Camilla Silva
15/03/2020 11:14 - Atualizado em 08/05/2020 17:50
Manifestantes pró-Bolsonaro se reuniram, na manhã deste domingo (15), na praça Cinco de Julho (em frente à Igreja Nossa Senhora do Rosário), no Parque Leopoldina, em Campos. No início da tarde, o grupo saiu em carreata pelas ruas da cidade. Muitos participantes reclamam da atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional, que estariam bloqueando a aprovação de pautas defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro. No entanto, entrevistados pela Folha se dividem ao falar sobre o apoio para o fechamento dos poderes. Entre as demandas apresentadas, eles ressaltam a defesa dos valores da família, os dogmas cristãos e falam do combate ao petismo e ao comunismo no país. De acordo com a organização, o evento reúne cerca de 200 pessoas. Capitais como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Belém também registraram protestos pacíficos. Com a pandemia de coronavírus, autoridades de Saúde e o próprio presidente haviam pedido que população evitasse eventos com grandes aglomerações.
— A demanda é fora Maia, Alcolumbre, Gilmar Mendes, Toffoli, porque eles querem manter a corrupção. Essa é a demanda da sociedade brasileira em geral. Nós queremos a direita conservadora do bem. Quantas empresas fecharam no país no governo esquerdista? O desemprego não é fruto desse governo. Esse governo está dando uma injeção de ânimo nos empresários — afirmou o fiscal de obras Luís Carlos Barbosa, 64 anos.
Durante todo a ação, motoristas que passavam pela BR 101 buzinaram em apoio aos manifestantes. “Eu não sabia da manifestação, mas eu apoio o Bolsonaro. Minha família toda votou nele”, afirmou o comerciante Cláudio Mota, 40 anos, que passava pelo local.
Sobre o pedido de fechamento dos poderes Legislativo e Judiciário a nível nacional, os manifestantes se dividiram. Enquanto alguns falam de forma mais moderada contra algumas personalidades, outros defendem o fechamento total das casas, inclusive com faixas.
— O maior vírus é a corrupção. Se nós colocamos lá, nós podemos tirar. O Bolsonaro foi o start, mas, mesmo ele pedindo para não vir aqui, é nossa obrigação defender o Brasil. Eu penso que nós podemos mudar, mas as autoridades não querem ouvir. Eu acredito que tenhamos que pedir uma intervenção constitucional, porque eles não querem mudar. O Brasil já é um país comunista — disse o representante comercial Manuel Rocha, 63 anos.
A figura do presidente Bolsonaro, no entanto, é unânime entre os participantes, mesmo entre aqueles que afirmam não estar por dentro da polêmica. “Enquanto a gente apoia o Brasil, a gente apoia o Bolsonaro. Eu não estou por dentro sobre o STF ou o Congresso, meu marido que está, mas entendo que meu papel é apoiar nosso presidente”, destacou a auxiliar administrativa Larissa Ferreira, 29 anos.
Manifestação pró-Bolsonaro em Campos
Manifestação pró-Bolsonaro em Campos
Manifestação pró-Bolsonaro em Campos
Manifestação pró-Bolsonaro em Campos
Manifestação pró-Bolsonaro em Campos
Manifestação pró-Bolsonaro em Campos
O Movimento Direita Campos levou cerca de 20 camisas para o local da manifestação e apenas uma ainda não havia sido vendida por volta das 11h15. “Os recursos da venda são utilizados para manutenção do movimento”, disse o autônomo Guilherme gomes, 32 anos, integrante do movimento.
Família, propriedade e religião - Em muitos discursos é possível encontrar um denominador comum: a defesa de valores conservadores da sociedade brasileira. No trio elétrico, uma das líderes do movimento afirmou que essa é a maior manifestação espontânea do Brasil. “Sejamos femininas e não feministas. Ensinamos nossos filhos a rezar. O jovem hoje tem vergonha de segurar um terço. O presidente diz não, e a gente vem mesmo assim. Afinal, ele dá a vida todos os dias por nós, correndo o risco de tomar um tiro”, defendeu.
Quem também marcou presença no evento foi o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, que levou uma imagem de Nossa Senhora de Fátima ao evento. “Nossa defesa é da família, queremos preservar a civilização cristã contra a ameaça comunista. Defendemos a família tradicional que deriva da ordem divina. O presidente Bolsonaro está ao nosso lado nesta luta”, afirmou o representante do instituto em Campos, Fábio Cardoso Costa, de 59 anos.
Recomendação sobre o coronavírus não assustou os manifestantes
Mesmo após o pronunciamento de Jair Bolsonaro e do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta na última quinta, na qual o presidente falou que objetivo do país é evitar “uma explosão de pessoas infectadas porque os hospitais não dariam vazão” e sugeriu o adiamento das manifestações marcadas para este domingo, o evento foi realizado. A manifestação em Campos reuniu um grande número de pessoas idosas, público de risco do coronavírus. No Brasil, pelo menos 121 pessoas já foram infectadas pelo vírus, 24 delas no estado do Rio de Janeiro. Até o início desta tarde, os casos são concentradas na capital e região Sul Fluminense.
No trio elétrico, um manifestante chamou o coronavírus de comunavírus e disse que o alarde era para minar a manifestação. O público, no entanto, é mais cauteloso. Muitos afirmam que a manutenção do evento se justifica porque o município não tem nenhum caso confirmado da doença. Alguns manifestantes, inclusive crianças, usavam máscara de proteção.
— Eu entendo os avisos sobre o coronavírus, mas eu me pergunto, se a situação é tão grave, por que teve carnaval? A gente tem que pegar ônibus, tem que ir a lojas, tem que ir ao banco. A prevenção é necessária, mas a nossa causa é maior. Nós não somos contra o Congresso e contra o STF, mas contra os abusos que eles estão cometendo contra o povo e contra o Executivo. Eles não estão aceitando o grito das urnas. Fora PT, fora comunismo — protestou a professora Tânia Maria Figo, 58 anos.