Reação imediata após declaração de Bolsonaro
Aldir Sales 18/02/2020 21:24 - Atualizado em 10/03/2020 14:50
Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro / Marcos Corrêa/PR
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a causar polêmica, nesta terça-feira, ao ofender com insinuações sexuais a jornalista Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S. Paulo. “E o depoimento do Hans River, foi no final de 2018 para o Ministério Público, ele diz do assédio da jornalista em cima dele. Ela queria um furo. Ela queria dar um furo [pausa, pessoas riem] a qualquer preço contra mim”, disse o presidente em entrevista junto a um grupo de simpatizantes na saída do Palácio da Alvorada.
A declaração foi uma referência ao depoimento do ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, dado na semana passada à CPI das Fake News no Congresso.
A reação foi imediata do Planalto à planície, com críticas veementes à postura de Bolsonaro no episódio.
Em nota, a Associação de Imprensa Campista (AIC) repudiou às declarações. “É com total repúdio que a Associação de Imprensa Campista se posiciona neste triste momento da política nacional. (...) Neste caso em especial, nos solidarizamos com todas as mulheres jornalistas deste país e condenamos com veemência os descalabros de cunho machista, misógino e sexista praticados pelo presidente da República”.
O deputado federal Wladimir Garotinho (PSD) também defendeu a liberdade de imprensa. “Antes de ser deputado eu sou publicitário e fiz curso de jornalismo, por isso defendo uma imprensa livre e democrática. O presidente tem um temperamento diferenciado, um pouco fora do padrão que todos estão habituados para quem ocupa o cargo, mas isso não pode servir como pretexto para ofensas, mesmo em tom de brincadeira”.
Pelo Twitter, a deputada Clarissa Garotinho (Pros) também fez referência ao que Bolsonaro disse. “Repudio todo e qualquer ataque às mulheres. Posturas e declarações de natureza sexista não são aceitáveis”.
Presidente do diretório municipal do PSDB, Lesley Beethoven afirmou que “discordar não dá direito de ofender”. “Fiquei apavorado com tamanha agressividade e falta de polidez. Havia motivo ou necessidade para tamanha reação? Nenhuma. Discordar não dá o direito a ofender. Desde quando foi proposto anos atrás o ‘controle da imprensa’ pelo governo Lula, fui radicalmente contra. Para corrigir eventuais excessos da mídia, já existe a Constituição Federal e o Judiciário. Não gostou ou não concorda com uma matéria publicada por qualquer motivo? Solta uma nota retrucando, pede direito de resposta ou no máximo processa judicialmente. Atacar a imprensa é atacar diretamente a democracia. Essas palavras são o sinal de que vem algo pior em breve?!”.
Artigo:
 
 
Segundo meus pais, aprendi a engatinhar na redação do Jornal do Brasil, no início dos anos 1970. Filho de jornalista, que depois realizou o sonho de montar o próprio jornal, redação para mim sempre foi um cômodo a mais da casa, como sala, quarto, cozinha e banheiro.
Em meados dos anos 1990, tive a sorte de trabalhar no mesmo Jornal do Brasil, no gigantesco prédio da av. Brasil. Onde meu pai ainda era lembrado e me foi dada a oportunidade de conviver com outros grandes jornalistas, como o campista Oldemário Touguinhó.
Por experiência, posso dizer que realmente as redações foram e permanecem compostas por mais gente de esquerda. O que considero consequência natural da censura nos anos da ditadura militar, entre 1964 e 1985. E do domínio inconteste desse espectro político nas áreas de humanas.
Também por experiência, notei a presença da esquerda festiva, versão pueril da esquerda que resistiu à ditadura, mais em redações de Campos do que do Rio. O que pode derivar da contaminação mais recente pelo neopuritanismo identitário, bola de ferro acorrentada ao pé da esquerda no mundo.
Tudo isso devidamente posto, não tenho como fazer juízo distinto. Quem faz trocadilho sexista de furo jornalístico com os orifícios de uma mulher, é um cafajeste. Tanto pior quando se trata do presidente da República.
E quem quiser também nisso passar pano, que tenha pelo menos cuidado. De reservar o pedaço menos imundo do trapo à limpeza da própria podridão.
*Aluysio Abreu Barbosa

ÚLTIMAS NOTÍCIAS