seu objetivo, e ela com o seu “Aritmética Elementar¨, com método e inovação didáticos. Vale lembrar que Cora de Alvarenga criou um novo dispositivo para se calcular o máximo divisor comum. Tínhamos até então o método da fatoração e o que chamávamos de método das casinhas. Quando dados vários números, teríamos que examinar todos eles de dois em dois. Seu método era mais simples, porque trabalhávamos com todos os números ao mesmo tempo, como se fôssemos calcular o mínimo múltiplo comum. Era um recurso muito mais simples e prático.
No final dos anos 50, visitei a Livraria Sardinha, situada na rua Barão do Amazonas, em frente ao portão de serviço da antiga Santa Casa, já demolida. Essa livraria parece ter sido a primeira no ramo sebo em Campos e durou poucos anos. Pesquisando as suas prateleiras encontrei duas brochuras, bem pertinho uma da outra. Eram o “Verbos Portugueses e Rudimentos de Análise Léxica” de Viveiros de Vasconcelos e a “Aritmética Elementar” de Cora de Alvarenga. Comprei-os e posteriormente mandei encaderná-los, e os dei de presente ao querido amigo Professor Manoelzinho, brilhante professor de Matemática.
Viveiros de Vasconcelos, no dizer de nosso Oswaldo Lima, jornalista e escritor de saudosa memória, em seu livro Bairro do Caju, era um homem alegre, que gostava de promover festas em sua própria residência, não só para os alunos como também para figuras importantes de nossa sociedade.
Em 1927, ele nos deixou. No dia 16 de agosto de 1927, há 93 anos. Era uma terça-feira de final de inverno. Sua obra visível foi seu livro, famoso, adotado em toda a nossa região e em muitas cidades de nosso estado, e de estados vizinhos, assim como seu trabalho perseverante na preparação de um mundo melhor para seus alunos e contemporâneos. Sua obra invisível foi a construção de um ciclo glorioso de tradições no campo do ensino; foi a esteira luminosa que deixou, juntamente com outros educadores, que serviu de alicerce para o surgimento em nossa cidade de vultos notáveis no campo da educação. Seguindo o seu exemplo edificante tivemos, no segundo quartel do século passado, a presença de grandes educadores, que dignificaram nossa Campos, como Hugo Vocurca, Joadelio Codeço, João Barreto da Silva, Manoel Gonçalves dos Santos Pereira, Julia Codeço, Conceição Martins, Evangelina Guedes, Jerônimo Ribeiro, Gentil de Castro Faria, Aldano Selos de Barros e tantos outros.
Com essas palavras desejamos encerrar as nossas humildes reflexões, não sem antes agradecer o apoio de nossa presidente Vanda Terezinha, que também é Vasconcelos.
Plagiando o criador da língua internacional Esperanto, Lázaro Ludovico Zamenhof, podemos também dizer sobre o nosso Viveiros de Vasconcelos:
“Ele semeou e semeou, nunca se cansou, nos tempos futuros pensando. Cem sementes se perderam, mil sementes se perderam, ele semeou e semeou, constantemente.”
Obrigado.

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