Paula Vigneron e Matheus Berriel
25/05/2020 11:37 - Atualizado em 03/06/2020 17:55
Morreu na manhã desta segunda-feira (25), aos 69 anos, o cantor, compositor e instrumentista Osvaldo Américo Ribeiro de Freitas, popularmente conhecido como Dom Américo. Ele estava internado desde a madrugada de 2 de março no Hospital Geral de Guarus (HGG), em Campos, após ter sentido intensa falta de ar, e, desde então, seu quadro era grave. Osvaldão, como também era conhecido, sofria de diabetes e hipertensão. Recentemente, emagreceu consideravelmente devido a tratamento com hemodiálise. Ele teve falência múltipla dos órgãos por volta das 11h. De acordo com o blog Ponto de Vista, há suspeita de que Osvaldão tenha contraído Covid-19. Um teste foi realizado, mas o resultado ainda não saiu. O corpo de Dom Américo foi sepultado no final da tarde desta segunda, no cemitério Campo da Paz. O cantor deixa quatro filhos e três netos.
Com a façanha de transitar por todos os estilos musicais, Dom Américo, natural de Campos, conseguiu se transformar em um artista múltiplo, cantando e tocando em eventos de formatos bem diferentes, com a medida certa para cada um. No repertório histórico, destaque para a canção “Butterfly”, grande sucesso de sua carreira, iniciada em 1967.
Segundo o Dicionário Cravo Albim da Música Popular Brasileira (MPB), do Instituto Cultural Cravo Albim, Dom Américo lançou em 1990, pela Polygram, o LP “Luminosidade”. Em 1992, pelo selo Tropical/Polygram, foi a vez do LP "Universo". Quatro anos mais tarde, pela BMG Brasil, veio CD "Salsa Brasil". Em 2001, participou do CD "Swing Bahia", lançado pelo artista Gil Paixão pela gravadora Paulitura, interpretando a música “Nas Ondas Do Desejo (Nunca Me Esqueça)”, de Marrom. Em 2018, comemorando 51 anos de carreira apresentou-se em show beneficente no Asilo Monsenhor Severino. Durante os dias de folia, também se apresentou nos municípios de São João da Barra e Quissamã.
O prefeito de Campos, Rafael Diniz (Cidadania), lamentou a morte do cantor. "Campos amanheceu mais triste e silenciosa, com a perda de um de seus filhos mais queridos. É com grande pesar que recebemos a informação do falecimento de Dom Américo; um grande amigo que parte depois de uma difícil batalha pela vida. Sua voz, assim como seu exemplo de caráter e dedicação, ficarão para sempre na nossa lembrança. Sua alegria também estará sempre presente, nos inspirando a ser pessoas melhores. Que Deus o receba de braços abertos e conforte seus familiares e amigos".
O presidente do Conselho Municipal de Cultura (Comcultura) de Campos, Marcelo Sampaio, lamentou a morte de Dom Américo. Segundo Marcelo, uma homenagem ao artista era planejada em seu Centro Cultural para o artista, que já se queixava de problemas de saúde.
— O conheci quando ainda era Osvaldão e já superlotava as casas noturnas nas quais se apresentava. Adotou o nome artístico Dom Américo e conseguiu aumentar ainda mais a sua já enorme legião de admiradores. Com o seu falecimento, Campos perde uma das suas vozes mais marcantes, e o Centro Cultural Marcelo Sampaio, a oportunidade de homenageá-lo em vida. Já estava combinado com ele e teria direção musical de Matheus Nicolau. Ficamos mais pobres artisticamente — lamentou Marcelo.
O jornalista Antônio Filho lembrou com carinho do amigo: "O querido Dom Américo foi o artista com quem mais trabalhei. Como todo campista, já nasci fã do nosso grande astro. E, por acasos da vida, nos tornamos amigos pessoais. Em quase 15 anos de convivência, foram diversos programas, gravações de clipes, sessões fotográficas e shows. Tive a honra de apresentar Dom Américo, em diversos espetáculos incríveis, sempre com boas lembranças de sua simpatia. Não tenho palavras que sejam capazes de resumir meu carinho, respeito e admiração por aquele que foi o maior artista de Campos dos Goytacazes. Siga brilhando, amigo!"
Presidente da Associação de Imprensa Campista (AIC), Wellington Cordeiro usou trechos de "Butterfly" para se despedir de Dom Américo via Facebook.
— Ele veio como um arco-íris, nos cobrindo de uma tempestade. Nos deu a alegria de uma criança ao girar no carrossel de um parque. Mas, nosso butterfly embarcou na garupa da saudade. Nos lembraremos dele a cada sol brotando no canteiro, no voar de uma borboleta, no desabrochar de uma flor. Diria para ele: Querido Dom, "diga que não vai desta vez voar de mim. Vem estrelar, lua da manhã, céu de flamboyant sobre os girassóis do meu jardim". Nesta manhã nublada, nossos olhos estão chovendo. Descanse em paz, amigo — escreveu Wellington.
A presidente da da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Cristina Lima, fez um texto sobre Dom Américo, encabeçado pela frase "não basta apenas ser um boa artista, é preciso ser uma boa pessoa".
— Embora a memória já me traia quanto à autoria da declaração que encabeça este texto, ela se encaixa perfeitamente entre as palavras com as quais tento definir aquele que foi, por muitas décadas, grande orgulho e patrimônio artístico de Campos. Sob o impacto de sua partida, credito a Dom Américo um legado de raro talento e excepcional musicalidade, associados a um ser humano pleno de ternura e imbatível na interação com seu público — escreveu Cristina Lima, citando um episódio em que Dom Américo se emocionou durante apresentação no Hospital Psiquiátrico Espírita Dr. João Viana. — Nos deixa um vazio muito grande, que só será preenchido pela lembrança de um artista que cumpriu, com maestria, amissão de fazer da arte a sua grande aliada e intérprete para tocar os inúmeros corações que, hjoe, choram pelo seu adeus — completou.
Ex-vice-presidente FCJOL, Viny Soares também comentou o falecimento do artista na rede social. "Dia cinzento e triste, mas guardarei a sua aletria, musicalidade e (o) carinho que sempre teve comigo. Descanse em paz, meu muso, minha regência", publicou Viny.
Gerente de artes e ofícios da FCJOL, Pedro Fagundes foi outro a se manifestar no Facebook: “Descanse em paz, D. Osvaldo Américo. Para sempre em nossos corações! Que Jesus lhe acolha em sua misericórdia infinita. Dia triste".
O jornalista e blogueiro do Folha 1 Nino Bellieny, amigo de Dom Américo, se recordou de momentos ao lado do artista:
— Tenho recordaçes e muitas! Uma delas: Centro do Rio, anos 1990, encontro por acaso o gigante, dirigindo devagar seu carro, uma Caravan. E ele, sabedor de meu trabalho na Manchete FM, disse: “Eu falava, você iria longe!”. Respondi: “Sim, trabalhei em Foz do Iguaçu também!”. Oswaldão gargalhou alto, como se estivesse em uma rua de Campos, a amada Campos dos Goytacazes, dos talentos inigualáveis de Didi, Amarildo e Dom Américo, um trio perfeito de futebol e música.