Marielle e a Democracia
14/03/2020 23:36 - Atualizado em 14/03/2020 23:42
Marielle Franco
Marielle Franco / Internet
Hoje fazem dois anos do assassinato da então vereadora Marielle Franco (PSOL - RJ). O crime segue sem qualquer solução, e os criminosos impunes.
Infelizmente vivemos um período de esquizofrenia política onde o assassinato de uma parlamentar virou termômetro de pertencimento a determinada tribo política. Se você cobra a solução do crime, lamenta o assassinato ou de alguma forma recorda de forma positiva da figura da vereadora, você automaticamente se torna uma pessoa "de esquerda".
Para se desvencilhar deste estigma, e afirmar-se como alguém "de direita", algumas pessoas sentem a necessidade de desdenhar de uma parlamentar brutalmente assassinada, diminuir sua importância ou recorrer à técnica que consiste em desviar do assunto principal com um "mas e o (insira aqui a morte de outra pessoa)?", agindo como se estivéssemos em uma gincana do Celso Portiolli para lamentar tragédias, ou como se o lamento fosse finito e, ao dedicá-lo a um sujeito, necessariamente faltasse a outro.
Bom, felizmente nem todos entraram nesse delírio político coletivo. Alguns, como eu, ainda que estando em uma posição política de oposição à maior parte das ideias da Marielle, e sendo pessoas "de esquerda", não possuem qualquer constrangimento em lidar da única forma humana possível com a tragédia ocorrida: Lamentando profundamente.
Nesta data, o (neo)liberal que vos escreve recorda com orgulho do texto que escreveu à época:
"É fundamental para a República uma resposta rápida, efetiva e dura neste atentado contra a Democracia brasileira. 
 O efeito do homicídio, além da monstruosa dor de todos afetos da vítima, neste caso, por ser uma representante do povo, e uma representante de uma parcela da população que se sentia muito bem representada por ela, é destruir, minar ou frear o ímpeto do sentimento republicano de uma geração inteira - minha geração - por medo.
São milhares, talvez milhões de jovens que a integram e, como eu, buscavam nas instituições a força para coragem de, de acordo com as regras do jogo, enfrentar um establishment político instituído no poder.
Um sentimento republicano, que pouco a pouco ia vencendo uma batalha travada com o sentimento das gerações anteriores de que "as coisas são assim, e quem é você para mudar? Não da, melhor ficar quieto e seguir sua vida".
O prejuízo de uma derrota no desenvolvimento do sentimento "Eu sou apto como qualquer outro a moldar as instituições políticas do país, disputando nas regras do jogo" é inestimável.
O homicídio da vereadora é um ataque brutal ao futuro da sociedade brasileira e de suas instituições políticas e econômicas, e também da esperança de que elas viessem paulatinamente se tornando mais inclusivas, com um poder mais descentralizado, num processo de subtração lenta e civilizatória dos poderes da elite para a sociedade de forma generalizada.
Avançamos como nunca antes nestes últimos 30 anos na construção árdua de instituições políticas e econômicas inclusivas e plurais, na construção de uma civilização moderna e tendente ao desenvolvimento.
Este homicídio, contudo, além da vida de uma mulher virtuosa, pode tirar a vida que começou a brotar nas nossas instituições políticas, e este assassinato é o assassinato da esperança do país.
 Fizemos um bom trabalho até aqui, espero que não deixem morrer na minha geração a vida que brotou das sementes plantadas 30 anos atrás."

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    Marco Alexandre Gonçalves

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