Vou repetir a crônica a baixo, não por falta de assunto com a minha cidade, mas por eles serem sempre os mesmos. Desde o início do governo fala-se em terminais intermodais. Nem mesmo um terminal de bicicletas atrás da rodoviária Roberto da Silveira, temos. Já tive várias estagiárias que vêm de ônibus dos distritos e que adorariam poder encontrar na rodoviária sua bicicleta dando-lhes mais rapidez e descongestionando os ônibus. Mas, chega. Vamos repetir a crônica como quem repete a leitura de um livro, um filme ou um quadro.
Em cerca de 15 dias, uma pequenina cachorra abandonada foi motivo de alegrias e tristezas. Começou com a ligação do namorado de minha filha, que perguntou à mãe da enteada de meu filho, cuja filha aniversariava, se poderia dar-lhe de presente o animalzinho. Fato consentido, no mesmo dia familiares já davam opiniões contrário e de apoio ao presente. O fato é que, no dia seguinte, a minha nora disse ao meu “genro” que havia se arrependido do presente. Então, ele, com sua peculiar sinceridade, respondeu-lhe que, quando a Madona ficasse curada, os dois a levariam ao CCZ. O fato é que havia dias que a cachorra melhorava com o tratamento, alegrando principalmente à minha filha, que passou a zelar por ela com todo seu afeto. Havia até a brincadeira de que ela gostava mais de mim, pois quando me via balançava o rabinho em 78 RPM e 33 RPM para os outros. Mesmo quando estava recaída.
Um dia, depois de ver minha filha sorrindo ao brincar com ela, a vi chorando, dizendo que a cachorra iria embora. Disse-lhe que isso só aconteceria quando ela parasse de chorar. Consegui mais um dia de sorrisos iluminados de minha filha. Até o dia que me comunicou que a Madona estava num centro veterinário. No dia seguinte, me telefona com uma voz que já pressentia o que iria me contar: ela morreu. Pouco tempo depois, me pergunta se poderia enterrar em meu quintal. Disse-lhe que era claro que sim, pois a casa, o lar, era dos meus filhos, e a Madona também me havia feito por instantes feliz. Primeiro por ver a felicidade em minha carinhosa filha. Segundo, por ver um ser vivo se alegrar com a minha companhia. Depois, escolheu um lugar para enterrá-la. Perguntou-me se havia alguma fossa nos fundos, o que fez ela conhecer melhor a história de nosso lar.
Em 1981, a casa ficou totalmente pronta, no primeiro condomínio fechado da cidade. No entanto, sua urbanização estava incompleta. Ppor isso, fiz uma fossa na frente para, quando a rede de esgoto passasse, fizéssemos sua ligação. Também não havia luz, que consegui com o então secretário estadual de Minas e Energia, José Maurício Linhares Barreto. A construtora do condomínio não mais existe, assim como seus saudosos donos.
O fato é que a história da cachorra Madona já me fez esquecer dos acontecimentos ruins, e ainda penso nos gestos carinhosos da minha filha, do seu namorado e na sua alegria quando nos via.
Ronaldo Linhares é arquiteto.