Matheus Berriel
14/07/2020 18:20 - Atualizado em 24/07/2020 18:32
Com 71 anos de idade e 63 em contato direto com telas, tintas e pincéis, o artista plástico campista José Antônio Ferraiuoli está usando a quarentena para ampliar sua produção. Sem sair de casa há mais de 110 dias, ele já pintou aproximadamente 30 aquarelas durante a pandemia da Covid-19. Entre os trabalhos, paisagens de Campos e do exterior.
— Sou, por minha própria natureza, um paisagista, o que não significa que não pinto outras temáticas. Gosto de um céu bem elaborado, tal como uma alvorada, ou um poente bem alaranjado. A Itália, terra de meu pai e avós, com seus recantos românticos, super coloridos, tem sido o meu tema favorito. E gosto de pintar a nossa cidade, a partir de fotos antigas, geralmente nas décadas de 1940 e 1950. Tenho a sorte de ser sobrinho de Patesko (o fotógrafo Gerardo Maria Ferraiouli), e dele herdei uma quantidade grande de fotos de sua autoria, que, por sua vez, me servem de inspiração — disse José Antônio Ferraiuoli.
Segundo o artista plástico, atualmente, ele está produzindo uma aquarela a cada dois dias. O curto intervalo deve-se ao rápido processo de secagem das pinturas, não permitindo retoques.
— A obra tem que ser executada “alla prima”, ou seja, de uma vez só. A pintura em aquarela é feita à base de manchas, e a superposição das tonalidades das manchas, o degradê, é que vai dar forma e volume ao trabalho. Parte-se de um suave desenho básico. Deve-se observar onde serão os claros, e esses claros não recebem tinta, preserva-se o branco do próprio papel, que é fator importante no trabalho. Quanto maior for a gramatura do papel , melhor ficará o efeito final — explicou.
Membro de grupos de aquarelistas no Facebook, José Antônio Ferraiuoli tem usado a própria rede social como meio de divulgação nos trabalhos. Em seu perfil, já foram postadas aquarelas retratando a ilha de Monte Saint-Michel, na França; a cidadela inca de Machu Picchu, no Peru; a comuna italiana de Matera; o Porto da Banca, em Campos; a enseada de Botafogo, no Rio de Janeiro; e a localidade fluminense de Visconde de Imbé, em Trajano de Morais, entre outros lugares.
— Na quarentena, com as redes sociais mais ativas, mais pessoas têm visto meu trabalho, e as encomendas aumentaram. Tenho uma meta um tanto ambiciosa: deixar um acervo para cada neto. Penso em 50 aquarelas para cada um. Sendo seis netos... Bem! Não deixa de ser uma pretensão ambiciosa. Mas, uma exposição não está fora dos meus planos. Tudo depende de como será esse futuro diferente que nos aguarda — comentou José Antônio.
Ficar em casa não tem sido problema para ele, que faz da arte um passaporte sem destino pré-definido:
— Sempre fui uma pessoa muito caseira. Logo, a quarentena não mexeu muito comigo. Não posso dizer o mesmo da minha esposa, Graça, companheira de 50 anos, que está sofrendo horrores com essa prisão forçada, segundo ela mesma diz. Mas, apesar dos pesares, temos mantido o isolamento. No meu caso, a pintura é, especialmente, uma grande válvula de escape. Durante a pintura, a mente vaga e viaja por mundos muito diferentes deste, o que acaba sendo benéfico.