Em toda parte do mundo, os médicos sempre contribuíram para a cultura da arte, em suas diversas modalidades. Essa afinidade entre a medicina e as letras já é conhecida há muito tempo. O gosto pela poesia acompanha a profissão médica desde os seus primórdios. Hipócrates, o pensador de Cós — ilha Grega-onde nasceu em 460 A.C. —, talvez a mais nobre figura da história da medicina, deixou uma obra literária que possui verdades até hoje aceitas pela ciência moderna, mas também permeada por inspirações filosóficas e poéticas. Sua ética médica está resumida no juramento que prestam, até hoje, os médicos antes de iniciar o exercício da arte de curar (Juramento de Hipócrates). Na Itália, os médicos reúnem-se na “Associazone Medici Italiani Artisti”, da qual somente podem participar aqueles que, além de médicos, sejam, ao mesmo tempo, romancistas, contistas, biógrafos, historiadores, teatrólogos, filósofos, jornalistas, músicos, pintores, escultores e/ou poetas. Na Europa, nasceu a Sociedade Mundial de Médicos Escritores.
O velho preconceito de que o culto das letras não é compatível com a prática da profissão médica tem, por meio dos tempos, as mais brilhantes contestações em todo o mundo. Não a contestação pelos argumentos, mas a contestação pelos fatos. Com efeito, o romancista inglês Conan Doyle, com o seu Sheloch Holmes, foi mais famoso do que como oftalmologista; Cronin, como escritor, é conhecido no mundo inteiro, mais do que como médico; o príncipe da literatura portuguesa é o nosso poeta Júlio Dantas (poeta e teatrólogo); e temos dezenas de outros colegas por toda parte do mundo que podem fazer parte deste contexto.
No Brasil, não foi diferente, a afeição dos médicos pelas letras vem de longe: Martins Fontes, Luiz Delfino, Aloysio de Castro, Afrânio Peixoto — notável médico baiano (genro de Alberto de Faria, o terceiro campista a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras) —, Lopes Rodrigues, Jorge de Lima, Ciro Vieira, Pedro Bloch — médico pioneiro da foniatria do Brasil, mas é mais conhecido como teatrólogo e, como tal, o mais traduzido e representado dos autores brasileiros em todo o mundo. Somente sua “As mãos de Eurídices” foi vivida por milhares de dezenas nos palcos de todos os continentes —; João Guimarães Rosa, diplomado em medicina pela Universidade de Minas Gerais, foi, sem dúvida, um dos maiores nomes da literatura contemporânea da língua portuguesa.
No Brasil, no início da década de 1960, foi criada a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (Sobrames). Em 1965, foi fundada a Regional Rio de Janeiro, depois vieram as outras.
Aqui se verificou o mesmo. A história da intelectualidade campista muito deve aos médicos. Foi Francisco José Alípio, em 1831, o redator do primeiro jornal; Francisco Portela, piauiense, que adotou Campos como sua terra natal, foi jornalista de grandes méritos; Silva Ultra, poeta e dramaturgo; Teixeira de Melo (José Alexandre), um dos maiores poetas do Brasil, era também prosador, e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (1897); Gregório de Miranda Pinto, poeta e jornalista, membro da Academia Imperial de Medicina; José Sampaio, autor do heroico poema “Riachuelo”; Matos Prego, poeta inspirado e orador eloquente; Phocion Serpa, um dos grandes biógrafos da nossa língua.
A nossa gloriosa Sociedade Fluminense de Medicina e Cirurgia (SFMC, a mais antiga do antigo Estado do Rio), fundada em 24 de janeiro de 1921, teve como seu primeiro presidente um dos mais famosos poetas líricos da planície, Inácio de Moura. O vice-presidente, na época, Benedito Gonçalves Pereira Nunes, além de ter sido um grande político, era um homem dotado de grande cultura. Eloquente orador.
Há 70 anos, em julho de 1949, o nosso colega Barbosa Guerra, um dos maiores memorialistas da planície, dizia, em um discurso na SFMC: “Atualmente, na Academia Campista de Letras (ACL), os médicos ocupam a maioria das cadeiras”, citando o próprio e mais outros nomes que serão biografados no nosso trabalho.
Em 2018, solicitei ajuda ao presidente da época da ACL, Herbson Freitas, com certeza, o acadêmico que mais conhece sobre a história da nossa Academia, desde o tempo do presidente Godofredo Tinoco. Mesmo antes de ser acadêmico, ele era um frequentador assíduo, ora como convidado, ora como membro efetivo da Academia Pedralva de Letras e Artes, e ora como admirador das palestras ali realizadas. Ele nos forneceu uma lista de médicos e informou que a ACL, infelizmente, não possui, na sua secretaria, nenhum documento que contenha a admissão de sócios. Nós sabemos que, na gestão do professor Américo Rodrigues da Fonseca Filho, cuja posse ocorreu em julho de 1984, com o objetivo de minimizar uma leve crise e ativar o quadro de sócios, foram convidadas algumas figuras ligadas à cultura e à história de Campos. Não houve eleição, foram convidados. Eu sou um deles, e costumo afirmar que não fui eleito, entrei pela “janela”. Ao contrário, a Dra. Vanda Terezinha Vasconcelos, minha parceira neste trabalho, foi eleita democraticamente, e, por sinal, minha afilhada.
Com todos os dados que conseguimos na nossa pesquisa, organizamos, por ordem alfabética, a seguinte lista de médicos que pertencem ou pertenceram à Academia Campista de Letras como membros efetivos:
Abelardo do N. Vasconcelos
Acyr Bello de Campos
Alberto José Sampaio
Antônio Pereira Nunes
Antônio Roberto Fernandes
Dióscoro Vilela
Ewerton Paes da Cunha
Henrique Meirelles Caspary
Jamil Ábido
José Felix de Sá
Manuel Alberto B. Guerra
Mário Ferraz Sampaio
Nilson Cardoso de Souza
Oswaldo Luiz Cardoso de Melo
Renato Alves Moretto
José Rufino de Carvalho Filho
Sebastião José Siqueira
Vanda Terezinha Vasconcelos
Walter Siqueira
Welligton Paes
Wilson Paes