Joseli Matias
12/06/2020 19:49 - Atualizado em 24/07/2020 18:40
Uma boa notícia para a região em meio à pandemia de Covid-19: a Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro (Coagro) iniciou no dia 4 de junho a moagem da safra 2020 com uma expectativa de aumento de até 40% na produção de açúcar e etanol, em comparação com 2019. Oitocentas mil toneladas de cana serão processadas pela Coagro neste ano. Em contrapartida, a Usina Nova Canabrava, que produz exclusivamente etanol hidratado, não trabalha com uma estimativa otimista, frente à queda histórica no valor da commodity. Mas a direção da usina espera uma reação do mercado no próximo mês. Na região, a produção está estimada em 1,6 milhão de toneladas de cana, com geração de cerca de 4,5 mil empregos diretos.
Com o mercado internacional aquecido, o que, consequentemente, favorece o mercado interno, a Coagro se programou desde o início do ano para produzir açúcar. Com a pandemia de Covid-19, o açúcar estabilizou e o etanol caiu, mas reagiu nos últimos 15 dias, o que levou a cooperativa a investir em uma safra 50% de açúcar e 50% de etanol.
De acordo com o presidente da Coagro, Frederico Paes, o mercado do açúcar está interessante, porque remunera bem a cana. O preço, inclusive, está melhor do que no ano passado, segundo Frederico.
— Este ano a produção será entre 35% e 40% maior que a safra passada. Tivemos um período climático bom, com chuva distribuída e em volume satisfatório. Também tivemos um bom plantio. Os preços estão bons. Com a chegada do coronavírus algumas usinas pararam de moer, como em São Paulo, porque o mercado de combustível retraiu. Mas, está voltando e deve estabilizar — ressaltou o presidente da cooperativa.
Frederico afirma que a retomada do setor aconteceu no ano passado, quando os produtores voltaram a plantar motivados pelo bom clima. “A safra será muito boa, porque temos produção boa e preço bom. Tem espaço para crescer e as usinas têm potencial para moer o dobro, tanto a Coagro quanto a Canabrava”, explicou, ressaltando que a expectativa é positiva para os próximos dois ou três anos.
— Estamos na fase de crescimento. O Brasil está sendo sustentado pelo agronegócio. É o presente e o futuro do país. Hoje, passamos de 20% do PIB nacional. Nos últimos cinco anos, foram investidos R$ 35 milhões na compra de equipamentos, máquinas, modernização do parque industrial. Estamos nos preparando para o fim da queimada, mas sempre preocupados com as questões ambiental e social — esclareceu Frederico, lembrando que, em dois anos, a Coagro irá reabrir a indústria Paraíso, em Tócos. Em maio de 2019, a usina Paraíso foi incorporada ao Grupo MPE, que controla a Usina Sapucaia, hoje arrendada pela Coagro.
Na Usina Nova Canabrava, a moagem teve início em 17 de abril e deverá se estender até novembro. Segundo a direção da empresa, embora o último ano não tenha sido de forte seca e nem de chuvas em abundância, beneficiando as lavouras da cana-de-açúcar, o setor sucroalcooleiro da região Norte Fluminense vive o reflexo da pandemia do novo coronavírus, com oferta de matéria prima, mas com o preço do etanol registrando baixas históricas. E, apesar do etanol hidratado (combustível) estar mais barato, houve uma queda acentuada nas vendas por conta das medidas de isolamento social, refletindo diretamente na fabricação do produto. A expectativa do setor é de uma reação no mercado para o mês de julho.
— A qualidade da cana-de-açúcar na safra deste ano registra uma melhora considerável. Não tivemos fenômenos naturais, como seca ou muita chuva, e o índice pluviométrico ficou no nível satisfatório para uma boa safra. No entanto, atravessamos uma baixa histórica no preço do etanol e com a redução no valor da gasolina, atingindo o menor da história no mercado internacional, isso faz com que o etanol sofra perda em competitividade e, consequentemente, registre preços em queda. Esperamos que o mercado se recupere e possamos reagir em produção — afirmou o diretor da Usina Nova Canabrava, Rodrigo Oliveira, destacando que o preço do etanol hidratado acumula uma forte baixa, de 31,9% nos últimos 30 dias.
Setor gera 4,5 mil empregos diretos
O setor sucroenergético gerou cerca de 4,5 mil empregos diretos na região. “Na Coagro, foram gerados três mil postos diretos de trabalho, nos setores de corte, embarque, indústria e administrativo. Praticamente dois mil novos postos de trabalho na safra. Não só Caged da Coagro, são várias empresas que contratam para trabalhar na Coagro”, ressaltou o presidente da cooperativa, Frederico Paes. A Nova Canabrava chega a uma média de 1,5 mil empregos diretos nesta safra.
A boa qualidade da cana, segundo a Coagro, proporcionará uma safra mais longa, o que representa mais um mês de trabalho para as famílias que dependem do setor.
Ações preventivas garantem operação
A pandemia de Covid-19 não interferiu no funcionamento das indústrias sucroalcooleiras na região, atividade considerada essencial, pela produção de combustível e item alimentício. “Especificamente nesta safra, tivemos que nos reinventar mais uma vez. Nossa atividade é considerada essencial, não somente como a estratégica do país, que é a produção de combustível para abastecer os veículos, mas para combater o coronavírus, onde o álcool 70% é usado na desinfecção de hospitais e para uso pessoal das pessoas”, ressaltou Frederico Paes.
Para evitar a contaminação de seus funcionários e manter o funcionamento dos parques industriais, as usinas adotaram medidas de segurança sanitária. Entre elas estão a desinfecção dos ônibus que fazem o transporte dos trabalhadores, disponibilização de álcool 70% nas usinas e nos ônibus, distribuição de máscaras aos funcionários e exigência do seu uso, aferição de temperatura dos trabalhadores e afastamento por férias de colaboradores do grupo de risco.
— Seguimos atendendo às medidas sanitárias, trabalhando com prevenção e conscientização dos nossos colaboradores, distribuindo equipamentos de proteção, destacando a importância da higienização e otimistas de que com a flexibilização das medidas de combate à Covid-19, o setor reaja — concluiu Rodrigo Oliveira.
Durante a pandemia, a Coagro fez uma doação de 10 mil litros de álcool 70% à Prefeitura de Campos e de mais de 1 mil litros a diversas entidades filantrópicas, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, hospitais e asilos. Com o início da safra, mais 10 mil litros de álcool serão doados à Prefeitura.
A Canabrava também vem ajudando os municípios da região, como Campos, São Francisco de Itabapoana e São Fidélis, com a doação de álcool 70%, destinando às unidades de referência no tratamento do coronavírus. Semanalmente, cerca de 800 litros de álcool 70% líquido são encaminhados à Prefeitura de Campos, que distribui aos hospitais filantrópicos e da rede pública, como Hospital Geral de Guarus, Santa Casa de Misericórdia e Beneficência Portuguesa.