Existem duas imagens do judeu: a do pré-1948 e a do pós-1948. Antes da proclamação de independência de Israel, exatamente em 1948, o judeu era visto como perseguido e injustiçado. Imperadores romanos expulsaram-no de sua sagrada Palestina entre os anos 70 e 135 d.C. É a conhecida diáspora, que espalhou os judeus pelo mundo. É curioso como os judeus transformaram substantivos comuns em substantivos próprios. Diáspora é dispersão. Vários povos foram dispersados pelo mundo por meios violentos. O mais conhecido exemplo é de habitantes africanos espalhados nas colônias europeias na América como escravos. Contudo, parece que só os judeus sofreram essa injustiça. Não é mais diáspora, mas Diáspora. Ao fundarem Israel, os judeus promoveram a diáspora de palestinos, evento pouco conhecido.
Genocídio significa o extermínio de um povo ou pelo menos a tentativa de extermínio. Os judeus passaram a usar um termo específico para o genocídio que eles sofreram sob o nazismo: holocausto. Os índios da América e os armênios, estes sob o jugo otomano, sofreram genocídio, mas poucas pessoas têm ciência desses massacres em massa.
“O Golem”, filme de 1920 dirigido por Paul Wegener na Alemanha, enfoca o velho judeu. Um velho astrólogo vê nas estrelas perigo iminente para uma comunidade judia no Império Austro-Húngaro, que não existe mais. De fato, o imperador envia um mensageiro a essa comunidade para levar uma notícia desagradável. Não é propriamente racismo o que discrimina o povo judeu, mas alguma sorte de preconceito cultural, algo que os próprios judeus alimentavam por se considerarem uma comunidade superior aos demais povos em virtude de sua religião. O próprio mensageiro, que era nobre, apaixona-se por uma judia.
Um mago judeu fabrica um grande boneco de barro. Nele é insuflada vida. O boneco é grande e forte. Como não havia muitos recursos especiais na época em que o filme foi produzido, um homem alto e forte foi caracterizado para ser o Golem, entidade integrante da cultura popular judaica. O Golem é uma espécie de Golias do bem pró-judeu. O rabino da comunidade vai ao palácio do imperador fiado na proteção do Golem, que o acompanha. O rabino apela para uma velha amizade entre ele e o imperador, por favores prestados no passado.
Era dia de festa e o Golem é apresentado em seus poderes sobre-humanos. É natural que um povo discriminado e perseguido crie heróis imaginários. Convencido dos poderes do grande boneco de barro e renovando a velha amizade com o rabino, o imperador revoga o decreto antissemita. O rabino volta para sua comunidade acompanhado do boneco de barro.
Inverte-se, então, a situação. O Golem é maltratado pelos judeus e se defende. Como trunfo, ele se apodera de uma menina. Todos temem por sua vida, mas ela, assim como Davi frente a Golias, desativa o gigante com um simples gesto, pois seu poder vital dependia de uma espécie de botão estelar em seu peito.
Originalmente, o filme tem duração de 1h24m, mas, na versão simplificada mais conhecida, a duração foi reduzida para 68 minutos. Destaca-se a fotografia do lendário Paul Wegener. Um filme recente intitulado “A lenda do Golem” foi lançado em 2019. A direção coube a Doron Paz e Yoav Paz. Pelos cenários e pelo clima sombrio, o filme de 1920 é um representante clássico do expressionismo alemão. É comum comparar a figura gigantesca do Golem ao mostro criado pelo Dr. Frankenstein, mas diferenças entre ambos são notórias.
O velho judeu era protegido por gigantes lendários, como o Golem. Hoje, o novo judeu se protege com um poderoso exército e possantes aviões e armas. As figuras lendárias podem ser aposentadas.