Uma manifestação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e comerciantes de Campos, neste domingo (17), contra o decreto de lockdown, que começa a vigorar no município nesta segunda-feira (18), reuniu cerca de 150 pessoas e terminou com três participantes detidos por infringirem uma determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa — neste caso, as medidas de prevenção ao novo coronavírus. Eles foram conduzidos para a 134ª Delegacia de Polícia (Centro). Todos foram autuados, assinaram termo circunstanciado, e, na sequência, liberados. Segundo o artigo 268 do Código Penal, a infração prevê detenção, de um mês a um ano, e multa.De acordo com o prefeito Rafael Diniz (Cidadania), a medida extrema de isolamento social foi adotada após 100% dos leitos de UTI do Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (CCC) de Campos serem ocupados.
Equipes da Segurança Pública, incluindo o secretário Darcileu Amaral, da Guarda Civil Municipal e o do Instituto Municipal de Trânsito e Transportes (IMTT) acompanharam o movimento, além das polícias Civil e Militar. O delegado Rodolfo Maravilha esteve no local com a equipe da 134ª DP e, justamente com a PM e forças municipais, conseguiu identificar as lideranças do movimento que foram conduzidos para a delegacia.
No protesto, diferentes grupos se concentram na avenida Nilo Peçanha, na parte dos fundos do Hospital de Campanha do Estado, e na praça São Salvador. Uma carreata foi organizada pelo movimento. Depois, os manifestantes se juntaram nas escadarias da Câmara Municipal. Um homem, apontado como um dos líderes do movimento, foi detido na praça. Na Câmara, foram dois detidos, também identificados como lideranças do protesto. A ação buscou evitar maiores danos colaterais, atentando para a discrição na condução dos envolvidos, como forma de se evitar ainda mais protestos e aglomerações. Foram detidos Marlon Guido, Inácio Silva e Alexandre Leite.
Secretário de Segurança Pública de Campos, Darcileu Amaral orientou aos manifestantes que não fosse realizada a carreata porque, “neste momento de pandemia, a saúde vem acima do direito de ir e vir”:
— Na verdade, a gente está fazendo a orientação para que se cumpra o decreto estadual que proíbe (o ato) neste momento. Tem uma decisão erga omnes (que deve ser cumprida por todos) em Niterói, que se aplica a todas as cidades do Rio de Janeiro. Não pode ter aglomeração de pessoas, carreata e manifestação. Foi orientado para que não seja feita a carreata, para que a gente não precise ter que usar medidas que impeçam o direito de ir e vir das pessoas e de manifestação. A gente entende o momento de dificuldade que as pessoas estão passando. Muitas lojas não vão reabrir, a gente sabe disso, mas não adianta nada afrouxar agora, não decretar lockdown, e as pessoas não poderem abrir seu comércio por falta de saúde. A saúde está acima de qualquer situação — complementou o secretário, destacando que, a partir desta segunda, com “quem descumprir as medidas de lockdown infelizmente, a gente vai ter que fazer cumprir o decreto, que é conduzir até a delegacia”.
Além da decisão citada por Darcileu, outra decisão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, assinada pela desembargadora Marianna Fux, no dia 28 de abril, determina que o Estado, por meio da Polícia Militar, reprima qualquer tipo de aglomeração pública.
Um dos integrantes do movimento, Felipe Machado diz que a Prefeitura, para decretar lockdown, alegou ocupação de 100% dos leitos de UTI, mas não haveria precisão de números. Segundo ele, não houve um preparo por parte do governo municipal com relação à saúde, e o ato deste domingo tem objetivo de chamar a atenção do prefeito para esse ponto.
"O que nós temos, em off, é que teriam 20 leitos de UTI à disposição de um município deste tamanho. Na sexta-feira, veio a proposta de lockdown com base nos 100%. Mas 100% de 20 leitos para um município de mais 500 mil habitantes, a gente acredita que não houve preparo por parte do governo municipal com relação à saúde. Temos um Hospital de Campanha com um valor absurdo, muito comentado. Quando chegou perto de uma possível inauguração, foi adiada a data. Sendo que, se o prefeito se considera uma autoridade máxima dentro da cidade a ponto de nos colocar em lockdown, por que ele não foi autoridade máxima para buscar essa abertura do Hospital de Campanha? Se há um desespero com esses 20 leitos, que são 100% hoje, por que não abrir esse hospital de campanha com a possibilidade de atender até 200 pessoas? Até quando reduziu o valor, ele dobrou a capacidade dele", destacou Felipe.
Descumprindo a orientação da secretaria, os carros seguiram em buzinaço até a Praça São Salvador, no Centro de Campos, e seguiram para a Câmara, onde ficaram aglomerados por cerca de meia hora. Nas escadarias da sede do Legislativo, alguns vestindo camisas do Brasil e, também, com o rosto de Bolsonaro, os manifestantes disseram que pretendem pressionar os vereadores para que a medida de isolamento não aconteça em Campos. Do local, eles seguiram para a frente do Exército.
De acordo com a coordenação da vigilância das forças de segurança do município, a concentração do ato foi dividida em locais distintos como forma de dificultar a fiscalização. Entre os participantes, segundo a coordenação, estaria um coronel da reserva do Exército.