Compositores ligados a Campos fizeram história na Mangueira
Matheus Berriel 07/03/2020 08:25 - Atualizado em 24/03/2020 18:13
Fotos: Divulgação
Foi sancionada na última terça-feira (03) pelo governador Wilson Witzel (PSC) a Lei 8.741/20, que declara a ala de compositores da Estação Primeira de Mangueira como patrimônio cultural de natureza imaterial do Estado do Rio de Janeiro. A homenagem abrange nomes importantes do samba carioca, dois deles naturais de Campos, ambos já falecidos: Zé Ramos, um dos fundadores e ex-presidente da ala, e Jurandir da Mangueira, outro grande vitorioso nas disputas de samba da Verde e Rosa. Sem contar o quase campista Cartola, concebido na planície goitacá, embora carioca.
Nascido em Campos no ano de 1913, José Marcelino Ramos foi para o Rio de Janeiro ainda na infância. Embora não costume ser mencionado junto aos nomes mais famosos, como Cartola — de quem foi parceiro —, Carlos Cachaça e outros, participou, em 1939, da fundação da ala de compositores mangueirense, pioneira entre as escolas de samba.
De acordo com o Dicionário Cravo Albim da Música Popular Brasileira, administrado pelo jornalista e historiador Ricardo Cravo Albin, Zé Ramos compôs, nas décadas de 1930 e 1940, vários sambas de terreiro que alcançaram sucesso na quadra da Mangueira. Fazem parte de sua obra músicas como “Capital do samba”, “Jequitibá” e “Mangueira chegou”, tradicionalmente cantadas pelos adeptos da Verde e Rosa, além de “Quando ouvi essa batida”, “Castelo desmoronado” e “Nasceste de uma semente”, esta interpretada por Clementina de Jesus no musical Rosa de Ouro, em 1965. Também assinou, em parceria com Geraldo da Pedra, o samba-enredo “Nossa história”, com o qual a Mangueira foi vice-campeã em 1945. A Folha da Manhã não conseguiu contato com seu filho Paulo Ramos, ex-vice-presidente cultural da agremiação. Zé Ramos morreu em 2001.
— O Zé Ramos é um dos maiores compositores da Estação Primeira de Mangueira. Dos sambas de terreiro, “Capital do samba” e “Jequitibá” são dois clássicos da escola. O Chico Buarque já gravou estes sambas. E ele fez parte fundação da ala de compositores, da qual foi um dos presidentes, embora não seja muito falado — comentou o músico e pesquisador campista Fabiano Artiles.
Um pouco mais divulgado é Jurandir Pereira da Silva, o popular Jurandir da Mangueira. Campista de outra geração, nascido em 1939, fez seu nome na capital fluminense, sendo até hoje um dos nomes mais presentes assinando sambas-enredo que a Mangueira levou para a avenida. Entre eles, “Yés, nós temos Braguinha” (com Hélio Turco e Darci da Mangueira), que conduziu a escola ao título do Carnaval de 1984, e “Cem anos de liberdade — realidade ou ilusão” (com Alvinho e Hélio Turco), no vice-campeonato de 1988. Teve sambas gravados por Beth Carvalho, Emílio Santiago e o grupo Fundo de Quintal. O Dicionário Cravo Albim destaca como um de seus maiores sucessos “Transformação”, em parceria com João da Gente. Jurandir da Mangueira morreu em 2007.
— Tudo começou na quadra da velha fábrica de cerâmica, na localidade da Candelária, onde Jurandir, muito jovem, começava a engatinhar no mundo do samba com suas composições. Se sagrou campeão (em disputas de samba) por 16 vezes — afirmou o filho Gilson Pereira. — Ele fez parte dessa ala, hoje com uma homenagem mais que merecida, pela qualidade deste trabalho junto a outros baluartes como Pelado, Cumprido, Hélio Turco, Zagaia, Padeirinho, Preto Rico, Manoel Luciano... Essa era a elite dessa ala, da qual hoje a Mangueira muito se orgulha — pontuou.
Em 2013, tanto Zé Ramos quanto Jurandir da Mangueira foram homenageados in memoriam, em Campos, com a Ordem do Mérito Wilson Batista, destinada a sambistas de destaque naturais da planície goitacá. Ambos estiveram representados por familiares. Também foram lembrados Zezé Motta, Aluísio Machado, Roberto Ribeiro, Sebastião Motta, Geraldo Gamboa e Delcio Carvalho.
— Não tinha nada político, foi uma homenagem a músicos. Os vereadores aprovaram, e o Dr. Edson Batista, então presidente da Câmara, pediu que eu escolhesse os nomes — contou o jornalista Chico de Aguiar. — No caso do seu Zé Ramos, depois fui ao Buraco Quente, na ruela onde ele morava (na Mangueira), e entreguei a medalha ao seu filho Jorge (já falecido) — recordou.
Um dos maiores nomes da música popular brasileira, Angenor de Oliveira, o célebre Cartola, por pouco não deu seus primeiros passos em Campos.
— O avô do Cartola, Luis Cipriano Gomes, era muito querido pelo ex-presidente da República Nilo Peçanha, e Nilo o convidou para ser seu motorista e cozinheiro no Palácio do Catete. Então, ele levou junto sua filha, Aída Gomes de Oliveira, já grávida de Cartola, que por poucos meses acabou não nascendo em Campos, e o genro Sebastião Joaquim de Oliveira — relatou o professor e pesquisador Marcelo Sampaio, atual presidente do Conselho Municipal de Cultura (Comcultura de Campos), que no final de 2018 organizou por seu centro cultural o show “Os 110 anos de nascimento do quase campista compositor Cartola”, com Reizilan Cartola Neto e a cantora Rose Maria.

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