Ronaldo Linhares
14/05/2020 15:59 - Atualizado em 19/05/2020 19:00
“Ser como um rio que flui, silencioso no meio da noite”
(Manoel Bandeira)
Quase cinco séculos antes de Cristo, o famoso Péricles classificou de “idiotes” os cidadãos que se ocupavam exclusivamente com seus assuntos particulares e não se envolviam com os problemas de sua cidade, de sua Pólis. A participação de todos nas decisões coletivas era verdadeira essência da democracia ateniense; os que desertavam desse dever cívico eram, muito naturalmente, olhados com absoluto desprezo, e o vocábulo logo passou a ser usado como insulto. Além de designar esse isolamento dos maus cidadãos, “idiotes” terminou englobando também a ideia de alienação do mundo concreto e real. Finalmente, quando chegou a Roma, que trataria de difundi-lo por todas as línguas europeias, o termo “idiota” já estava ligado, como hoje, à ignorância ou à debilidade. Por outro lado, o mesmo Péricles classificou como “polites” os cidadãos que, ao contrário dos “idiotes”, se interessavam sobre os problemas da polis, origem da palavra política.
O parágrafo acima me faz refletir sobre a questão do trânsito, hoje tão falado em nossa cidade. O fato é que, antes da elaboração do “Plano Viário Trânsito Livre”, muito pouco ou quase nada se discutia sobre o trânsito. Aliás, curiosamente, até hoje nenhum jornalista me perguntou sobre a definição técnica da palavra. O fato é que, antes de assumirmos a Emut, em 1999, muitos problemas já haviam, mas o que imperava era um triste silêncio. Podemos citar como exemplos o fato de não haver, até aquele ano, sequer uma placa de estreitamento de pista (hoje alargada) em frente ao Isepam, na av. 28 de Março, local onde havia mais acidentes; a ausência de semáforos em locais imprescindíveis, como nos cruzamentos da mesma 28 de Março com as ruas Voluntários da Pátria, Gilberto Cardoso, Ricardo Quitete, entre tantos outros; ausência de sinais para pedestres; ausência de asfaltamento estratégico que visasse uma melhor distribuição de veículos em nossa malha viária; ausência das “Vias Livres”, como no prolongamento da Formosa e Saldanha Marinho, ambas com 6 km de extensão; ausência do “Anel Cicloviário”; da “Via Livre Alberto Torres” que, interligada à 28 de Março, com a simples retirada de um canteiro, criou-se uma via de 8 km de extensão, da Penha até ao Pq. Nova Brasília; da duplicação da av. Alberto Lamego; excesso de ruas de mão-dupla; criação de vias alternativas, inclusive promovendo interligações de bairros, como em alguns pontos do “Projeto 3ª Faixa em Pontos Estratégicos da 28 de Março”, inclusive com semáforos para ciclista; ausência de rotatórias e canteiros para ordenamento e segurança no trânsito; a inexistência de sinais (logo triplicados) em “onda verde” com porta-focos inteligentes e lâmpadas à LEDs; que, infelizmente, não mais existe, por pura preguiça.
A verdade é que tenho, hoje, que ver com alegria a cobrança de muitos. Pois a questão do trânsito foi discutida e inúmeros projetos foram realizados, assim como muitos outros ainda serão. É natural, então, que receba as críticas (construtivas) de forma prazerosa. Afinal, como dizem os versos de uma canção do Gonzaguinha: "Fé na vida/ fé no homem/ fé no que virá/ nós podemos muito/ nós teremos mais".