Todo o cuidado com os idosos em Campos
Ícaro Abreu Barbosa 28/03/2020 22:12 - Atualizado em 02/04/2020 16:32
No Asilo do Carmo, idosos só conversam por chamada de vídeo com os parentes
No Asilo do Carmo, idosos só conversam por chamada de vídeo com os parentes / Genilson Pessanha
Com impacto direto do coronavírus em todo o mundo e recém-chegado a Campos, tendo o primeiro caso sido confirmado na última segunda-feira (23), a diretoria e funcionários de asilos da cidade tem se precavido de maneira intensiva para um possível surto no município. Já que os idosos, assim como pessoas com doenças crônicas, são parte do grupo de risco, a taxa de mortalidade do novo vírus sobe para 3,6% aos sexagenários; para 8%, nos septuagenários e para 15% nos octogenários. Portanto, todo cuidado é pouco e, nessas instituições, protocolos de higiene e isolamento estão sendo mantidos para a proteção de um total de 113 idosos abrigados nas instituições. Nesse sábado (28), a Prefeitura de Campos abriu o espaço do Hospital Manoel Cartucho para receber a população em situação de rua que preferiu o isolamento. O local foi preparado durante a semana e vai contar com equipes de saúde, assistente sociais e segurança 24 horas.
A médica e coordenadora do Núcleo de Atenção a Saúde do Idoso da Secretaria Municipal de Saúde, Deborah Casarsa, explicou que o caráter de letalidade da doença, que no geral atinge 3,74%, atinge os idosos de maneira mais agressiva pela presença de comorbidades nesse grupo, como cardiopatia, diabetes e problemas renais.
Como os asilos de Campos tem um caráter filantrópico, a ajuda e a parceria da população em geral, bem como dos gestores municipais, são de vital importância. Nesse sentido, segundo os coordenadores das duas instituições do gênero na planície – Asilo do Carmo e Asilo Monsenhor Severino – parabenizam a comunidade pelo número de doações que chegam diariamente nas casas de repouso:
— Estamos muito felizes de que a população tenha se conscientizado e nos ajudado muito. As doações têm chegado e, hoje, podemos dizer que estamos abastecidos, apesar de termos muito gasto de material diário”, contou Ricardo Araujo, presidente do Asilo Monsenhor Severino.
Já Aluyzio Vagner, diretor de Patrimônio do Asilo do Carmo, conta que os funcionários da instituição também estão muito felizes com a solidariedade da população que tem ajudado nas doações de álcool em gel, luvas e máscaras. Ele contou que o asilo também tinha uma reserva econômica constituída de doações voluntárias dos funcionários e diretores.
— A equipe do Asilo do Carmo buscará utilizar esses recursos para isolar nossos idosos desse vírus que está atingindo a cidade, o estado e o mundo — declarou o diretor de Patrimônio.
Contato com os familiares apenas virtual
Famílias tiveram o acesso aos seus idosos nos asilos cortados diante da pandemia do coronavírus. No Asilo Monsenhor Severino, lar de 54 idosos, as visitações foram proibidas desde que começou o surto no âmbito nacional.
— Nós proibimos todas as visitas aqui, no Asilo do Monsenhor Severino, nem familiares estão entrando — garantiu o diretor Ricardo Araújo, que recebeu a equipe de reportagem da Folha na entrada da instituição.
A situação não foi diferente no Asilo do Carmo, onde ficam assistidos 57 idosos. Lá o isolamento entrou em vigor após uma reunião dos diretores no dia 18 de março, segundo o diretor de Patrimônio, Aluyzio Vagner.
A diretora de enfermagem, Raquel Gonçalves, que conta que, com o auxílio de três enfermeiros e cinco cuidadores por plantão, implementou medidas de chamadas por vídeos para que os idosos possam se comunicar com familiares.
Para os idosos que estão em suas casas, a secretaria de Envelhecimento Saudável, sob comando de Heloisa Landim, criou um canal virtual no YouTube com atividades diversas para manter os idosos ativos física e emocionalmente, amenizando qualquer sensação de isolamento que possa surgir durante a necessária quarentena.
Visitas aos atendidos estão proibidas no Asilo Monsenhor Severino como medida de proteção ao coronavírus
Visitas aos atendidos estão proibidas no Asilo Monsenhor Severino como medida de proteção ao coronavírus / Genilson Pessanha
Acolhida à população em situação de rua
Os primeiros moradores do abrigo para população em situação de rua chegaram ontem, no Hospital Manoel Cartucho, no parque Rosário. Segundo a secretaria de Desenvolvimento Humano e Social serão 62 vagas disponibilizadas. A iniciativa foi realizada como medida de combate ao coronavírus em Campos. A cidade possui outros três abrigos com capacidade total de 60 vagas, que estão ocupadas.
— Eu já morei em abrigo assim. É bom. Ajuda a gente a melhorar, conseguir trabalho, se estabilizar. Lá fora está muito complicado, tem gente que aproveita que está deserto para fazer algum tipo de maldade. Me parece que as coisas aqui vão ficar muito melhores — afirmou Jonas Antunes, pedreiro de 51 anos que está desempregado.
A secretária de Desenvolvimento Humano e Social de Campos, Pryscila Marins, conta que o projeto surgiu como resposta à pandemia de coronavírus, já que existe a recomendação de que a população permaneça em suas residências. “O nosso objetivo é trazer o máximo de pessoas em situação de rua que a gente conseguir. Aqui temos disponibilizando 62 vagas, mas existe espaço para ampliá-las”, explica.
O Centro de Referência para População em Situação de Rua (Centro Pop) tem realizado conversas com a população de rua que se encontra em diversas áreas do município, mas o órgão ressalta que a participação só ocorre em caso de concordância do abrigado.
Moradores de rua chegam ao abrigo no Hospital Manoel Cartucho
Moradores de rua chegam ao abrigo no Hospital Manoel Cartucho / Genilson Pessanha

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