Com base na análise da 25ª semana epidemiológica, compreendida entre os dias 14 e 20 de junho, pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) que integram o portal Covid-19: Observatório Fluminense recomendaram hoje (24) ao governo do estado que esteja preparado para suspender as medidas de flexibilização social, caso se mantenha o crescimento da quantidade de casos de pessoas infectadas e de óbitos pela Covid-19.
Em entrevista à Agência Brasil, o professor Lisandro Lovisolo, um dos coordenadores do portal, disse que o que se tem observado, até a data de publicação do relatório, é que a quantidade de novos casos e de óbitos estão crescendo, ou seja, ainda não há uma estabilização. Segundo ele, os casos vão aumentar e será necessário tomar medidas de contenção do movimento novamente. “O movimento recente da epidemia na cidade do Rio de Janeiro indica que ela volta a ganhar força”. O professor analisou que a reabertura ocorreu de forma muito rápida. “Podia ter esperado um pouco mais”.
Lovisolo citou o exemplo do município do Rio de Janeiro, que começou a reduzir os números, mas estes voltaram a subir após a reabertura de algumas atividades. “A gente vê regiões com grande densidade de gente pelas ruas, o que demanda cuidado”, reforçou.
Para os integrantes do portal, a reabertura não foi uma boa escolha. Lovisolo disse que alguns municípios fluminenses conseguiram controlar a doença e não estão tendo mais casos. Destacou, entretanto, que se trata de cidades menores. Nova Friburgo, por exemplo, está com número caindo já há algumas semanas. Outros, como Campos dos Goytacazes, oscilam muito. Niterói, em relação a casos, tem certo controle, informou Lovisolo. Houve aumento do número de óbitos, mas reflexo de casos passados da doença. Já na capital do estado, a quantidade de casos voltou a subir esta semana. Nos últimos 7 dias, foram mil casos por dia, no município do Rio de Janeiro, onde a mortalidade é muito grande. “Já morreram quase mil (pessoas) por um milhão de habitantes. Pouco menos do que isso”.
Para o professor Américo Cunha, também pesquisador da Uerj e integrante do portal, a evolução de casos voltou ao do estágio mais grave da doença, em meados de maio. Por isso, ele defendeu que já seria o momento adequado para se voltar a fechar a economia e os preparativos para que isso aconteça deveriam ser iniciados a partir de agora.
Alguns municípios brasileiros apresentam declínio há algumas semanas. Mas Lovisolo insistiu que, no caso da cidade do Rio de Janeiro, em especial, é necessário tomar cuidado. Com base no panorama traçado pela análise gráfica dos dados, a equipe de pesquisadores mantém as recomendações feitas nos relatórios das últimas semanas epidemiológicas. Alertam ainda as autoridades estaduais no sentido de que qualquer estratégia de abertura eficiente deve contemplar a possibilidade de se proceder a um fechamento imediato caso ocorra uma escalada no número de casos, com posterior aumento dos óbitos.
Como o estado apresentou ao longo dessa 25ª semana uma aceleração do contágio, os pesquisadores estimam que a curva de mortes deve apresentar também evolução nas próximas semanas. “Se esse aumento nos casos persistir por muito tempo, os efeitos em termos de mortalidade podem ser catastróficos, como mostra a experiência recente. Dessa forma, recomenda-se fortemente às autoridades de saúde do estado do Rio de Janeiro que comecem a se preparar para a suspensão do processo de relaxamento das medidas de mitigação da epidemia”, aponta o relatório.
Lisandro Lovisolo analisou que o estado do Rio de Janeiro tem índice baixo de testes. Afirmou que a ideia de aumentar a quantidade de testes objetiva que haja consciência maior para a população saber como está a situação geral e destacou que o número real de casos deve ser dez vezes maior do que é noticiado. “Isso quer dizer que tem muito mais gente doente. A ideia do teste é você controlar a questão na comunidade como um todo. Se você sabe que tem a doença vai evitar contaminar mais pessoas ainda”.
O relatório recomenda que se aumente a quantidade de testes por 100 mil habitantes, incluindo na amostra, se possível, indivíduos de outros grupos epidemiológicos (suscetíveis, expostos, infectados assintomáticos, entre outros). A máscara também ajuda muito, mas o problema é que se vê muitas pessoas sem máscara pelas ruas, advertiu o pesquisador da Uerj.
De acordo com o relatório, as medidas de reabertura das atividades precisam considerar uma premissa básica, que é a redução do número de casos. Elas demandam ainda que regras básicas de higiene sejam publicadas com bastante antecedência, de modo a poderem ser adotadas de maneira massiva pela população.