Cinema: Fendas no tempo
Edgar Vianna Andrade 22/04/2020 14:41 - Atualizado em 08/05/2020 21:38
'Megatubarão', de 2018, está entre as produções analisadas
'Megatubarão', de 2018, está entre as produções analisadas / Divulgação
No cinema, a Terra e a humanidade estão constantemente ameaçadas. Para os animais, a inconsciência é um dom incomparável. Os animais não souberam que um grande corpo celeste atingiu o planeta a 66 milhões de anos passados. Não sabem que vírus e micróbios podem matá-los. Não sabem que vão morrer de velhice. Parece que os elefantes pressentem a morte, mas só quando ela está muito próxima.
Do espaço, pode vir um asteroide, um ET ou um organismo patogênico. Da Terra, os humanos podem ser atacados por vírus, micróbios, vermes, aranhas, escorpiões, insetos, ratos etc. Nós não estamos livres nem do passado. De repente, um fenômeno natural ou nós abrimos, com ou sem intenção, uma fenda no tempo por onde passam animais vorazes que nos atacam. Podemos também entrar em refúgios de seres considerados extintos e tirá-los de lá. Em outro meio, eles se tornam uma grande ameaça aos humanos.
Creio que o primeiro filme a abrir essa fenda no tempo foi “O mundo perdido”, dirigido por Harry O. Hoyt e lançado em 1925. Ingleses buscam dinossauros na Amazônia e os encontram. Um brontossauro é levado para Londres e, assustado, promove muita destruição até sumir nadando no rio Tâmisa. “King Kong”, filme de 1933 dirigido por Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack, mostra um grande macaco que teve a mesma sorte do brontossauro. Ele estava em paz numa ilha perdida em que mantinha um pacto com os indígenas até ser descoberto por ocidentais, sempre gananciosos. A fenda do tempo foi atravessada mais uma vez e, por ela King Kong, o grande gorila, foi levado para Nova Iorque, onde fez muito estrago até ser morto. Houve pelo menos duas boas refilmagens de King Kong.
Daí em diante, a fenda do tempo foi cruzada várias vezes num sentido ou no outro. Em 1954, o genial diretor Jack Arnold promoveu um encontro casual de pesquisadores estadunidenses com um monstro que vivia sossegado numa lagoa da Amazônia. “O monstro da lagoa Negra” transformou-se num clássico. Vários outros filmes enfocaram essa fenda. Geralmente classificados como filmes B, ou seja, com pequeno orçamento e muitas vezes confundindo-se com o “Trash”.
Dando um salto de 60 anos, aparece na tela o filme “O ataque dos insetos”, lançado em 2003 e dirigido por Joseph Conti. Tecnicamente, o cinema evoluiu muito em termos de efeitos visuais nesse tempo todo, mas não tanto em talento. A construção de um túnel de metrô ultramoderno por um empresário inescrupuloso abre uma fenda por onde espécies de insetos do período carbonífero passam e atacam a humanidade. Só se pode ver uma líbula gigante e mortal porque todos os demais são escorpiões não classificados com insetos. E o Carbonífero é muito mais antigo do que mostrado no filme. Entram em cena, como sempre, um policial e uma cientista, como se fossem os únicos do mundo a poder tratar da ameaça. O terceiro elemento é uma tropa especial. O quarto é um empresário que só se interessa por dinheiro. Cheio de erros científicos, o filme é sofrível.
Em 2010, Alexandre Aja dirigiu “Piranhas 3D”, peixes extintos que viviam no fundo da Terra e passaram para o nosso mundo quando um cataclisma abriu uma fenda. As piranhas atacam pessoas nuas e vestidas que se divertiam na água, arrancam pés, mãos, dedos, peitos, até serem destruídas por uma explosão. A nudez feminina é estampada de forma sensacionalista. Então, o oscarizado Guillermo del Toro toma a batuta para lançar “Círculo de fogo 1”, em 2013. Também uma fenda no tempo permite a passagem de monstros que atacam a “civilização”. Os humanos os empurram para o lugar de onde nunca deveriam ter saído. Mas os monstros retornam em “Círculo de fogo 2: A Revolta”, de 2018, sob direção de Steven S. DeKnight. De novo são mandados para a toca, agora com a promessa dos humanos de que o próximo ataque será no terreno dos monstros.
Mas, ainda em 2018, uma fenda se abre no fundo dos oceanos e permite que tubarões extintos no nosso mundo o invadam provenientes do passado terrestres. Trata-se de “Megatubarão”, dirigido por Jon Turteltaub e voltado para o grande mercado chinês. Os monstros fazem miséria, mas são combatidos pelo forte e másculo Jason Statham.
Cada monstro ameaça a Terra como uma pandemia, mas os heróis salvam a humanidade com sua força, inteligência e saber. Precisamos de um desses heróis na presidência do Brasil e no Ministério da Saúde.

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