Paula Vigneron
04/04/2020 19:29 - Atualizado em 12/04/2020 11:16
Diante do cenário de pandemia causado pelo coronavírus, órgãos e entidades se voluntariam para auxiliar os que passam por necessidades e temem falta de alimentos, materiais de higiene e assistência. Em Campos, o movimento tem crescido, abrangendo diversas pessoas que se propõem a arrecadar e doar os produtos, promovendo não apenas o bem-estar do outro, mas também uma corrente de solidariedade. Um dos grupos que atuam na linha de frente de combate à Covid-19, a Polícia Rodoviária Federal entrega mantimentos e produtos de higienização a caminhoneiros que transitam pela BR 101. “Fala-se muito em amar o próximo. Está na hora de amar o próximo”, pontuou Iuri Guerra, assessor de comunicação da PRF, que já recebeu e doou, entre outros, caixas de biscoitos e sucos. O órgão desenvolve uma parceria com o Sest/Senat, cuja equipe realiza, entre a manhã e a tarde, doação aos motoristas que passam pela rodovia. Outras iniciativas, como o Comitê Popular de Crise, também desenvolvem ações em prol da sociedade.
A doação a caminhoneiros começou dia 25 de março, quando foi iniciada a barreira sanitária feita pela Prefeitura de Campos, à qual a PRF dá apoio. “Aos poucos, a ação se intensifica. A gente fala muito da equipe médica, enfermagem, do pessoal dos hospitais, dos policiais que estão na linha de frente. Porque, em um primeiro momento, você tem ação dos agentes de Saúde trabalhando, e a polícia dando aporte de segurança e logístico, mas muitos se esquecem de alguém que, se não for auxiliado, para o país: o caminhoneiro. A gente já viu esse exemplo no passado. Se o caminhoneiro parar, dificilmente nós vamos conseguir passar por esse período com o mesmo nível de responsabilidade que estamos vendo aqui no Brasil”, disse Iuri, ressaltando que o país está dando exemplo no combate ao coronavírus, com as medidas tomadas antecipadamente.
Das medidas, fazem parte os caminhoneiros, considerados peça fundamental dessa “engrenagem”. Os profissionais da categoria estão com dificuldades de abastecimento de produtos básicos devido ao fechamento de estabelecimentos às margens das rodovias.
— E a PRF, já ciente dessa situação, junto com o Sest/Senat, começou esse processo de arrecadação de mantimentos. A gente pede que esses mantimentos já venham processados. Ou seja, ninguém chega aqui com um saco de feijão ou de arroz. Quer doar comida? Doe uma quentinha. Se não tem condição de fazer, então, doe pacotes de biscoitos, embalagens de sucos pequenos, frutas. Ou, então, produtos de higiene: álcool em dose pequena, papel higiênico, detergente — explicou Iuri.
Para efetuar as entregas, os doadores podem ir à PRF, em especial ao Posto Lagamar, em Ururaí. O espaço funciona 24 horas por dia. Entidades que queiram fazer a doação também podem realizá-la em frente à sede. “Quem tiver congregação, igreja, loja maçônica e quiser fazer a distribuição, não tem problema nenhum. Venham entre 9h e 13h, preferencialmente. Venham, mas tragam seus EPIs porque não será permitido que façam a distribuição sem máscara, luvas e óculos de proteção. Não será permitido porque a gente tem que garantir a segurança de todos”, advertiu, frisando que “não existe doação em dinheiro” e, se alguém tiver pedindo doação em dinheiro, “suspeitem e entrem em contato com a PRF, pois pode ser uma fraude”: Existem pessoas que se aproveitam desse momento para obter lucro ilícito”.
Um motorista que recebeu auxílio na sexta-feira foi Roberto Rodrigues, de 55 anos; caminhoneiro há 25. Ele se disse feliz com a ajuda recebida e falou que a iniciativa é importante para os que percorrem a estrada e, muitas vezes, não encontram apoio. Roberto, que tem circulado menos nos últimos dias, disse:
— A ação é muito importante, é ótima. Saí da empresa agora para carregar o caminhão e, aqui, me deram um lanche e um kit limpeza. Tenho tomado os cuidados. Ando com álcool. A gente tem que se prevenir. Está perigoso. Está muito complicado. Em geral, isso atrapalhou o trabalho de todo mundo. Tem gente que não pode trabalhar o dia todo, reduziu a carga horária. A gente só espera a melhora porque está bravo — declarou o caminhoneiro.
Vaquinha online para catadores da Codin
Além dos cuidados com caminhoneiros, outras categorias, como os catadores de recicláveis, também receberam auxílio para enfrentar os dias de isolamento social e, consequentemente, redução de trabalho e renda. O Comitê Popular de Crise organizou, no último dia 27, doação de cestas básicas a 69 famílias de catadores que formam a cooperativa na Codin. A ação foi fruto de uma vaquinha virtual que, em dois dias, arrecadou R$ 3,7 mil.
Membro do Comitê e presidente do Conselho Municipal de Assistência Social, Bruna Machel explicou que a entidade, existente há aproximadamente 15 dias e antes batizada de Comitê de Solidariedade às Catadores, foi renomeada no dia da doação à categoria devido à demanda de assistência social a outros trabalhadores.
— A primeira arrecadação foi pontual porque estávamos nos solidarizando com as catadoras e os catadores de material reciclável. Por conta da quarentena, mesmo que eles estejam tentando trabalhar, o volume de resíduos é muito baixo. Então, eles não conseguem fazer a reciclagem. Nós arrecadamos bastante dinheiro, que foi suficiente não só para comprar essas cestas básicas, mas também teve excedente. Estamos planejando qual critério vamos usar para poder comprar mais cestas básicas e distribuir para outros grupos. Nós adquirimos cestas básicas fechadas e, também, compramos alimentos da reforma agrária, como abacate, limão e laranja — relatou.
Bruna afirmou que o comitê é fruto de união de membros da sociedade civil. “Como em todos os municípios estão sendo criadas comissões de crise, nós, da sociedade civil, também temos nosso comitê de crise. Nesse sentido, estamos articulando várias iniciativas”, destacou. Entre outras ações de solidariedade, a presidente do Conselho citou como importantes, entre outros, os papéis de freiras e de entidades espíritas:
— Enfim, todas as entidades que trabalham na perspectiva da fraternidade com o próximo, no sentido de valorização da pessoa humana, são extremamente importantes nesse contexto de crise, como já eram antes. A questão central para mim, como presidente do Conselho, é que isso não tire o foco do dever do poder público. Então, a gente faz a nossa parte da solidariedade, mas não perde de vista a necessidade de adequação do poder público às demandas concretas.
“Herói caminhoneiro” no posto Lagamar
Em frente ao posto Lagamar, e com apoio da Polícia Rodoviária Federal quanto à maneira de abordar veículos na rodovia e à logística da ação, equipes do Sest/Senat realizam entrega de alimentos, sucos e produtos de higiene aos caminhoneiros. Por dia, em um período de aproximadamente sete horas, são atendidos 300 motoristas.
Iuri Guerra explicou que a PRF não pode estar na linha de frente para efetuar as entregas, devido a outras demandas de serviço, como garantir a segurança de veículos e cargas, e conta com os profissionais do Sest/Senat, que, além das doações feitas à PRF também distribuem materiais comprados com recursos próprios, conforme explicou o instrutor do órgão Eduardo Lugão.
— Esse trabalho vai até o próximo dia 15. O Sest/Senat não está recebendo arrecadações. Estamos fazendo por meios próprios e doando para os caminhoneiros. Estamos doando kit de higiene pessoal e um kit lanche para que eles possam se alimentar na estrada, por causa da dificuldade. E isso é uma campanha, uma ação do Sest/Senat, chamada “Herói Caminhoneiro”, que está se estendendo por todo o Brasil — explicou o instrutor.
Eduardo contou que a equipe faz a abordagem aos motoristas. Inicialmente, o grupo do Sest/Senat faz uma pesquisa para saber se os trabalhadores apresentam sintomas de Covid-19. Caso apresentem, eles são orientados a buscar uma unidade de saúde. Eles também passam dicas de higienização aos caminhoneiros, inclusive de como manter os cuidados com o veículo.
— Temos que valorizar esse profissional, que, muitas vezes, é marginalizado, não tem apoio correto das instituições, da sociedade. São trabalhadores que estão longe da família. São pessoas que se dedicam muito para que o país continue funcionando — destacou Lugão.