O avanço do novo coronavírus trouxe debates a níveis municipais, estaduais e federais sobre quais seriam os serviços essenciais. No início da implantação do isolamento social em Campos, oficinas mecânicas e lojas de peças tiveram o funcionamento suspenso, mas não demorou muito para que a real necessidade desses estabelecimentos entrasse em evidência e as medidas fossem afrouxadas para eles.

Como a principal alternativa para amenizar as perdas financeiras durante o isolamento está sendo o delivery de alimentos e bebidas, faz sentido que o responsável pelo meio do caminho entre produto e consumidor — o motoboy — tenha necessidade de zelar, reparar e manter a manutenção da sua principal ferramenta de trabalho: a motocicleta.

Nesse sentido, lojas especializadas em manutenção, venda de peças e reparos de motocicletas não apenas estão conseguindo se manter, mas também aumento na margem de lucro e buscam até expansões. É o caso da Sómoto, maior do gênero em Campos, com duas lojas estabelecidas — uma no Centro, na avenida Alberto Torres, e outra em Guarus, na avenida Alberto Lamego — e uma terceira sendo construída e finalizada para inauguração, que, de acordo com Cíntia Carvalho, gerente das lojas, ocorrerá no final de julho, caso haja uma normalização até lá.

— Realmente muita gente está trabalhando com serviço de entrega, muita gente que antes não trabalhava nessa área, como motoboy, começou. Tivemos aumento nos serviços de retífica dos motores. Estão pegando motos paradas e colocando em funcionamento para trabalhar — contou Cíntia, informando ainda que a empresa está conseguindo obter 20% a mais de lucro no período e, portanto, não houve necessidade de cortar nenhum colaborador, apenas o afastamento de dois que estão no grupo de risco.

Joselito da Silva Braga, dono da Oficina do Joselito, sentiu que o aumento do trabalho (que chega a 16 horas por dia) e da quantidade de motoboys gerou um crescimento na procura por oficinas e relatou: “A demanda por manutenção básica cresceu muito, troca de pneus, relação, óleo. Eles estão rodando muito e senti um aumento na procura de mais de 30% aqui na minha oficina. Como eu trabalho até meia-noite, o pessoal me procura muito para resolver algumas emergências”.

A importância dos estabelecimentos de reparo e manutenção de motocicletas vai além das vendas e atendimentos individuais, fundamentais para os mais de 600 motoboys ‘freelancers’ da cidade e para clientes que são médicos e enfermeiros. Uma boa parte do faturamento da Sómoto é fruto de contratos com empresas como a Águas do Paraíba, redes particulares de hospitais, Ambev e Correios, dono de uma frota de mais de 60 motos e cuja manutenção depende do estabelecimento. Essas empresas não podem parar de funcionar por conta de qualquer falta de manutenção em suas motocicletas.

— Para além do trabalho de retífica de motores pelo qual já somos conhecidos no mercado, a empresa reagiu logo aos primeiros sinais da doença (quando ainda não havia se tornado uma pandemia), fazendo um estoque grande de bags e baús de transporte — explicou Cíntia Carvalho, mostrando que a antecipação à crise causada pelo coronavírus foi de extrema importância para criação da reserva de mercado da loja, destacando-a na cidade.

A compra dos acessórios para estoque foi um bom investimento da loja, pois, de acordo com Jefferson Silva, presidente da associação dos motoboys, “o que tem mais nos grupos de motoboy é gente atrás de bags e baús”.

O aumento dos serviços de delivery e menor movimento nas ruas despertou a atenção de criminosos, levando a uma série de roubos, furtos e ameaças. Há duas semanas, então, motoboys fizeram reivindicações ao 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM) para que houvesse maior policiamento e intensificação de abordagens a suspeitos. Elas foram levadas diretamente ao comandante do 8º BPM, tenente-coronel Luiz Henrique Barbosa.

Os criminosos aproveitaram o período de menor movimento no tráfego e policiamento nas vias públicas e roubavam os profissionais responsáveis por entregas de restaurantes e outros comércios operando no sistema de delivery, trazendo ainda mais prejuízo para o comércio e para os motoboys.

Jefferson Silva, conhecido no meio como ‘Gaguinho’, presidente da Associação dos Motoboys, foi responsável pelo diálogo com as forças de segurança. “Depois da reunião no 8º BPM estamos nos sentindo muito mais seguros. O comandante colocou blitz na ponte de ferro e a fiscalização está sempre em cima. Os roubos contra motoboys diminuíram muito. A reunião foi muito boa e os resultados estão sendo muito positivos”.