Edgar Vianna de Andrade
01/06/2020 16:57 - Atualizado em 17/06/2020 18:12
Nas proximidades de uma pacata cidadezinha do interior norte-americano, um objeto voador não identificado se choca contra o solo. Nos filmes estadunidenses, é muito comum que eventos de alcance mundial comecem em pequenas cidades. Elas sempre contam com invejáveis viaturas da polícia e dos bombeiros. Autoridades e voluntários correm para o local. Trata-se, aparentemente, de um meteoro. Voluntários apagam o fogo. Um cientista é logo convocado para opinar. Segundo ele, se fosse um meteoro, uma cratera profunda se formaria com a colisão e isto não aconteceu. Quem interpreta o cientista é Gene Barry, artista que imortalizará o caubói da série Bat Masterson, não fazendo muito mais que isso. Logo aparece a mocinha mais bela e mais frágil da cidade. Seu nome é Sylvia, desempenhada por Ann Robinson. Ele já morreu, mas ela segue viva com 91 anos. É uma das incríveis mulheres. Sabe dar estridentes gritinhos de pavor.
Mas, atenção! Algo de move no corpo celeste ainda fumegante. Uma tampa se abre e um periscópio aparece. Não se trata de um meteoro, mas de um casulo abrigando naves espaciais. Um narrador onisciente explica que os habitantes de Marte examinam os planetas do sistema solar há bastante tempo a fim de escolher um que possa lhes fornecer recursos, já que os deles estão se esgotando. Portanto, os invasores são marcianos. Notar que a década de 1950 é marcada por temores de invasões, pois a Segunda Guerra Mundial deixara fortes recordações. Além do mais, a Guerra Fria estava em curso. Tanto que o início do filme mostra cenas das Primeira e Segunda Guerra Mundiais, além da explosão da bomba atômica no Japão.
Impiedosamente, as naves espaciais que saem do corpo celeste exterminam os que desejam paz com os invasores. O exército é mobilizado. A calmaria da cidade é interrompida pelo acontecimento imprevisto. As naves avançam e o exército reage com bazucas, mísseis, tanques e canhões. Protegidas por campos magnéticos, as naves nada sentem e eliminam os armamentos dos terráqueos. Nem mesmo uma bomba atômica consegue detê-las, detonada diante de humanos sem nenhuma proteção que nada sofrem com a radiação derivada da explosão. Poucos conseguem sobreviver, entre eles, o mocinho e a mocinha. Eles dormem juntos, mas nada acontece. O clima em torno e na década de 1950 não era favorável a romances picantes.
Um ET invade a casa em que o casal se refugia e o cientista consegue matá-lo. O corpo é levado a um laboratório. O exame de sangue revela anemia. Embora os Estados Unidos figurem com centro da invasão, o mundo todo é atingido por bólidos contendo naves. O massacre é geral. Cidades evacuadas e arrasadas. De repente, um cessar fogo inesperado. As naves se chocam contra prédios e caem. Os marcianos foram derrotados. Não pelas forças armadas e pela bomba atômica, mas por bactérias patogênicas para as quais a humanidade adquiriu anticorpos. Os poderosos armamentos foram inúteis. Organismos unicelulares, sem qualquer noção de que existem e de que são perigosos, salvaram a humanidade. Foram os verdadeiros heróis.
Essa a síntese do filme “Guerra dos mundos”, de 1952, com direção de Byron Haskin. A base para o roteiro foi o livro de mesmo nome escrito por H.G. Wells no final do século XIX. Em 1938, Orson Welles simula a invasão da Terra num programa de rádio, lendo páginas de Wells. A narrativa foi tão convincente que os ouvintes entraram em pânico. O filme de 1952 é um marco da ficção científica cinematográfica por valer-se de recursos especiais muito avançados para a época. Trata-se de uma película colorida em boa definição num tempo em que a maioria dos filmes era em preto-e-branco. Steven Spielberg dirigirá uma nova versão em 2005, sem muitos acréscimos à trama.
Em tempo de pandemia, é ilustrativo revisitar o filme.