Folha na Sapucaí
Matheus Berriel 19/02/2020 20:21 - Atualizado em 02/03/2020 14:17
Toninho Shita e Marcelo Sampaio participaram do Folha no Ar
Toninho Shita e Marcelo Sampaio participaram do Folha no Ar / Genilson Pessanha
Pelo segundo ano consecutivo, a Folha da Manhã estará representada na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, cobrindo os quatro dias de desfile das escolas de samba da Série A e do Grupo Especial. O trabalho será feito pelo professor e pesquisador Marcelo Sampaio, atual presidente do Conselho Municipal de Cultura (Comcultura) de Campos, e sua esposa, Yoná Alves Sampaio, que vão produzir material para o Folha1 e o site CarnavalDeCampos.com.br, além de prognósticos para a apuração na edição impressa de quarta-feira (25) da Folha. As escolas do grupo de acesso desfilarão na sexta (21) e no sábado (22), e as da elite, no domingo (23) e na segunda (24). Nesta quarta-feira, Marcelo foi um dos entrevistados na primeira edição do Folha no Ar, da Folha FM 98,3, junto ao sambista Toninho Shita, compositor mais vitorioso do Carnaval campista.
Na entrevista, foram abordados assuntos do passado, presente e futuro do Carnaval, que voltou a ser realizado fora de época em Campos em 2019, no mês de agosto, após dois anos sem ter acontecido. Para Marcelo, a retirada dos desfiles do período original da festa popular representou o enfraquecimento dos mesmos, devido a uma perda de identidade nos barracões. No ano passado, apesar do bom nível apresentado pelas escolas, os blocos e bois pintadinhos, o público foi baixo no Centro de Eventos Populares Osório Peixoto (Cepop).
— A partir de 2009, quando a prefeita Rosinha Garotinho instituiu este famigerado Carnaval fora de época, eu falei que havia começado a acabar o Carnaval de Campos. Porque, com isso, viria um monte de coisa de fora, os artistas locais perderiam espaço; nós viríamos a ter menos comunidades. E comunidade e Carnaval são como povo e futebol. Se você tirar o povo do futebol, é outra coisa, porque futebol não é — pontuou Marcelo Sampaio.
A crítica foi endossada por Toninho Shita. “Você quer ver a nossa gente lá, quer prestigiar a nossa gente. Aí você vem de onde estiver para ver o seu povo desfilando, satirizando, curtindo aquele ambiente festivo. Quer ver a sua agremiação, do seu bairro. Quando você começa a não ter elementos, trabalhando com crianças, jovens, formando pessoas para continuar aquela essência, você se afasta, automaticamente, e fica difícil tocar Carnaval”, disse o compositor. “As agremiações perderam as comunidades. A costureira não está costurando; a filha da costureira não vai lá desfilar nem ver a mãe desfilando de baiana”, pontuou.
A própria criação do Cepop foi citada por Marcelo Sampaio como outro problema, retirando as manifestações populares da avenida XV de Novembro, no Centro.
— O Cepop é o maior equívoco. Aliás, um equívoco de R$ 100 milhões. Ele é mal localizado, mal construído e mal utilizado. E horroroso. Por onde entra o público, entra a agremiação carnavalesca. O cara vai ter que passar no meio da concentração da escola para entrar no Cepop. E em nenhum lugar o Carnaval é fora do Centro da cidade — disse Marcelo. — Mesmo se voltar para a data (oficial) em Campos, vamos continuar com um grande problema, que é o Cepop. Ele nunca vai funcionar para desfile de Carnaval, porque não se subverte a ordem quase na estrada Campos-São João da Barra. Não é preconceito com bairro periférico, com distrito nenhum. É porque, se não estiver no Centro, não subverte a ordem. Vai à praça do Santíssimo Salvador em dia de Carnaval... A vida vai continuar normalmente — criticou o professor e pesquisador, indicando ainda a necessidade de que houvesse em Campos uma espécie de Cidade do Samba, para lá serem produzidos, guardados e reutilizados os materiais dos desfiles.
Foi reforçado por Marcelo Sampaio que, neste ano, o Comcultura não vai liberar verba para a Associação dos Bois Pintadinhos de Campos (Aboipic), responsável pela realização do Carnaval. O motivo é exatamente a manutenção dos desfiles fora de época, marcados para os dias 1º, 02 e 03 de maio, ignorando uma ressalva feita no repasse do ano passado.
— O Comcultura aprovou a liberação dos R$ 500 mil do Carnaval 2019 para as agremiações carnavalescas fazerem os desfiles, que fizeram em agosto. Foi minha proposta. Por unanimidade, aceitamos a liberação, mas com uma ressalva de que em 2020 fosse na data do calendário. Todos os meus companheiros corroboraram com a ressalva. Isso está decidido. O conselho não mudou, porque a próxima Conferência Municipal de Cultura, que vai eleger o novo conselho, será no final deste ano. Até o final de 2020, o Comcultura terá a sua mesma posição. Então, não vai sair um centavo do poder público através do Comcultura para Carnaval em Campos esse ano, porque só se fosse na data oficial — disse.
A Aboipic tem buscado outras formas de apoio, como via Governo do Estado e/ou a iniciativa privada. 

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