Criatividade fomenta orçamento
07/05/2020 20:18 - Atualizado em 13/05/2020 19:07
Vera Gomes Costa confecciona máscaras em casa
Vera Gomes Costa confecciona máscaras em casa / Rodrigo Silveira
O momento é de ficar em casa. A pandemia de Covid-19, que impôs uma nova rotina à população de todo o mundo, com o isolamento social, fez com que muita gente usasse a criatividade para se adaptar à atual realidade e garantir uma receita para compensar demissões, salários suspensos e a redução na prestação de serviços.
Crescimento exponencial de opções nos aplicativos de delivery de alimentos, profissionais fazendo atendimento nas residências dos clientes, produção de diversos produtos em casa e o comércio tradicional fazendo vendas por telefone e internet e entregando em domicílio. O novo coronavírus desacelerou, mas não paralisou a economia, que tenta se reinventar para manter a engrenagem funcionando.
O chileno Patricio Alejandro Gonzalez Mora presta serviços a uma barbearia de Campos e, com a suspensão das atividades em estabelecimentos de serviços não essenciais, passou a atender na casa dos clientes.
— De imediato, bateu a incerteza do que viria decorrente da queda de trabalho, mas não podemos parar. Tenho uma lista de contatos e comecei a divulgar o serviço, apresentando as novas normas de segurança, o uso do álcool em gel, das luvas e da máscara. O máximo de higiene possível, tanto para mim, quanto para o cliente. Claro que nem todos os clientes estão entrando em contato. Acredito que pela incerteza e o medo de se contagiar, o que levou a uma queda da minha renda, mas não desanimo e tento dar a volta por cima. Confesso que tenho medo de me infectar também, mas tento colocar o máximo de segurança e meus clientes têm visto isso, e quem já solicitou o serviço em domicílio tem voltado a ligar. Para quem é autônomo está sendo uma jornada muito complicada, já que as contas e endividamentos anteriores ainda estão cercando todo mundo, mas os cuidados são necessários — contou Patricio.
Aos 68 anos de idade, Vera Gomes Costa passou a fabricar máscaras de tecido em casa para vender e amenizar a redução do seu orçamento, desde o início da pandemia de Covid-19. Sua receita vinha da venda de artesanato em praças e festas, mas as medidas restritivas para o enfrentamento ao novo coronavírus impossibilitou sua atividade econômica.
— Faço as máscaras em casa e vendo para pessoas conhecidas, vizinhos, familiares, que me ajudam também a divulgar o meu trabalho. Consigo vender de 20 a 30 máscaras por semana, o que ajuda meu orçamento, mas não chega a cobrir o que ganhava com a venda do meu artesanato — disse Vera.
Comércio tradicional se reinventa
Em Campos, o comércio tradicional também tem investido em alternativas para driblar as perdas com o isolamento social. Uma estratégia dos comerciantes foi disponibilizar o serviço de delivery aos seus clientes, que podem fazer o pedido por telefone, site, aplicativos ou até mesmo pelas redes sociais e receber os produtos em casa. A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Campos reuniu mais de 170 desses estabelecimentos em seu site (cdlcampos.org.br), onde fornece as informações de contato de cada um.
O presidente da CDL Campos, Orlando Portugal, afirma que o novo serviço prestado pela entidade está facilitando a vida dos consumidores e fazendo com que outros que não o utilizavam esse tipo de ferramenta aderissem. “Em um momento em que o comércio enfrenta a pior crise da era moderna, é preciso de criatividade. E essa foi uma forma que encontramos para tentar reduzir os prejuízos dos empresários e oferecer uma opção ao consumidor, em uma época em que o recomendado é ficar em casa”.
Mas, apesar da criatividade para manter o mínimo de operações, o presidente da CDL, Orlando Portugal, não vê uma recuperação do comércio dentro de seis meses, mesmo que haja uma flexibilização das regras de isolamento em curto prazo.
Outra realidade
Comerciantes estão experimentando alternativas para enfrentar esse momento de crise, mas não a realidade de todos. Alguns por falta de estrutura para aderir às ferramentas tecnológicas, outros por não terem pessoal treinado para essa nova realidade e há, ainda, aqueles que têm franquias de grandes redes e precisam seguir as diretrizes da marca.
Esse é o caso da empresária Sheila Vilela, que tem lojas de franquia em um shopping de Campos e em uma cidade do Espírito Santo. De acordo com ela, a rede informou estar preparando, mas ainda não disponibilizou ferramentas para vendas online direcionadas as lojas regionais, que precisam que seguir um padrão.
— A outra loja, no Espírito Santo, por funcionar na rua e estarmos no interior do estado, estamos funcionando normalmente. Em Campos, não podemos abrir, mas ainda temos compromissos a pagar. Tivemos desconto do shopping no aluguel, mas os valores não foram suspensos. A rede também nos deu um prazo maior para pagar os boletos de março, mas eles vão vencer e se acumular com as demais. Isso sem termos faturamento. Demos férias coletivas às funcionárias, até vencer todas as possibilidades de férias. Esgotando essas possibilidades, entramos com a suspensão temporária do contrato. O shopping nos deu uma previsão de reabertura na segunda quinzena de maio, mas, sinceramente, não acredito que isso vai ocorrer, porque a situação está se agravando. As expectativas não nada boas. Mesmo com a abertura do comércio, temos que correr atrás do faturamento e os consumidores não estarão confortáveis em sair e comprar. Teremos um período muito complicado pela frente — destacou Sheila.

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