Paula Vigneron e Maria Laura Gomes
06/04/2020 20:48 - Atualizado em 12/04/2020 10:53
Desde o último dia 28, moradores em situação de rua estão abrigados no Hospital Manoel Cartucho para se manterem protegidos da pandemia do coronavírus (Covid-19). No local, cerca de 30 pessoas, de idades variadas, estão sendo mantidas com doações de roupas e alimentos. No entanto, o Comitê Popular de Crise denunciou que a alimentação estaria aquém do necessário e que os abrigados estão reclamando de fome e, por isso, ameaçam voltar para as ruas. Questionada, a Prefeitura de Campos disse, em nota, que a informação é falsa e que a alimentação fornecida no Abrigo Provisório para População em Situação de Rua é balanceada e orientada por nutricionista.
Todo o trabalho oferecido no Abrigo segue as recomendações dos eixos estruturantes necessários para a implementação e consolidação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
Representante do comitê, a professora da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Luciane Silva, explicou que o problema relatado pelos moradores em situação de rua está ligado ao café da manhã, que seria insuficiente para mantê-los alimentados até o horário do almoço, e a ceia.
— O que a gente está averiguando, já pelo quarto dia seguido, é que há uma reclamação que pode fazer com que essa população se desloque daqui devido ao café da manhã e ao último lanche da noite. A questão do café da manhã é um café preto e pão. Então, o que eles estão fazendo? Estão indo para as madres, no São Benedito, para almoçar e tomar café. Então, eles estão saindo, o que me parece que não é o desejável. Eles tomam café às 8h e vão almoçar às 12h30. Na sexta-feira, a gente viu o almoço. Parece que é uma quentinha razoável, tem comida suficiente, mas, entre 8h e 12h30, não tem nenhuma outra refeição — relatou Luciane.
A docente destacou que, nos últimos quatro dias, os membros do comitê têm ido ao Manoel Cartucho para acompanhar a situação dos abrigados e, assim, evitar que haja injustiças.
— Nós estivemos aqui sexta e, hoje (segunda), chegamos às 8h exatamente para ver isso. A nossa intenção é ouvi-los mais vezes. Estamos conversando com uma assistente social agora, e ela está apresentando a visão do trabalho daqui, de que eles tentam suprir ao máximo. Mas o que é preocupante? É que tem muita gente dizendo que pretende pegar as coisas e ir embora. Eles estão saindo e voltando muito. Essa é uma questão a ser pensada, se essa saída e volta são desejáveis — apontou.
Além da assistente social, Luciane conversou com o diretor Edilson Manhães e informou que há divergências em relação às versões:
— Existem duas narrativas: os abrigados relatam que estão sentindo fome e o diretor diz que é mentira. É complicadíssimo. Os abrigados dizem que o café da manhã é insuficiente. O Edilson, diretor, diz que não falta comida. Não tem leite, ele assume que não tem. Nós vimos uma pessoa recebendo o café aqui sem leite e dois pães muito pequenos. Os abrigados dizem que irão voltar para rua, porque estão com fome.
A nota da Prefeitura acrescentou, ainda, que "a secretaria de Desenvolvimento Humano e Social vai além do que preconiza a Política Nacional de Assistência Social, que apresenta as diretrizes para efetivação da assistência social, e oferece café da manhã, almoço, lanche da tarde, janta e ceia antes dos usuários dormirem. Eles estão muito bem alimentados e repetem as refeições sempre que desejam".