Cloroquina não surtiu efeito em paciente de 39 anos morto no sábado, diz intensivista do CCC
16/04/2020 08:19 - Atualizado em 04/05/2020 22:35
Defendido publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro, o uso da cloroquina para tratar pacientes com Covid-19 não surtiu efeito no tratamento do caminhoneiro Hudisson Pinto dos Santos, de 39 anos, que morreu sábado (11), no Centro de Controle e Combate ao Coronavírus (CCC) de Campos. A informação foi divulgada nesta quinta-feira (16) pelo médico intensivista e cirurgião cardíaco Vitor Carneiro, em entrevista na primeira edição do Folha no Ar, da Folha FM 98,3. A Vigilância em Saúde não contabiliza o caso de Hudisson como confirmado, por questão de protocolo, enquanto seu diagnóstico clínico, exame de imagem e teste rápido positivos não forem oficializados pelo Laboratório Central Noel Nutels (Lacen), credenciado pela secretaria estadual de Saúde.
— Nós já estamos usando a cloroquina. Evidente que é uma promessa, uma droga falada no mundo todo. Não só a cloroquina, como outras drogas também. Mas, a experiência própria eu não tenho ainda. Estamos usando em três, quatro pacientes. Usamos no Hudisson também. É cedo para a gente falar de experiência própria. O que a gente vê, fora, é que pode ter uma ação, talvez, mais cedo um pouco, sendo utilizada... Mas, é difícil falar em experiência própria ainda, é muito pequena — afirmou Vitor Carneiro, citando que outras drogas também estão sendo usadas no CCC. — A gente está tentando não ficar para trás nos tratamentos, mas também não ser agressivo demais. Tentando um meio termo, para que consiga um resultado positivo — pontuou.
Na entrevista, o médico disse que profissionais do CCC de Campos passaram por treinamento de desparamentação visando evitar o contágio do coronavírus.
— A gente fica vendo as imagens da China, da Itália, aqueles profissionais com EPI's que a gente nunca viu, em época nenhuma, no nosso país. E, mesmo assim, são 40% de contaminação. Isso acaba preocupando muito a classe, o profissional de saúde em geral: médico, enfermeiro, fisioterapeuta, quem está na luta, direto com o paciente. Mas, em contrapartida, a gente foi aprendendo com eles onde se contaminava. Parece que a desparamentação era o maior foco de contaminação, a gente treinou exaustivamente o pessoal do CCC a se desparamentar, principalmente os da atenção mais intensiva nos pacientes mais graves, onde a gente precisa dos EPI's mais complexos. Agora, é a gente tentar tudo o que tiver ao alcance e com o maior cuidado possível na hora de colocar e retirar — citou Vitor.
Na linha de frente em Campos durante a pandemia, o profissional não escondeu ter medo de ser contaminado durante a atuação profissional:
— Todos nós temos medo. Acho que o medo é nosso aliado nessa situação. Temos medo de levar para nossa família, trazer para casa. É difícil. É lidar com o medo no dia a dia. Depois de atender um paciente grave nessa situação, o nível de estresse é máximo. Até porque, a gente vê as formas mais graves da doença. Quem ficou bem e está em casa, a gente vê menos. No CTI, vemos quem está grave, sofrendo, precisando de uma série de intervenções, invasões. Isso acaba nos dando medo também. Evidente que você não pode fechar os olhos e não enfrentar esse problema. Mas, medo a gente tem. Fazer o quê? Não tem outra saída.
 
 
Confira a entrevista:

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