Daniela Abreu
10/07/2020 19:31 - Atualizado em 31/07/2020 18:08
A humanidade jamais sonhou com o que 2020 reservou. Um ano que ficará marcado na história, por conta da epidemia do novo coronavírus, que trouxe consigo uma segunda epidemia, a de transtornos mentais e emocionais. Uma pesquisa recente do Datafolha, feita entre 23 e 24 de junho, aponta que dois a cada três brasileiros, 65% da população, acreditam que a pandemia está piorando no Brasil e 54% que o governo não fez o que poderia para evitar o número de mortes. Dos entrevistados, 69% se sentem inseguros com relação ao futuro e 63% se sentem tristes com a atual situação. Para profissionais, tantas incertezas têm levado as pessoas que estão confinadas, em isolamento social, a experimentarem uma avalanche emocional.
A psicóloga Alice Werneck disse que a instabilidade imposta pela pandemia tem refletido em seus pacientes.
— No começo, os níveis de ansiedade foram muito altos e agora as pessoas já estão com outro tipo de ansiedade, que é a do retorno a essa vida normal. Muitas pessoas se adaptaram mesmo a esse isolamento e agora gera ansiedade pensar no retorno. Eu percebo que o nível de ansiedade estava muito grande e que a cada momento surge um novo tipo de ansiedade para as pessoas — explicou.
A psicóloga cita ainda que o isolamento impôs novas formas de convívio social e nem todos estão acostumados às ferramentas tecnológicas disponíveis para isso. “Muita gente se sentindo culpada por não conseguir se comunicar como o desejável. E se não tem vontade ou traquejo social de se socializar dessa maneira, também se sente culpada — contou.
A profissional atendia pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e disse que o serviço está temporariamente suspenso para reordenamento, mas que vem atendendo seus 30 pacientes de forma voluntária. Segundo ela, a ansiedade para os usuários do SUS se mostra de formas diferentes. “Eu atendo pacientes pelo particular e pelo SUS e o declínio emocional para os pacientes do SUS, que em sua maioria é mais periférico, tem se mostrado muito pior, tanto pela falta de perspectiva com relação às questões financeiras, quanto a falta de acesso a informações verdadeiras, famílias inteiras fazendo medicação de prevenção que não existe, repasse de informações erradas, tudo isso eu estou visualizando no SUS e essa falta de informação gera muito adoecimento”, disse.
De acordo com Alice, as pessoas estão vivendo no campo da incerteza, com medo de contraírem a doença ou de levarem para suas casas. “São muitos vértices desse novo tipo de ansiedade”, explica ela e lembra também das várias demandas que devem ser atendidas.
Grupo de psicólogos atua voluntariamente
A pandemia da Covid-19 também revelou coisas boas. Profissionais de Araruama, Friburgo, Cabo Frio, Macaé, Rio das Ostras e Campos se uniram através do WhatsApp para atender aqueles que precisam de forma gratuita. Em Campos, a Prefeitura conta com a Escuta Voluntária e o SOS Emoções. Em média, os dois programas contabilizam 50 atendimentos por semana.
A rede voluntária surgiu através do grupo Psicólogos da Região dos Lagos, que aglomera profissionais da saúde mental em trocas de experiências e atualmente conta com profissionais de todo o interior. Eles criaram uma lista com dias e horários disponíveis e o interessado entra em contato.
A psicóloga Elisangela de Lima é uma das voluntárias. “Eu explico o mínimo que preciso para o atendimento. Geralmente, prefiro a chamada de vídeo. Explico que não é contínuo, que precisa de privacidade e, se identifico que é um problema fora da pandemia, faço um primeiro atendimento e faço um encaminhamento”, explicou ela, que disse ainda que os profissionais interessados em receber a lista podem entrar em contato com outros para participarem de um dos grupos de solidariedade e, assim, garantir o profissionalismo da ação.
Em Campos, o SOS Emoções Servidor atua em duas frentes: uma aberta aos servidores e outra específica para os profissionais da saúde. O atendimento é realizado por videoconferência através do número (22) 98114-6609, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
Já a Escuta Voluntária oferece apoio emocional à população baseada na oferta de atenção e aconselhamento para as pessoas por meio de chamadas ao vivo pelo Instagram do programa
(@psecampos) em horários definidos. A escuta é realizada por psicólogas da rede municipal e voluntárias. O programa atende às segundas (14h às 15h e 17h às 19h), terças (10h às 11h, 14h às 15h e 19h às 20h), quartas (14h às 15h e 19h às 20h), quintas (10h às 11h, 14h às 15h, 18h às 20h) e sextas (10h às 11h, 14h às 15h, 19h às 20h).