Virna Alencar
29/02/2020 16:39 - Atualizado em 10/03/2020 14:24
As forças de segurança pública e municípios da região como São Francisco de Itabapoana (SFI), São João da Barra (SJB) e Campos, que atraem grande público para o litoral nesta época do ano, declararam avanços na operação de Carnaval em 2020. O especialista em segurança pública e policial federal Roberto Uchôa destacou a importância do papel dos municípios, que tendem se mostrar como solução para a falta de efetivo policial mediante aos déficits fiscais enfrentados por estados brasileiros. Segundo o comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Luiz Henrique Monteiro Barbosa, a corporação contou com reforço de 40 policiais militares por final de semana nos municípios litorâneos de abrangência do batalhão. As prefeituras apostaram na atuação da guarda municipal no reforço da segurança dos foliões.
A Prefeitura de SFI informou que, por dia de Carnaval, em média, 50 agentes da Empresa Municipal de Trânsito de São Francisco de Itabapoana (Emtransfi) e da Guarda Civil Municipal (GCM) atuaram, em parceria, com pelo menos oito viaturas. A Emtransfi realizou 52 notificações referentes a veículos estacionados ou em trânsito pela faixa de areia e 85 relativas a som alto. Em cada dia da folia, a Emtransfi fez oito interdições simultâneas para eventos relacionados à festa, com o objetivo de garantir a segurança dos veículos e dos foliões. De acordo com a secretaria Municipal de Turismo, Indústria e Comércio (SecTur), a estimativa é de que o município tenha recebido 35 mil visitantes em cinco dias. Também foram realizadas operações no portal de chegada da cidade contra o transporte irregular de passageiros.
Em SJB, uma das estratégias adotadas foi a utilização de drones de ampla abrangência, capazes de cobrir extensa faixa de terra, diferentemente da segurança humana. O investimento pela Prefeitura, por meio da secretaria de Segurança Pública (Semsep), teve por objetivo facilitar o direcionamento das equipes de segurança — Polícia Militar, Proeis, segurança privada e Guarda Civil Municipal (GCM) — para o local exato das ocorrências. O município também contou com o trabalho desenvolvido no Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp), instalado no terminal rodoviário Dr. Fernando Hélio Pinheiro, que recebeu reforço de câmeras de vigilância que monitoraram a cidade, sobretudo nos locais de eventos.
Em Campos, a Prefeitura informou ter empregado cerca de 50 agentes da GCM que atuaram em Lagoa de Cima e 100 na praia do Farol de São Thomé. Segundo o secretário municipal de Segurança Pública, Darcileu Amaral, o Farol registrou um Carnaval tranquilo. O Projeto Campos + Segura, desenvolvido pela superintendência de Paz e Defesa Social, que visa o monitoramento eletrônico de imagens por toda a cidade para prevenir, detectar e reagir a situações emergenciais e na preservação do espaço público, não foi acionado durante o período. O projeto, que contribui para a integração das forças de segurança com cerca de 100 câmeras, funciona no Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp), nos altos da rodoviária Roberto Silveira.
— Não houve solicitação de imagens, e o Cisp não foi acionado para esses tipos de eventos. Durante os eventos, houve poucas ocorrências rotineiras. As mais graves foram o acidente envolvendo uma mãe e um bebê e um homicídio, que não teve nenhuma relação com os eventos que aconteceram na praia — informou o secretário.
Amaral explicou ainda que medidas preventivas também contribuíram para evitar ocorrências, como a proibição da venda de bebidas em garrafas de vidro. Só foi permitida a venda de bebidas em latas e vasilhames plásticos. “Brigas não tiveram muito impacto. Apenas desentendimentos em pequenas proporções”, concluiu.
Em nota, a Prefeitura informou que “os resultados foram positivos, com um índice pequeno de ocorrências — apenas uma de maior relevância, com apreensão de uma arma de fogo e prisão do homem que a portava — e nenhum registro de anormalidade ou tumulto nos locais dos eventos. Nas estradas do município também não foram registradas ocorrências de gravidade, e o mesmo aconteceu no litoral do município em relação a afogamentos”.
Sem mortes em acidentes na região - O balanço de acidentes do Carnaval na BR 101, entre Niterói e a divisa RJ/ES, divulgado nea quinta-feira (27), indicou que nenhum acidente com vítima fatal ocorreu na rodovia. De acordo com o assessor de comunicação da delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Campos, inspetor Iuri Guerra, a redução do número de acidentes é reflexo do trabalho de fiscalização que ocorre desde setembro nas rodovias que cortam o município e da conscientização, ainda que forçada, dos condutores.
Em relação às rodovias estaduais, o Posto 12 do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv), situado em Campos, registrou apenas um acidente, sem vítima fatal, envolvendo o tombamento de um motociclista na RJ-180, em Dores de Macabu.
O 5º Grupamento de Bombeiro Militar (5ºGBM), em Campos, informou que, durante o Carnaval, os guarda-vidas não registraram ocorrências graves, nem óbitos por conta de afogamentos nas praias de Farol de São Thomé, Atafona e Grussaí, sendo reflexo de ações de prevenção realizadas durante todo o período de grande movimentação no litoral. O balanço total da operação de Carnaval deve ser divulgado na próxima semana.
Em Campos, o 8º BPM registrou quatro homicídios e uma tentativa ocorridos durante o Carnaval — um homicídio no Parque Santa Rosa e um baleado no Parque Santa Clara, sábado (22); e três homicídios no domingo (23), em Farol de São Thomé, Parque Vera Cruz e na Penha.
— Foi feito todo um planejamento de Carnaval, com efetivo especial empregado. Os crimes ocorridos foram ajustes de conta do tráfico de drogas. Não tivemos pessoas baleadas durante as folias em locais oficiais e não oficiais. Foram homicídios programados — enfatizou o comandante do 8º BPM, tenente-coronel Luiz Henrique.
Uchôa pede maior atuação da guarda - Para o especialista em segurança pública e policial federal Roberto Uchôa, muitas ações foram planejadas para o Carnaval por diversos municípios que contaram com reforço de policiamento advindo de outros locais. No entanto, mediante a um desfalque no efetivo, a solução seria contar com a participação dos municípios, a partir do trabalho integrado com a guarda municipal que, para ele, deveria ter atuação ostensiva.
— Para se ter noção, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o número ideal de policiais por habitantes seria um policial para cada 250 habitantes. Em Campos, temos cerca de um policial para cada 700 habitantes. Ou seja, para o batalhão atuar de forma condizente com a proposta de prover segurança pública, ele deveria ter o triplo do efetivo. Então, como conseguiremos solucionar o problema sem aumento de efetivo? Todas as cidades daqui da região e a maioria do estado do Rio de Janeiro possuem guardas municiais, e estes devem trabalhar na segurança pública, inclusive de forma armada, repressiva e integrada com a Polícia Militar. Em Campos, por exemplo, temos cerca de 700 guardas, enquanto no 8º BPM são cerca de 900 policiais. Logo, conseguiríamos dobrar o efetivo na cidade — declarou.
O especialista também destacou outro papel do município que deve atuar na prevenção, disputando o jovem com o crime tendo como estratégia a educação, lazer, no sentido de dar a ele a sensação de visibilidade e pertencimento.
“A atuação do município na segurança pública é ampla, complexa, viável e estudos apontam que esse é o caminho para o futuro. Os estados enfrentam déficits fiscais sérios e os municípios hoje tem que aproveitar essa possibilidade do novo pacto federativo para pleitearem verbas e tomarem para si a segurança dos seus cidadãos”, finalizou.