A casa era simples, mas bem construída. Daquelas com varanda na frente e um jardim até chegar ao portão de saída.
Mantinha até hoje o banco de dois lugares, que balançava ao mínimo movimento das pernas. Fora presente de casamento. Ele e a mulher costumavam sentar-se ali para olhar o céu e conversar depois do jantar. Há tempos, isso.
E quando vieram os dois netos, frutos do casamento do único filho que tiveram, a alegria tomou conta da casa. Não moravam com eles, mas estavam sempre por lá. Gostavam porque tinha um quintal, onde uma mangueira fazia par com um pé de jambo. Colocou ele mesmo dois balanços nos galhos das árvores e os meninos adoravam brincar ali. Isto também faz tempo.
Quando as crianças estavam com dez e onze anos, os pais se separaram. O filho arrumou uma namorada e saiu de casa. Em menos de um ano, a nora mudou-se para Minas onde a família dela morava, levando seus netos. No início passou a vê-los nas férias; depois que cresceram, nem isso.
Ele e a mulher voltaram a ficar apenas na companhia um do outro. E o que é pior, desacostumados disso, arrastavam a vida.
A aposentadoria chegou e junto dela uma artrite que tolhia seus movimentos.
O filho ia vê-los toda semana sozinho, não conseguiam aceitar aquela nova nora, responsável pelo afastamento dos netos. Ainda por cima, era seca, não conseguia engravidar.
A mulher nessa época caiu numa tristeza, que não gostava nem de ver. Ele passou a esconder o que sentia fingindo ânimo, tentando fazer com que ela se distraísse.
Em novembro, tomaram a resolução de visitar os netos, que agora eram dois rapazes. Estavam na faculdade. Soube pela antiga nora, através das cartas que escrevia sempre, que um deles fazia medicina e o outro, direito. Orgulhava-se. Na última foto que receberam, estavam sorrindo ao lado de duas garotas. Foi então que pensou em visitá-los. A vida não estava fácil, mas faria um esforço e ele e a mulher iriam até Juiz de Fora.
Uma semana antes da viagem, durante o banho, sua mulher escorregou no banheiro e quebrou a bacia. Repouso absoluto por um bom tempo. Trocou a passagem de ônibus por data indeterminada e a esperança que tivera por mais uma falta de brilho no olhar.
Faltando três dias para o Natal, sentado no banco, balançando-o lentamente, olhava para o portão que não costumava abrir-se para visitas. Cochilou e depois de algum tempo foi despertado por um ruído, quando viu à sua frente, dois rapazes altos que o olhavam sorrindo. A princípio não entendeu, mas logo eles se abaixaram e o abraçaram dizendo:
— Viemos passar dez dias com vocês. Não avisamos antes. Tem algum problema?
Problema? Um rasgar de sorriso enfeitou a boca enrugada.
As mãos trêmulas se apoiaram no assento do banco procurando firmeza para que levantasse. Segurou nos ombros dos netos fazendo pressão com os dedos e empurrou-os para o interior da casa.
— Tem alguém lá dentro que vai sentir-se viva de novo. Venham.