Paula Vigneron
16/05/2020 10:53 - Atualizado em 03/06/2020 17:52
O esvaziamento do Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho e do Museu Histórico de Campos, causado pelo corte de contratos de estagiários e de prestadores de serviços por Recibo de Pagamento a Autônomo (RPA) em virtude do Plano de Suspensão Emergencial, resultou na paralisação das atividades virtuais e gerou fortes de professores e pesquisadores do município e de entidades nacionais. A Associação Nacional de História (ANPUH) se posicionou contra o que nomeou de “desmonte das instituições”. Em resposta, a Prefeitura afirma que a suspensão dos trabalhadores é temporária e deve permanecer enquanto durar a pandemia de coronavírus.
No último dia 6, a Prefeitura estabeleceu o Plano de Suspensão Emergencial, interrompendo os “contratos temporários de profissionais da educação e de estagiários que atuam junto à administração pública, em secretarias que estão momentaneamente com as atividades paradas em função do isolamento social. Também estão suspensos os Recibos de Pagamento a Autônomos (RPAs) destas mesmas secretarias”, conforme publicação em site oficial. A medida atingiu os quadros de funcionários tanto do Arquivo quanto do Museu, dirigidos, respectivamente, pelas historiadoras Rafaela Machado e Graziela Escocard. Em consequência, as instituições cancelaram as atividades promovidas virtualmente, como o podcast “Arquivo Conectado” e lives realizadas nas redes sociais do Museu, com diversos temas e convidados.
A paralisação das ações virtuais e a suspensão dos trabalhadores causaram preocupação entre docentes e estudiosos da área de história e cultura. Em entrevista ao programa Folha no Ar, da rádio Folha FM 98,3, no dia 11, o pesquisador e professor Aristides Soffiati se posicionou sobre a decisão.
— Nós passamos quatro anos sem Biblioteca Municipal. E agora estamos sem Museu e sem Arquivo. Eu não sei se isso é de fato um fechamento definitivo disfarçado de algo relativo à crise econômica e crise causada pelo vírus, que eu acho perfeitamente justificável, ou se é uma coisa que vai passar e essas pessoas vão voltar a trabalhar. Agora pergunto: vai voltar? Acho que caberia não só à gestora de cultura do município se pronunciar publicamente, mas ao prefeito dar uma garantia para nós de que Arquivo e Museu são instituições muito importantes à cultura de um município da estatura de Campos. Como é que fica isso? — questionou.
Em resposta, o prefeito de Campos, Rafael Diniz, afirmou que “assim que a pandemia passar e a vida voltar ao normal, no que será considerado normal após a Covid, as atividades voltarão. Não tem como a gente fechar definitivamente o Arquivo e o Museu. Prova da importância que damos a essas instituições está na dedetização promovida recentemente no Arquivo, assim como o sistema contra incêndio que estamos instalando no prédio (Solar do Colégio)”.
A presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), Cristina Lima, também em entrevista ao Folha no Ar, na última quinta-feira (14), corroborou o posicionamento do prefeito, afirmando que “nunca, em momento nenhum desse processo, nós tivemos a intenção, o propósito de não voltar com esses equipamentos”.
— O tempo todo foi dito que seria uma atitude temporária. Em momento nenhum, foi ventilada a hipótese de não se reabrir (as instituições) ao fim da pandemia e do cumprimento desses decretos. A gente entende que a classe de pesquisadores, historiadores tenha ficado nessa ansiedade. E, como a gente também, na gestão anterior, perdeu equipamentos como o Palácio da Cultura e o Museu Olavo Cardoso, é natural que as pessoas tenham uma expectativa ruim em relação a isso — completou.
Outro professor que se manifestou sobre a suspensão das atividades do Museu e do Arquivo foi Eugênio Soares. Docente da Universidade Federal Fluminense (UFF), ele declarou, conforme publicação do blog de Edmundo Siqueira, hospedado no Folha 1, que as instituições são guardiãs da memória e da história de Campos.
— Eu sei que a medida da Prefeitura atingiu vários setores. Sou solidário com todos aqueles que foram lançados à própria sorte nesse momento de pandemia. Porém, é triste perceber que as duas instituições sequer possuem um número suficiente de funcionários para tocarem o trabalho adiante quando esse horror terminar. Isso mostra o desprestígio que a sensibilidade e a inteligência gozam em nossa cidade — criticou.
Apoio à cultura campista — Com o corte de funcionários e a impossibilidade de continuação das ações virtuais, a Associação Nacional de História (ANPUH) divulgou uma nota de protesto contra “o desmonte do Arquivo Público Municipal Waldir Pinto de Carvalho e do Museu Histórico de Campos dos Goytacazes”.
Assinada pela presidente Márcia Maria Menendes Motta, a nota, que traz dados históricos dos aparelhos culturais, afirma que “o desmonte perpetrado naquelas instituições inviabiliza a continuidade dos importantes serviços prestados à sociedade de Campos. Apesar da indispensável quarentena recomendada pelas autoridades sanitárias, os trabalhadores das referidas instituições estavam ativos em espaços online, mantendo contato com a comunidade, na certeza da relevância de suas atividades a nível regional e nacional. Além disso, a desarticulação das atividades realizadas implica também a preocupação com a manutenção e preservação dos acervos ali acolhidos; patrimônios públicos da cidade e do país”. A ANPUH solicitou que “sejam tomadas providências para a manutenção do funcionamento destas instituições”.