Para oferecer tratamento adequado durante a pandemia de coronavírus no município, a Prefeitura de Campos inaugurou, no final de março, o Centro de Controle e Combate ao Coronavírus. O espaço, único responsável pelo atendimento aos pacientes com suspeita e confirmação de Covid-19 na cidade, funciona no novo prédio Beneficência Portuguesa e dispõe de 39 leitos. Apesar de não aparecerem como referências para os casos de coronavírus, outros hospitais estão em alerta para situações de emergência. Entre públicas e contratualizadas, as unidades contam com 198 leitos de UTI, incluindo neonatal, oncológicos, pediátricos e adultos; mais de 500 leitos clínicos, incluindo clínica médica, obstétricos, pediátricos e outras especialidades; e 124 respiradores. Até a última quinta-feira (30), aproximadamente 79% dos leitos de UTI estavam ocupados. Destes, 8% com pacientes de Covid-19. Dos 500 clínicos, 306 estavam em uso, sendo 15 no Centro de Controle. Os dados contrastam com os do Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde e Estabelecimentos de Serviço de Saúde da Região Norte Fluminense (Sindhnorte), que apontou de 80% a 90% de ocupação em leitos de UTI e 70% em leitos clínicos. A superintendência de Comunicação da Prefeitura afirmou que os dados referentes aos hospitais particulares não foram repassados do município.
Tido como uma das principais unidades hospitalares da região, o Hospital Ferreira Machado tem 30 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sendo 24 em funcionamento e seis que serão reativados nesta segunda-feira (4), e 168 clínicos, além de seis de UTI Pediátrica. Já o Hospital Geral de Guarus conta com 19 leitos de UTI, 52 clínicos e seis clínicos pediátricos. O Hospital São José tem três leitos para pacientes graves e 12 clínicos. Parte dos dados da Fundação Municipal de Saúde contrasta com os obtidos pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj) em vistoria aos hospitais. O órgão informou, por exemplo, que o HGG dispõe de 15 leitos de UTI e seis de Unidade de Pacientes Graves (UPG). A Prefeitura afirmou que a rede pública possui 50 respiradores, mas não determinou quantos para cada unidade.
Um dos quatro contratualizados do município, o Hospital Escola Álvaro Alvim tem 15 leitos de UTI e 32 clínicos. Todos estão ocupados. O HEAA conta, ainda, com 21 respiradores. De acordo com o diretor da unidade, Geraldo Venâncio, há possibilidade de ampliação do número de leitos hospitalares para casos de emergência de Covid-19.
Os outros contratualizados são a Santa Casa de Misericórdia, que dispõe de 30 leitos de UTI, 20 clínicos e 36 respiradores; o Hospital Plantadores de Cana, especializado em maternidade de risco, tem 20 leitos de UTI Adulto, 50 leitos de UTI Neonatal, 26 clínicos e 17 respiradores; e a Beneficência Portuguesa, que abriga o Centro de Controle e Combate ao Coronavírus. Este tem 19 leitos de UTI, sendo nove em uso e 10 vagos – com previsão, ainda sem data definida, para ativar mais 19 – e 20 leitos clínicos, sendo 14 em uso e seis vagos, podendo chegar a 60, de acordo com a demanda. Na Beneficência, há 26 respiradores. Os números de leitos da unidade hospitalar são: nove de UTI e 100 de clínica médica.
Da rede privada, o Hospital Dr. Beda, conforme dados do site oficial, disponibiliza 28 leitos de UTI e seis de Unidade Semi-Intensiva. Não há informações sobre o número de respiradores e de leitos da enfermaria da unidade. O Hospital Pronto Cardio e a Unimed não forneceram os números.
Em resposta, a assessoria da Unimed informou que “vem intensificando ações visando garantir o melhor atendimento aos clientes, nesse momento de pandemia do coronavírus. Dentre elas, a implantação de uma unidade de apoio especial para atendimento emergencial, voltada para pacientes com sintomas suspeitos de contaminação pela Covid-19. Todos os dados sobre números de leitos disponíveis e estrutura de atendimento estão sendo periodicamente repassados para o órgão regulador do município”.
Com relação aos hospitais particulares, a Prefeitura informou que “o município publicou, no dia 25, decreto que determina que passem informações diárias, através da Secretaria Municipal de Saúde, a respeito de número de leitos clínicos e de UTI, além do número de pacientes testados para coronavírus. O município reforçou as solicitações a cada unidade. Algumas destas ainda não enviaram os números até o momento. A Procuradoria Geral do Município, em conjunto com a secretaria de Saúde, estuda meios de intervir juridicamente e, se necessário, aplicação de sanções caso haja descumprimento do decreto”.
Possibilidade de ampliação
Diretor do Hospital Escola Álvaro Alvim, Geraldo Venâncio informou que a unidade hospitalar conta com 15 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), 32 de clínica médica. Todos estão ocupados. O hospital conta também com 21 respiradores. Além dos leitos já existentes, há possibilidade de instalação de outros.
— A gente tem 15 leitos de UTI e pontos para instalação de mais 10, se houver necessidade em função da epidemia. De clínica médica, nós temos o terceiro andar (onde funciona também a oncologia), com 32, e, no quinto, tem espaço para mais 24 leitos. Eu ia subir os leitos da oncologia para o quinto, mas vamos esperar acabar a epidemia. Apesar de ter o Hospital de Campanha e a Beneficência, pode haver necessidade. Então, eu adiei essa transferência para deixar esse espaço. Mas, se precisar, o governo tem que dar provimento como respiradores e monitores — explicou Geraldo.
A Santa Casa de Misericórdia conta com 30 leitos de UTI, com 90% de ocupação, e 176 leitos de enfermaria, com cerca de 80% ocupados. Além dos 30 respiradores usados na UTI, o hospital possui seis em reserva para caso de defeitos. O diretor da unidade, Cléber Glória, explicou que todos os casos suspeitos e positivos de Covid-19 são diretamente encaminhados ao Centro de Controle e Combate e não há, por ora, possibilidade de ampliação dos leitos. “Na verdade, nossos leitos que estão em utilização são usados pelo SUS, o tempo todo, para qualquer outra patologia. Não tem nada específico de Covid”, afirmou.
Consultor na construção do CCC é otimista
O infectologista Nélio Artiles, que atuou como consultor na construção do Centro de Controle e Combate ao Coronavírus, é otimista e acredita que a estrutura hospitalar de Campos será capaz de abranger os casos crescentes de Covid-19 registrados no município. Ele afirmou que, considerando o número atual de casos, a estrutura disponibilizada pelo Centro é muito boa, com quantidade de leitos adequada.
— Acho que a Beneficência se adequou muito bem, com investimento público naquele local. Sei que tem havido dificuldade tremenda em relação ao sustento e à dívida que eles estão enfrentando. É um desafio. Os outros hospitais também estão com dificuldades reais. Muitas vezes, com falta de medicamentos e insumos básicos. Isso preocupa a gente. Claro que, com esse quantitativo que Campos tem, no momento, o sistema está se adequando bem. Mas, se houver um crescimento abrupto do número de casos, obviamente vai causar uma sobrecarga que, talvez, possa causar transtorno de limite de atendimento à população — alertou Nélio.
O infectologista afirmou que a aceleração da curva de casos depende do respeito às medidas preventivas por parte da população.
— O aumento no número de casos é diretamente proporcional ao cuidado, só que a gente tem visto aglomerações estranhas, principalmente com aumento de filas no Centro. Com certeza, isso trará reflexo nos próximos sete, dez dias. Se não fizermos o distanciamento social, os casos vão aumentar proporcionalmente, e isso é preocupante — declarou.
Para Nélio, o Sistema Único de Saúde (SUS) é um dos aspectos positivos do Brasil, mesmo com “dificuldade, precariedade e sucateamento da rede público de todo o país”:
— O fluxo do atendimento do SUS pode ser considerado superior ao de outros lugares do mundo. Isso vai, de certa forma, mesmo com toda a deficiência, favorecer. Além do clima, que também favorece. Existem múltiplas condições que auxiliam no que poderia ser pior, mas a gente tem que ficar alerta.