Mérida com nome à disposição do PSC
29/05/2020 20:03 - Atualizado em 03/06/2020 19:15
Presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL) do Rio de Janeiro, Marcelo Mérida diz que ainda não é o momento de discutir nomes para o pleito deste ano. O motivo é a pandemia do novo coronavírus. E o enfrentamento à Covid-19, em todas as esferas, é visto por ele com falta de diálogo. Mérida ressalta que essa tem sido a tônica dos políticos até mesmo antes da atual crise. No tabuleiro municipal, levantou dúvidas quanto ao calendário eleitoral, mas garantiu querer incluir o PSC na disputa à Prefeitura e que o seu nome está à disposição do partido. Contestado sobre alianças e uma possível aproximação com o clã Garotinho, o empresário reafirmou ser muito cedo para esse tipo de discussão. Já quando questionado se sua candidatura poderia ser uma linha auxiliar ao deputado federal Wladimir (PSD), foi enfático: “Para quem conhece minha trajetória de vida, essa pergunta nem cabe”.
Folha da Manhã — Como você avalia o avanço do coronavírus e as respostas de Campos, do Rio de Janeiro e do país diante da pandemia?
Marcelo Mérida — Eu sou empresário e acredito que dialogar é construir resultados, se você ouve e aproveita sugestões, toma decisões efetivas, assertivas, com respostas rápidas. Eu vejo infelizmente que a política e os políticos têm atrapalhado mais do que contribuído no combate ao coronavírus, por se fecharem para as propostas da comunidade, por se dedicarem a alimentar polêmicas e discussões acessórias, que são menores do que as urgências do povo. Não é uma deficiência da política ou dos políticos apenas neste momento de crise, mas infelizmente tem sido essa tônica ao longo dos últimos anos, tem faltado muita maturidade em todas áreas, para gerar empregos, melhorar a educação, entregar benefícios à população, com uma forma mais madura de fazer política.
Folha — Além de político, você é empresário e atual presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL) do Rio de Janeiro. Nesta pandemia, indústria e comércio, assim como os trabalhadores informais (mesmo sem a carga tributária dos demais), são os primeiros a sentirem os reflexos econômicos. Como avalia as ações dos governos, em todas as esferas, para atenuar os impactos na sua categoria?
Mérida — Eu sou empresário, eu estou presidente da Federação de lojistas de meu estado e sempre busquei espaço de fala e decisão do setor produtivo junto às esferas de poder, por isso estou na política. Eu acho que esse é um cenário único, vivido por todos os países do mundo, porque nunca houve uma crise global, envolvendo saúde pública, ordem social e atividade econômica ao mesmo tempo. O setor produtivo está morrendo em todo o Brasil, com falta de sensibilidade dos governos e excesso de burocracia. As micro e pequenas empresas captaram apenas 8% de todo o crédito oferecido no Brasil durante a crise, em função de exigências impossíveis de serem cumpridas, lentidão e da burocracia pública. Os governos têm que ser mais efetivos, agir mais rápido e ter compromisso com os segmentos econômicos que geram milhões de empregos nas cidades brasileiras.
Folha — A pandemia também colocou um político de proa do seu partido, o governador Wilson Witzel, no centro de um escândalo de corrupção envolvendo compras sem licitação, justamente para o combate à Covid-19. Inclusive o hospital de campanha de Campos está em investigação. Como você avalia o desenrolar dos fatos e os impactos que eles podem trazer para as eventuais campanhas do partido por todo estado, inclusive a sua?
Mérida — Eu venho de uma escola em que as instituições são maiores do que as pessoas. A questão do hospital é um clamor urgente que não pode esperar mais. É necessário que seja pautado e implantado imediatamente. Estamos em um Brasil em que denúncias surgem a todo momento envolvendo diversas gestões. Eu entendo que a Justiça e todo aparato disponível deve investigar com transparência, tornar claro suas bases e motivações legais, e oferecer o amplo direito ao contraditório. Em Campos, eu não discuto sobre nomes ou partidos, mas sobre ideias. A gente segue dialogando com a sociedade, conversando com pessoas que representam segmentos, como professores, jovens, empreendedores, trabalhadores, com a academia, com profissionais e dirigentes da rede de saúde, com atores da atividade econômica. Aprendendo e exercitando o ato de além de ouvir muito, aproveitar a contribuição das pessoas, para construir juntos um projeto para uma Campos mais desenvolvida, com mais empregos, com inclusão social, uma Campos mais moderna.
Folha — Witzel chegou a dizer que a operação Placebo teve interferência do presidente Jair Bolsonaro. Acredita nessa possibilidade? E sobre essa briga pública entre eles, tendo como pano de fundo as pretensões para 2022, qual é a sua opinião?
Mérida — O Brasil vive um acirramento muito forte das posições de diferentes políticos e de seus grupos, e isso deixa um saldo negativo para a sociedade, que paga um preço muito alto dessas brigas. Em plena crise da pandemia do corona vírus, crise social, crise econômica, antecipar 2022 é uma covardia da classe política com a população.
Folha — A receita sobre a produção de petróleo, mesmo em queda, ainda é a principal fonte de recursos da Prefeitura. Além disso, há possibilidade de redistribuição, já que o atual modelo é mantido por uma liminar do Supremo Tribunal Federal (STF). Como administrar Campos com royalties escassos?
Mérida — Eu sou um lojista, um empreendedor, e aprendi que administrar é tomar decisões. É preciso ser firme. Primeiro fechar o ralo, conter as sangrias das gestões temorosas, da má gestão, da corrupção se houver, ou seja, administrar. No passado se dizia que o problema de Campos não era dinheiro, era administração. Hoje é administração e também falta de recursos.
Folha — Muito se fala que no período de fartura dos royalties, entre os governos Arnaldo Vianna (PDT) e Rosinha Garotinho (Pros), houve desperdício de recursos e inchaço da máquina. A folha da Prefeitura gira na casa de R$ 1 bilhão, segundo a atual administração. O orçamento para 2020, que não previa a crise, estimava receita em cerca de R$ 1,8 bilhão. O que sobra não é pouco para todos os outros serviços? Qual a sua proposta para essa equação?
Mérida — O PSC Campos tem conversado com várias pessoas, técnicos, economistas, pesquisadores, e todos são unânimes em afirmar: não há solução mágica. É preciso, como disse, eliminar gargalos, cortar a sangria, evitar a má gestão de recursos. E não vamos tomar decisões sozinhos, definir prioridades sozinhos, vamos repactuar a administração com a sociedade civil, com os demais poderes, o Judiciário e o Legislativo. Para o pós-2020, o pós-pandemia, o país vai ter que passar por ações de pós-guerra, um plano de reconstrução nacional. Vão ser necessários investimentos públicos, ações governamentais, que tendem a colocar cidades do porte de Campos em um cenário de prioridades para o desenvolvimento. E vamos discutir com a sociedade e construir com ela um plano para aproveitar esse ambiente, para gerar resultados.
Folha — A saúde pública parece ser o calcanhar de Aquiles de todas as administrações, em todas as esferas, há muitos anos. Qual a sua avaliação do setor e o que propõe para mitigar as possíveis falhas?
Mérida — É preciso rever os números e os projetos, entender porque o dinheiro aplicado não gera o resultado que a população precisa: por ano são em média R$ 800 milhões gastos pela Prefeitura de Campos apenas com a Saúde. Um montante que muitas cidades de porte médio não têm como Orçamento total. É preciso responsabilidade com o dinheiro público, ou seja, o dinheiro do cidadão. É preciso rever o consórcio regional da saúde, ampliar parcerias. E usar melhor a relação com os hospitais contratualizados, nossos hospitais filantrópicos, e a experiência de gestão e de atendimento que têm. Buscar os recursos federais de uma forma mais assertiva, com planejamento. O PSC Campos tem conversado muito com os profissionais de saúde, médicos, para construir uma proposta sólida para essa área.
Folha — Já falamos sobre sua experiência empresarial. Na política, além de candidato a deputado federal em 2018, você já foi vice-prefeito de Italva. São realidades totalmente distintas — território, população, custeio da máquina, arrecadação. De que forma a experiência como gestor público do pequeno município do Noroeste Fluminense o auxiliaria em um eventual mandato em Campos?
Mérida — Eu fui presidente da CDL de minha cidade, uma honra, estou presidente da Federação das CDLs do Estado do Rio, estou vice-presidente da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas. Dialogo toda hora com atores públicos e privados de todos os níveis, de todos os estados e esferas. Sou empresário, estou dirigente lojista, e a política foi uma forma de dar voz a uma classe que ao longo dos anos não está sendo escutada nas esferas federal, estaduais e municipais. Mas eu não sou nenhuma dessas experiências isoladamente. Eu faço 50 anos em 2020, vividos intensamente e aprendi muito com as pessoas. Eu sou a soma dessas vivências, da educação que tive de meus pais, dos valores éticos e morais que me passaram, de minha formação profissional. A minha visão de gestão pública é a da aplicação correta dos recursos para gerar resultados para a sociedade, com diálogo, agregando pessoas e ideias. 
 
 
Folha — O PSC tinha a vereadora Rosilani do Renê como representante na Câmara de Campos. Na janela partidária, quem entrou foi o vereador de oposição Eduardo Crespo. Como você, ele esteve no primeiro escalão do governo Rosinha Garotinho. Crespo continua, em seus posicionamentos, alinhado com o clã. A entrada dele na legenda sinaliza uma aproximação com o deputado federal e pré-candidato a prefeito Wladimir Garotinho (PSD)?
Mérida — O partido tinha em Campos a vereadora Rosilani do Renê e o vereador Genásio (que foi para o PTB). A chegada do Eduardo Crespo foi muito bem-vinda, um quadro extremamente técnico, que representa um setor importante, o da agricultura, que pertence à academia, que é da Uenf. Respeitosamente a gente tem conversado, alinhado ações, propostas, e é um quadro do PSC Campos que com outros nomes tem contribuído muito.
Folha — Não foi só a chegada de Crespo. Tem o fato de o deputado estadual Bruno Dauaire, aliado de primeira hora de Wladimir, estar na legenda, e o próprio deputado federal listar o partido entre os do seu grupo. Tudo coloca em dúvida se haveria possibilidade de uma candidatura do PSC na majoritária. Você continua pré-candidato? Há respaldo nos diretórios estadual e nacional?
Mérida — O Bruno Dauaire é um deputado estadual que tem atuado muito pela região, um quadro de muito valor do partido. Agora não estamos discutindo nomes, o PSC Campos tem debatido ideias, propostas, ouvindo vários setores da cidade para escutar, falar, dialogar, sobre caminhos de retomada do desenvolvimento. Meu nome está à disposição do partido, mas temos falado das eleições com os diretórios nacional e estadual primeiro sob essa ótica de contribuir com ideias, deixar nomes de uma candidatura para o momento seguinte.
Folha — No grupo citado pelo deputado, além de PSC e PSD, constam o Pros e o Podemos. Em entrevista ao Folha no Ar, dia 18, a deputada federal Clarissa Garotinho, presidente estadual do Pros, afirmou que seu partido terá candidato a prefeito de Campos, caso Wladimir não seja o nome do grupo. Você é presidente do PSC no município. Há acordo com esses partidos ou outros? Como vê a postura de Clarissa neste caso?
Mérida — Eu preciso dizer que o cenário todo é muito confuso, por causa da pandemia, que deve exigir de todos essa dedicação intensa ao enfrentamento da crise nesse momento. Na realidade, o Tribunal Superior Eleitoral tem ainda muitas dúvidas sobre calendário, adiamento do pleito, prazos. Acho que é muito cedo para falar de alianças partidárias. Na verdade, eu até me sinto extremamente desconfortável de falar de eleições com tudo que isso que estamos passando, com o debate sobre vidas, sobre empregos, essa crise toda do coronavírus. Entendo que o momento propício chegará para falar de alianças.
Folha — Na eleição de 2008, a candidatura a prefeito do ex-deputado federal Paulo Feijó (PL) foi vista como auxiliar à Rosinha. Há possibilidade de isso se repetir em 2020 com você e Wladimir?
Mérida — Para quem conhece minha trajetória de vida, essa pergunta nem cabe. Para quem não conhece, já demonstrei na minha história a fidelidade ao que acredito e ao que vivo. Já somei esforços em diferentes frentes partidárias, nunca fugindo do que acredito. Eu tenho um apreço pelo amigo, pelo cidadão Paulo Feijó, um dos deputados federais que mais trabalhou por Campos e região, mas a ele cabe falar sobre as decisões que já tomou na política. Eu sigo com o meu compromisso de contribuir de forma clara com ideias para uma Campos melhor. O nosso caminho é o de marcar posição nessas eleições, de ocupar com protagonismo um espaço de proposição muito clara, muito forte, de diálogo, unindo os setores que não são ouvidos, para apresentar um programa de recuperação econômica e social de Campos.
Folha — O cenário em Campos vai se desenhando com nomes já conhecidos — como o prefeito Rafael Diniz (Cidadania), Wladimir, Caio Vianna (PDT) —, além de estreantes. Como você avalia o panorama para disputa à Prefeitura?
Mérida — Vamos incluir no cenário a candidatura do PSC também, que está se preparando, conversando com vários segmentos da sociedade, não em torno de nomes, mas de ideias. Mas no atual momento, como eu já disse, não é nem adequado nesse cenário de crise falar de eleições. Mesmo que ainda estejamos próximo da data original das convenções, em junho, hoje tudo pode mudar, por causa dessa crise com a pandemia, com as eleições podendo até serem transferidas para o fim do ano. Para mim, o importante mesmo é continuar construindo com as pessoas, de diferentes segmentos, nessa fase, um programa para fazer Campos voltar a ter empregos, indústrias, comércio ativo, uma economia mais forte, com melhor gestão dos recursos para atender às necessidades da população.

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