É hora de botar o bloco na rua?
Arnaldo Neto 22/02/2020 20:07 - Atualizado em 10/03/2020 14:53
Pré-candidatos a prefeito de Campos já começam a arrumar seus grupos para disputa que promete ser quente em outubro
Pré-candidatos a prefeito de Campos já começam a arrumar seus grupos para disputa que promete ser quente em outubro / Folha da Manhã
“Eu quero é botar, meu bloco na rua...”. A música de Sérgio Sampaio faz muito sentido para o período de Carnaval — seja de forma literal ou metafórica. E por falar em metáfora, é nesse ponto que a letra faz ainda mais sentido, ao menos no campo político. Depois que passar a festa de Momo, que vai até Quarta-feira de Cinzas, muita gente costuma dizer que é quando o ano começa de fato no Brasil. E como é ano eleitoral, será o momento de cada agente político firmar sua posição, ainda que pela legislação vigente tenha de ser apenas como pré-candidato. No entanto, como analisa o sociólogo e cientista político George Gomes Coutinho, em Campos, o jogo pensando no pleito de outubro deste ano já começou faz algum tempo. Há uma pluralidade de pré-candidatos, que deve ir se afunilando até a realização das convenções eleitorais.
— Estamos vivendo um fenômeno, que é recente, que é o da antecipação da concorrência eleitoral entre os agentes políticos, isso no Brasil todo, em diferentes níveis, inclusive. Essa temperatura da concorrência política, da concorrência eleitoral, não teve em nenhum momento uma questão de ter cessado em Campos. Ela tem se mantido em uma temperatura que às vezes entra em ebulição, às vezes um pouco mais amena, mas tem se mantido. Acho que a gente vai ter uma disputa eleitoral muito quente — afirmou George.
Tem blocos que já estão na rua, como Coutinho observou, há muito tempo. Um deles é o do governo. O prefeito Rafael Diniz (Cidadania) já reafirmou algumas vezes que é pré-candidato à reeleição. Eleito em 2016 no primeiro turno, Rafael enfrenta alguns problemas na administração, sobretudo com a queda de receitas oriundas da produção de petróleo, que reflete em um desgaste na sua imagem junto ao eleitorado. Tenta, agora, engrossar as fileiras do seu cordão para chegar com um bloco competitivo a outubro.
Na mesma esteira, de “pré-candidatíssimo”, está o deputado estadual Gil Vianna (PSL). Em todas as suas colocações públicas afirma ter interesse em entrar na disputa e já vem formando seu bloco para colocar na rua.
O tabuleiro conta também com um bloco já posicionado, mas ainda de máscaras. O deputado federal Wladimir Garotinho (PSD) tem postura de pré-candidato, mas não admite, publicamente, tal posição. Diz que sairá um nome do seu grupo, que pode ser ele, mas ainda não está definido. O bloco dos mascarados de São João da Barra tem uma marchinha que diz: “Você me conhece, mas não sabe quem eu sou”. Neste caso, todo mundo conhece e sabe quem deve realmente ser o candidato do grupo, só que ele diz não conhece e nem sabe quem é.
Além desses blocos já “consolidados” existem os “cordões”, que tentam também firmar posição. O PT, por exemplo, teria definido por candidatura própria, mas com um processo interno que tem José Maria Rangel, Odisséia Carvalho e Hélio Anomal como pré-candidatos, sendo o primeiro franco favorito caso os petistas realmente mantenham candidatura. Outros nomes que buscam espaço para botar o bloco na rua são Roberto Henriques, Alexandre Buchaul (SD), Lesley Beethoven (PSDB) e Marcelo Mérida (PSC).
E tem pré-candidato que poderia estar trabalhando com bloco na rua, mas parece preferir a calmaria de um “retiro”, muitas vezes até longe da cidade. Apesar de se colocar publicamente como pré-candidato a prefeito, Caio Vianna (PDT) pouco tem se posicionado com relação aos assuntos em debate no município. O que não se sabe é se ele está aguardando o ano começar somente após o Carnaval.
Atuação constante pelas redes sociais
Com o calendário eleitoral mais curto, apesar de o clima de campanha ser bem antecipado, George Coutinho acredita que o fenômeno de antecipação da disputa eleitoral não é só brasileiro. Contudo, ele ilustra com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, que entrou no “modo campanha” muito antes da eleição.
George analisa que as redes sociais têm papel fundamental no pleito, ainda mais com a campanha tradicional mais curta.
— E a questão das redes sociais, também, tem feito com que, dentro das estratégias da política contemporânea, está a de você antecipar a concorrência eleitoral e manter o eleitorado mobilizado. Isso faz diferença em redes sociais, que são um espaço de disputa de eleitores — disse George.
Votação do Orçamento deu início à disputa
“Os nomes para disputa a Prefeitura de Campos já têm se apresentado desde meados do ano passado”. Essa é a avaliação de George sobre o tabuleiro eleitoral do município. No entanto, um fato do fim do ano passado é apontado por ele como ponto de partida para as urnas neste ano; a votação da Lei Orçamentária Anual (LOA):
— No final do ano passado, houve um acirramento entre Executivo e Legislativo local, com a não aprovação do Orçamento anual em um primeiro momento. Isso fez com que se chegasse a 2020 com essa pendência e sem recesso parlamentar, no caso do Legislativo campista. Isso já é um reflexo da disputa eleitoral, na medida em que o Executivo queria ter, naquele momento, uma maior margem de manobra em termos orçamentários. Isso, em ano eleitoral, não é acidental nem inocente.
Em dezembro, o G8, grupo que era formado por dissidentes da base governista, se aliou à oposição e vetou projetos enviados pelo prefeito Rafael Diniz, entre eles a LOA. O maior ponto de divergência era o percentual de remanejamento. O prefeito queria manter os 30% dos anos anteriores, enquanto o G8, liderado pelo vereador Igor Pereira, tentava impor 10%. Uma nova votação aconteceu. Uma articulação entre o deputado Wladimir, líder político do grupo de oposição na Câmara campista, e Fred Machado (Cidadania), presidente da Casa, levou a um consenso para aprovar a LOA com 20% de remanejamento.
Com todo o cenário que vai se desenhado, George faz sua projeção para este ano: “Acho que nós vamos viver um processo de alta temperatura de disputa eleitoral, inclusive para além do calendário oficial, nas redes sociais. Como há uma redução do tempo de propaganda eleitoral gratuita, segundo a nova legislação eleitoral, que eu discordei desde o início, os agentes políticos vão procurar outras estratégias que estiverem disponíveis para se fazerem conhecidos e fidelizarem o eleitorado”.

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