Icaro Barbosa
07/03/2020 09:35 - Atualizado em 10/03/2020 14:41
A Igreja Católica Apostólica Romana herdou e manteve, do Império Romano, o sistema de organização e também preservou sua maior contribuição para o ocidente: o direito romano. O ritualismo da herança romana foi — e continua sendo — um princípio seguido à risca por membros do clero. Dentre os muitos rituais do catolicismo estão os sínodos diocesanos, convocados pelos bispos. A assembleia conta com participação de sacerdotes e membros ativos da comunidade local.
Dessa maneira começou o atrito entre alguns fiéis, frequentadores da Igreja Nossa Senhora do Rosário, em Donana, na Baixada Campista, e a Diocese de Campos. Uma das moradoras da comunidade, que também atua como parte da equipe de zeladores voluntários da igreja, a professora de química e física Analice Martins, falou sobre o desentendimento que fez cessar as missas, desde o último domingo de outubro de 2019, na conhecida igreja:
— Em outubro, sempre há festa no final do ano. O padre não quis que a festa, que sempre fizemos, fosse no final do mês de outubro. Quando chegou no último domingo do mês, o padre celebrou sua última missa aqui e não avisou que não celebraria mais nenhuma na igreja — relatou Analice.
Ainda de acordo com a professora, em outra ocasião, o padre Denison Martins havia afirmado que não voltaria mais a ministrar o culto naquela igreja.
As missas em Donana eram alternadas, acontecendo duas vezes por mês na antiga igreja construída pelos jesuítas e duas vezes na Igreja de Santo Amaro. No entanto, após conflitos em torno da organização de uma festa, foi revelado que a Igreja Nossa Senhora do Rosário não pertence a Diocese de Campos, tratando de uma igreja particular.
Por esse motivo, passaram a ser aplicadas e seguidas, com relação à Nossa Senhora do Rosário, as normas estabelecidas no último sínodo da Diocese:
— Em igrejas particulares, não podem ser realizadas missas, matrimônios, batizados, comunhões ou qualquer outro sacramento — explicou padre Denison.
Segundo informações do padre, as missas ocorriam na igreja, construída por jesuítas, por uma questão de tradição. Ele contou que, quando assumiu aquela paróquia, em abril do ano passado, apenas seguiu os horários precedentes do padre anterior, sem saber, no entanto, que se tratava de uma igreja particular.
— Os católicos da comunidade de Donana não estão desassistidos, pois as missas continuam na Igreja Santo Amaro, que é de responsabilidade da Diocese — concluiu padre Denison.
De quem é a edificação tombada pelo Iphan?
Construída por jesuítas que vieram para a região, por volta de 1660 a 1670, segundo a historiadora Silvia Paes, a Igreja Nossa Senhora do Rosário do Engenho do Visconde encontrava-se no meio das terras do donatário Salvador Corrêa de Sá, o Visconde de Asseca. Posteriormente, pertenceu a uma propriedade rural e, com a expansão da área urbana, encontra-se entre diversos imóveis.
Por tradição, a família da professora Analice Martins se mantem como zeladora da igreja, apesar de ser tombada como patrimônio histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1940.
Ninguém sabe ao certo quem é o proprietário da igreja. “Não sabemos de quem é a igreja e nem quem responde por ela diante do Iphan. Eu, o bispo e a Diocese não somos os responsáveis pelo prédio. Não sabemos quem são os verdadeiros donos e apenas conhecemos aqueles que se dizem zeladores”, afirmou padre Denison. Os zeladores também dizem não saber, mas mantém as chaves e responsabilizam-se pela limpeza e cuidados com o local.
O caso foi parar inclusive no Conselho de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural de Campos (Coppam), através de uma nota assinada pelo bispo da Diocese, Dom Roberto Francisco Ferrería Paz.
A presidente do Conselho, Cristina Lima, comentou que o Coppam já tem ciência do problema e irá tomar uma atitude a fim de obter algum novo desdobramento, na próxima terça-feira, quando haverá uma reunião sobre a igreja.