Channa Vieira
08/05/2020 19:52 - Atualizado em 11/05/2020 19:42
Gerar por nove meses uma vida e ser responsável por apresentar o mundo para ela. Viver numa linha tênue entre lágrimas de felicidade e o choro tragado de preocupação. Ser apreciada como exemplo de força, vigilância e proteção. Quando o mundo assiste ao nascimento de uma criança, ele também contempla a criação de uma mãe. Em meio a uma pandemia, vivenciar o sublime dessa nova história, passar pelo puerpério e imaginar o futuro do seu filho são os maiores desafios enfrentados por essas novas mães, que já podem ser incluídas em uma lista de heroínas prediletas. Neste domingo (10), o mundo terá novas homenageadas. O Dia das Mães, motivo de grandes encontros e muitos abraços, neste ano, será celebrado de forma intimista e aconchegante: dentro dos lares, que estarão rodeados de um novo amor em tempos de pandemia de coronavírus.
Quando se descobre uma gravidez, um turbilhão de sentimentos toma conta da mulher. Alegria, medo e insegurança se misturam à ansiedade. No entanto, os cuidados passam a ser redobrados e a saúde passa a ser prioridade na vida da gestante. Em seguida, os primeiros planos começam a ser desenhados em sua mente: o nome, a cor preferida ou até mesmo a profissão. As mães são capazes de pensar em centenas de milhares de sonhos para o filho.
Embora as puérperas, mães de primeira viagem, vivenciem o novo todos os dias, atualmente, o seu maior desafio também é vivido por todo o mundo, a pandemia da Covid-19. Entretanto, assim como os recém-nascidos, por questões imunológicas, elas fazem parte do grupo de risco, se tornando vulneráveis ao novo coronavírus.
Jovem e cheia de planos, Vitória Viana deu à luz no último dia 22. O pequeno Conrado nasceu no Hospital Plantadores de Cana, em Campos, referência em maternidade na região. Para a empreendedora, de apenas 23 anos, um dos momentos mais críticos da gestação aconteceu em fevereiro, quando surgiram os primeiros casos de Covid-19 no Brasil.
— Tudo mudou. Eu tinha planos de celebrar a chegada do meu filho, com ele ainda na barriga, reunindo amigos e familiares. O chá de fraldas com data marcada e as lembranças da maternidade, tão detalhadas por mim, não podiam mais acontecer. Além disso, ainda sem muita notícia sobre a doença, o meu maior medo, na época, eram as consultas, que eram semanais no final da gravidez. Já em isolamento, no momento de fragilidade, também surgiram dúvidas em relação ao parto, se seria permitido visitas. Mas, como medida preventiva do hospital, pude ter apenas um acompanhante. Hoje, em casa, os cuidados são minuciosos – contou Vitória, acrescentando “meu filho chegou ao mundo e ainda permanece sem conhecer muitas pessoas importantes para mim”.
Felicidade que se mistura ao medo e solidão
Os dias de quarentena, medida indicada para evitar o contágio e combater à pandemia da Covid-19, podem revelar sintomas não físicos e extremamente preocupantes. O medo e a solidão sofridos nesse período se tornaram consequências do novo coronavírus. Psicóloga e também mãe de primeira viagem, Millena Rios, de 32 anos, define o cenário atual como angustiante. Quando deu à luz ao Théo, que está com cinco meses, o Brasil ainda não vivia o surto da doença. Entretanto, a profissional de saúde revela que outros problemas se agravaram com o isolamento, como o atraso nas vacinas recomendadas para os recém-nascidos, para evitar o contágio de diversas doenças, o que potencializou a preocupação das novas mães.
— Como mãe de primeira viagem, a gente tem muitas dúvidas e questionamentos, junto ao medo do desconhecido. A necessidade do carinho e da atenção se torna maior por conta das inseguranças enfrentadas. E, de repente, você se vê “sozinha”. É uma mãe ou uma tia que faz parte do grupo de risco, não podendo sair de casa e estar próximo após o nascimento do bebê. As visitas de amigos que também não podem acontecer. Em um quadro clínico, a depressão pós-parto, originada por um estresse constante de não saber agir e da insegurança do futuro, acentuada com a falta de afeto, que talvez seja o ponto principal desse grave problema”, destacou a psicóloga.