A cotação do dólar só avança e nesta quinta-feira já bateu R$ 4,49. Com o coronavírus e as incertezas da economia no nacional e internacional, a elevação da moeda não impacta apenas a vida de quem se prepara para uma viagem ao exterior. A alta também traz impactos nos preços dos produtos importados como o trigo, os combustíveis e medicamentos.
O professor de economia Igor Franco, porém, relativiza a relação direta entre a alta do dólar e os produtos importados. “Pode haver uma alta, mas não há como se cravar uma certeza porque, em período de inflação baixa e o mercado interno em fase de retração, esse repasse não tem grande impacto”.
O coronavírus e a opção dos investidores pelo mercado de títulos dos Estados Unidos são outros fatores.
— Há a questão do coronavírus e a incerteza na economia mundial, o que acarretam a escassez do dólar. Mas a economia dos Estados Unidos reagiu e se mantém aquecida. Esses dólares migram para lá, onde os investimentos são mais seguros. Por outro lado, o Banco Central demonstra grande capacidade em promover um equilíbrio ao intervir no mercado, através da venda de dólares em operações derivativas. E o Brasil tem bom alicerce devido às nossas reservas internacionais — tranquilizou.
A alta do dólar representa uma incógnita em relação a impactos na economia regional com o movimento de cargas no Porto do Açu em razão da redução do aquecimento na economia da China, epicentro do coronavírus.
— De um lado, se a alta do dólar poderia representar um ganho nas exportações com o valor elevado das commodities em moeda estrangeira, do outro lado com a retração da economia da China, grande comprador dos nossos produtos. Favorece quem exporta, já que o pagamento será em dólar, e desfavorece quem importa com o real desvalorizado. Não há como cravar uma certeza — analisa.
O economista José Alves de Azevedo Neto destaca outras variáveis.
— Não atribuo essa alta do dólar à influência do coronavírus, mas às incertezas da economia. Quem tem dólar em grande volume vai investir em títulos americanos, é mais seguro. O governo reduziu a taxa Selic a 5% com a intenção de atrair investimentos, mas quem vai investir num país com essa instabilidade, onde um presidente convoca a população contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, onde os poderes constituídos não se entendem? O cenário é preocupante, e reflete na economia — analisou Neto.