Antropóloga campista vê "esquizofrenia social" no bolsonarismo
Aluysio Abreu Barbosa 16/01/2020 21:09 - Atualizado em 21/01/2020 17:21
“O que eu acho exasperante é a esquizofrenia social, é a falta de capacidade argumentativa das pessoas hoje. É você falar ‘banana’, a pessoa responder ‘lâmpada’ e ficar nisso. Sobretudo quando você fala do seu posicionamento político, ou do fato de ser antropóloga, as pessoas já ficam assim: ‘Ah, o que vai vir da boca dessa menina não presta’. Não é uma crítica a uma filiação partidária ou outra, ou de um programa de governo neoliberal ou progressista. É o fim de consensos mínimos. Quando se discute se a Terra é ou não plana, tudo é possível. Não é possível estabelecer diálogo. Não existem mais referenciais básicos mínimos. E qualquer tipo de discussão não faz mais sentido. Isso é a grande perda. O ministro (da Educação, Abraham Weintraub) escreve ‘imprecionante’, fala que universidade é local de balbúrdia, de produção de metanfetamina. Como combater isso? Você fica o tempo inteiro sendo atacado e não faz o menor sentido. É isso e não a orientação ideológica que todo o governo tem”.
Foi como definiu o debate político brasileiro a antropóloga campista Manuela Cordeiro. Graduada em Ciências Sociais na Uenf, há seis anos professora da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e de férias na cidade natal, após passar boa parte de 2019 cursando pós-doutorado em Portugal, ela foi a entrevistada no início da manhã de hoje (16) do Folha no Ar 1ª edição, da Folha FM 98,3. Ela também falou sobre o que considera a tentativa de privatização das universidades públicas brasileiras pelo governo federal. E citou como exemplo o programa “Future-se”, lançado pelo ministro da Educação olavista:
— Existem várias questões. Uma delas, que eu poderia falar, é a possibilidade do “Future-se”, que é o programa que vem sendo discutido. Pelo menos na UFRR, está aberto a consulta pública. Esse programa que foi lançado pelo ministério da Educação, ele começa com um vício de origem. Não foi discutida com as universidades a formulação dessa proposta. Uma consulta pública feita depois, quando tudo já está desenhado, é muito diferente de uma construção em conjunto. Se é para a autonomia financeira das universidades, isso acaba sendo uma porta de entrada para outros interesses. Se o investimento for privado para a realização de pesquisas, vai se comprometer o resultado final, que acaba por ter que atender a uma demanda. Quem faz consultoria na iniciativa privada sabe disso. Qual o limite de entrada de capital privado dentro das universidades, que fere de cara a autonomia universitária? O objetivo é ir asfixiando a universidade para se chegar à privatização.
A entrevista com a antropóloga campista gerou muita participação em comentários ao vivo no link do streaming do programa na página da Folha FM no Facebook. Muitos feitos por professores universitários como Manuela:
— Contra o “Future-se” só temos uma saída, o fortalecimento da autonomia financeira das universidades! — escreveu o professor Raul Palácio, reitor da Uenf.
— Pertinente a ponderação do prof. Raul, o interesse é maior: querem privatizar as universidades e os IF’s, ou militarizar os pensamentos — acusou Elias Rocha Gonçalves, professor da rede Faetec/Isepam.
— Independente do regime político, por trás dos exemplos dados sobre a universidade e retorno à sociedade estava um projeto de Nação. Penso que as políticas públicas, programas e projetos não devam existir isoladamente — pontou a historiadora Guiomar Valdez, professora aposentada do IFF.
Defensores do governo Bolsonaro também fizeram o contraponto no espaço democrático do Folha no Ar nas redes sociais:
— Assim como foi nessas gestões (do PT no governo federal) que os bancos, a Odebrecht, OAS, obtiveram lucros memoráveis. Isso não foi privatização, mas foi beneficiamento de alguns setores privados — comentou Eduardo Manhães, telespectador do programa pelo streaming.
No grupo de WhatsApp do programa, um debate prévio foi gerado a partir de um questionamento do odontólogo Marco Barcellos. Ele sugeriu que se perguntasse a Manuela como Campos poderia sair da classificação desfavorável no Ibed. Antes mesmo do Folha no Ar, foi solicitamente respondido no grupo pelo secretário municipal de Educação, Brand Arenari. Também ex-aluno da Uenf, seu áudio de resposta foi reproduzido no programa, após a pergunta de Marco ser lida.
 
 
 
 

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