A escola de samba Chinês, de São João da Barra, desfila este ano com o enredo “Um Mar de Fé” e nele há referência à Nossa Senhora da Penha, fato que levou a Irmandade consultar o Bispo Dom Roberto Francisco Ferrería Paz, que lamentou a falta de diálogo entre as partes, mas disse não ver na letra do samba enredo nenhum desrespeito à Igreja Católica.
Em vídeo gravado e veiculado pela Irmandade de Nossa Senhora da Penha em sua página no Facebook, Dom Roberto ressalta: “A letra em si não apresenta deboche, desrespeito ou mesmo um ataque à nossa devoção Mariana, o que exigiria certamente uma recusa séria de qualquer católico. Agora bem, acredito que o Grêmio sendo uma instituição já afamada e que quer usar o bom sentido a proteção de Maria, deveria ter nos consultado porque o layout de Nossa Senhora pertencente a Igreja Católica e corresponde a ela zelar pela foto, por tudo que seja seu uso público”.
Por sua vez, o presidente da escola de samba Chinês, José Luis Pereira Melo, disse que não procurou a Irmandade e a própria Igreja porque o enredo não era sobre Nossa Senhora da Penha. “O nosso enredo é sobre Atafona e, logicamente, teríamos que fazer referência à Nossa Senhora da Penha. Mas, de qualquer maneira, nós ficamos muitos felizes ao saber que o Bispo não viu nada de ofensivo na letra do samba enredo. O tratamento é todo voltado para a história de Atafona, daí enfocarmos a presença da figura de Lourenço do Espírito Santo que primeiro aportou nesta praia e, mais tarde, viria fundar a cidade de São João da Barra”, completou
Ainda no comentário feito a pedido da Irmandade Nossa Senhora da Penha, Dom Roberto mostrou-se bastante compreensivo e observou: “Mesmo assim fazemos uma recomendação para o futuro que não gostaríamos que se repetisse esta forma, existem procedimentos. Seria bom para o bem comum da sociedade esse diálogo prévio, mesmo porque poderíamos orientar melhor. Então, tranquilizo a comunidade Católica que quanto à letra eu não tenho nenhuma objeção, mas em quanto ao procedimento faltou uma consideração com a instituição que deve cuidar, justamente de Nossa Senhora porque é um bem espiritual. Agora se diga que é um bem do povo brasileiro, sim isso Nossa Senhora Aparecida, mas enquanto a Nossa Senhora da Penha pertencente a Irmandade, cabe a Igreja Católica zelar pelo culto dela”.
De sua parte, a Irmandade de Nossa Senhora da Penha, também em publicação no Facebook, se posicionou: “Reiteramos que não houve por parte da agremiação carnavalesca nenhum contato para que fosse possível um diálogo com nossa Irmandade; sempre estivemos, assim como sempre estaremos abertos ao diálogo com qualquer instituição em nossa cidade e que a mesma posição do Sr. Bispo é a nossa pois uma só é a voz, uma só é a Igreja e um só é o Pastor!”
Mangueira e polêmica – Num período de discussões acaloradas, o Carnaval também caiu na folia de fake news, boatos e ataques virtuais. A artilharia está apontada para o enredo da Mangueira, sobre Jesus (“A verdade vos fará livre”). O tema gera uma série de afirmações e interpretações em relação ao desfile que, segundo o carnavalesco Leandro Vieira, nada têm a ver com o que será levado à Avenida. Em textos e vídeos disseminados na internet, a verde e rosa é acusada de blasfêmia e de promover o descrédito na fé cristã. O Salvador retratado pela agremiação recebe o rótulo de “comunista”, entre outros.
Em recente entrevista, Leandro acentuou que “de certa forma, isso só mostra que estou propondo algo antenado com o debate atual. A figura de Jesus é mote para quase tudo. Discursos políticos são feitos em nome de Cristo, e as pessoas se dizem terrivelmente cristãs. Mas, enquanto alguns apresentam o Jesus bélico, outros podem mostrá-lo de uma maneira diferente. O enredo da Mangueira é o Cristo original, a favor da dignidade humana. As pessoas vão olhar (os carros alegóricos e as fantasias) e entender de imediato, porque é uma história que todos conhecem, até quem se manifesta contra o enredo”. (A.N.) (C.C.F.)