A força do Atlântico em Atafona
Ícaro Barbosa 11/04/2020 16:56 - Atualizado em 04/05/2020 19:12
Situação deixou 30 residências em estado de alerta
Situação deixou 30 residências em estado de alerta
A boca da Barra de Atafona vem sendo controlada pela Defesa Civil local desde o último domingo (05). As águas do Atlântico tomaram força por conta do período de ressaca e da maré de lua nova, para invadir a rua Beira-Rio e deixar 30 residências em estado de alerta. A Boca da Barra se abriu durante o último período de chuvas, que se estendeu de janeiro até o início de março deste ano. O maior volume de águas ajudou a abertura daquele trecho, que havia ficado cinco meses fechado, de outubro de 2019 até o princípio de março.
Estudiosos da foz do Paraíba do Sul, como o historiador Aristides Sofiatti, citam registros de problemas naturais no encontro do rio com mar naquela região desde 1775 e tentativas de solucioná-los desde o século XIX: “Já era uma foz problemática, segundo os registros do cartógrafo Manoel Martins do Couto desde o século XVIII. Ele já via problema de entrada de embarcações na área e a necessidade de coincidir a navegação com ventos e condições favoráveis desde aquela época”, conta Sofiatti.
Dedicado ao estudo e à elaboração de projetos que ajudem a controlar o avanço do mar na região, o professor Eduardo Bulhões, da Universidade Federal Fluminense (UFF), justifica que o maior causador do problema em Atafona é o déficit de areias que chegam à praia: “areias essas que deveriam vir do próprio rio Paraíba do Sul. Somam-se a isso épocas do ano onde o nível do mar sobe pelos efeitos de ressacas do mar, durante períodos de maré de lua cheia ou lua nova”, explica Bulhões.
De acordo com Aristides Sofiatti as ações humanas modernas, como a construção da represa Guandu, diminuíram a força do rio de se contrapor ao mar. Por sua vez, a questão global que vem aumentando o nível dos oceanos já dá mais força e favorece o Atlântico durante essa luta que tem o pontal de Atafona como ringue. Eduardo Bulhões apresenta uma alternativa para o problema; o transporte artificial de areias para o pontal e praia. “Uma praia preenchida de areias age como uma barreira natural de defesa do litoral”, pontua o professor da UFF. Para ele, é a solução de menor impacto ambiental negativo e traria os melhores resultados estéticos.
Defesa Civil controla a Boca da Barra desde o último domingo
Defesa Civil controla a Boca da Barra desde o último domingo
Foz do Paraíba pode fechar novamente em 2020
Tanto Aristides Soffiati quanto Eduardo Bulhões acham que a foz do Paraíba do Sul pode tornar a fechar neste ano. Ambos concordam que uma temporada de estiagem severa, “como foi a do último ano”, segundo Bulhões, pode acarretar novamente na união através de um banco de areia entre a Ilha do Peçanha e o Pontal de Atafona.
— Se nos meses de inverno chover tão pouco ou menos do que em 2019, é de se esperar que, mais para o final do ano, o Pontal cresça novamente e se conecte à Ilha da Convivência, gerando o fechamento da foz em Atafona. Caso o inverno não seja tão seco, é possível que a foz permaneça aberta, mas, ainda assim, com menor volume de água do que em Gargaú — explica Eduardo Bulhões.
As opiniões sobre o aspecto positivo ou negativo do fechamento não são um consenso entre os pescadores da área. “Eu estava presente no Pontal quando a foz tornou a abrir, em março. As opiniões dos pescadores locais eram muito variadas: gente que prefere a foz aberta, gente que não sentiu alteração e até um pescador que disse preferir ela fechada”, relata Aristides Soffiati.
Mobilização para evitar possíveis perdas
O coordenador da Defesa Civil, Wellington Barreto, trabalha para preservar e organizar a vida de quem depende do rio e do mar para o seu sustento: os pescadores. Muitos deles foram afetados com a invasão das águas salgadas ao antigo mangue. O encontro possibilitou um canal que deixou cerca de 30 casas em situação de alerta.
— A situação do Pontal é a seguinte: o mar estava de ressaca até domingo, e terminou naquele mesmo dia, às 21h, de acordo com o boletim meteorológico fornecido pela Marinha do Brasil. Durante a semana, nós, da Defesa Civil, estaremos fazendo um paliativo até o próximo domingo (hoje), pois estamos em período de maré de lua nova — explicou durante a semana o coordenador.
A solução encontrada foi auxiliar no escoamento da água, através de canais abertos em direção ao rio Paraíba. As equipes coordenadas por Wellington Barreto também trabalham no reforço das dunas, por conta da subida da maré que ocorre de 12 em 12 horas. Para evitar quaisquer danos materiais e patrimoniais aos moradores, quando o mar deu início ao seu avanço, os agentes Defesa Civil de São João da Barra auxiliaram na suspensão dos móveis das residências que apresentavam maior risco, prevenindo perdas de mobiliário e eletrodomésticos.

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