O mundo do trabalho mudou. Profissões que há séculos serviam à população e compunham a paisagem cotidiana desapareceram por completo. Por outro lado, outras atividades surgem como exigência dos tempos atuais, onde o desemprego atinge camadas expressivas da população e o consumidor deseja ficar em casa e receber produtos e serviços com mais comodidade e eficiência.
O assunto foi abordado pelo blogueiro Gilberto Gomes, da Folha 1. “Outra modalidade chama atenção na cidade. Como em boa parte do país, aplicativos de entrega de comida são cada vez mais comuns. Ao longo dos últimos quatro anos, o número de entregadores acompanha a crise de desemprego que perdura na região”, comentou.
Assim, surgiram os motoboys, depois dos motoristas que trabalham com aplicativos. Agora é a vez dos bikeboys, tipo motoboys, mas que circulam pela cidade fazendo entregas a bordo de bicicletas.
Num tempo em que a economia não cresce e o desemprego atinge milhões de pessoas pelo país, é uma atividade que também serve para absorver trabalhadores que não ainda encontraram espaço no mercado de trabalho formal.
Técnico em informática, Cláudio Fernando Rangel Pessanha, de 36 anos, faz foi garçon, porteiro e motorista de caminhão. No entanto, desempregado, queria dar continuidade aos seus estudos (cursa o 7º período de Direito na Uniflu) e resolveu se cadastrar no aplicativo Ifood para fazer entregas de bicicleta. A oportunidade veio como uma luva.
— Estou há seis meses no mercado em busca de uma oportunidade e com minha carteira de habilitação vencida, foi então que vi como alternativa optar pelo Ifood. Sou técnico de informática, faço montagem e manutenção de computadores, mas como não gosto de ciências exatas optei por estudar Direito. Estava desempregado e precisava continuar com meus estudos. Como esse trabalho me toma algumas horas por dia, posso trabalhar aqui, fazer outras coisas e concluir o curso na faculdade — explicou.
Assim como os motoboys, os bicke boys se arriscam em meio ao trânsito caótico de Campos, onde carros e bicicletas não trafegam exatamente de forma organizada ou harmoniosa. “Eu sei do risco, mas tenho que trabalhar. É prestar muita atenção e não dar bobeira”, disse Dênis de Souza, motoboy que entrega medicamentos para uma drogaria. (P.R.P.P.)
“Por estar estudando, não me contratam”
A falta de oportunidades e o preconceito por estar cursando uma faculdade têm sido obstáculos para Cláudio Fernando. “Não é um mal de Campos, mas de todo Brasil, acredito. Quando vou buscar de uma vaga de emprego, ao fazer a entrevista e assinalar que estou cursando o sétimo período de Direito, a conversa logo muda de rumo e me descartam, percebo isso, achando que vou pedir um salário mais alto, quando tudo que eu quero é trabalhar. É um pensamento retrógrado, mas existe”, afirmou.
— Muita gente fala na falta de mão-de-obra capacitada, mas o que há mesmo é excesso de exigências. Quando eu falo que trabalhei seis meses numa função e tenho condições de exercê-la por também ter trabalhado em outras profissões, me pedem um ano de experiência. Esse comportamento inclusive desanima os mais jovens que estão entrando agora no mercado de trabalho — comentou.
A rotina do cotidiano na luta pela sobrevivência
Em Campos, há em torno de 10 bikeboys que marcam presença todas as manhãs na esquina das Ruas Saldanha Marinho e Lacerda Sobrinho, na região em torno da Rodoviária Roberto Silveira. Ali, eles criaram um ponto onde esperam a hora do almoço: é quando o celular toca os chamados com pedidos de clientes dos aplicativos de comida.
O pico do movimento da entrega de refeições, as quentinhas ou outros tipos de alimentos prontos é de 11h às 16h. Depois, os pedidos de comida por aplicativo cessam. “Em dias de chuva, o movimento melhora. Cheguei a faturar uns R$ 40,00 num dia. Em Campos, é tudo muito limitado. Não há um movimento de dia e de noite ou pela madrugada como no Rio e em São Paulo onde quase tudo funciona 24 horas por dia. Lá os caras ganham até R$ 300,00 num dia”, disse Cláudio. Por cada quilômetro, o aplicativo lhe repassa R$ 4,00 até seis km ro-dados. Após esta distância, o valor por quilometro rodado é de R$ 7,00. O pagamento é feito toda sexta-feira pelo aplicativo na conta dos bikeboys.
Queda no comércio e o Uber como opção
José Carlos Barros, de 62 anos, mantinha uma lanchonete no Parque Jockey Club, mas com a redução do movimento no seu comércio decidiu optar por outro ramo, agora como motorista de aplicativo, através do Uber. “Com essa crise toda, meu negócio vinha tendo uma diminuição no movimento. E veja que eu não pagava aluguel, já não tinha mais nenhum funcionário, trabalhava sozinho. Então há dois meses que decidi fazer essa experiência e estou gostando do trabalho pelo Uber. Começo pela manhã e vou até às nove da noite, a não ser que seja para um lugar onde tenha um passageiro que eu saiba quem e que esteja num lugar que eu conheço. Não me arrisco muito. Devido à questão da segurança, não vou em qualquer lugar, principalmente à noite”, contou.