Rossi fala do Teatro de Bolso e em "trevas" na cultura nacional com Bolsonaro
Aluysio Abreu Barbosa 17/01/2020 19:29 - Atualizado em 25/01/2020 18:07
“A gente vê e está vivendo um momento muito complexo. Os ataques (do governo Jair Bolsonaro, sem partido) à cultura são evidentes. Você vê diversos espetáculos e exposições sendo censurados. Inclusive teve uma música do Arnaldo Antunes (“O Real Existe”) que não pôde passar em um determinado canal (TV Brasil, do governo federal). Então a gente vê um momento muito difícil, revanchista até. E isso já era previsto. A gente já esperava que isso pudesse vir a acontecer. E a gente vai viver esse momento que eu considero de trevas. É difícil. E a posição do artista é de resistência mesmo. Diante das situações, dos ataques e da falta de discernimento da importância da cultura”.
Foi assim que o diretor teatral e do Teatro de Bolso (TB) Procópio Ferreira, Fernando Rossi, abriu sua participação no Folha no Ar 1ª edição, no início da manhã de ontem (17). No estúdio da Folha FM, ninguém ainda sabia da reprodução na noite anterior (16), do discurso de Joseph Goebbels, ministro da propaganda da Alemanha Nazista de Adolf Hitler, pelo secretário de Cultura do governo Bolsonaro, Roberto Alvim. Em vídeo gravado ao som da ópera “Lohengrin”, de Richard Wagner, compositor preferido dos nazistas, Alvim repetiu trechos da fala de Goebbels, registrados no livro “Joseph Goebbels: Uma Biografia”, do historiador alemão Peter Longerich. Antes do repúdio generalizado gerar ontem a demissão de Alvim, Bolsonaro tinha feito uma live, também na noite de quinta. Nele o presidente disse ao seu então secretário de Cultura: “Alvim, você é a cultura de verdade no Brasil”.
Além do contexto nacional, cuja crise acabou antecipando logo em sua primeira fala, Fernando Rossi também falou no segundo bloco sobre que fez à frente do Teatro de Bolso, desde a sua reabertura no governo Rafael Diniz (Cidadania), em 28 de março de 2017. E do que pretende fazer neste ano de 2020:
— Com relação ao Teatro de Bolso, que a reabertura eu recebi como missão do prefeito Rafael, o que tenho feito nestes três anos é cumprir aquilo que ele me propôs: aquele espaço ser a casa do artista local. E desde a sua reabertura (em 28 de março de 2017) a gente tem feito isso, dando espaço a todas as vertentes. Você sente ao longo desses três anos o que existe de produção cultural em Campos e como o público está reencontrando o seu velho Teatro de Bolso, lotando as produções todo o final de semana. E também atividades durante a semana. Para quem não sabe, a gente tem uma parceria com a secretaria de Educação, com o projeto EPA, Escola de Práticas Artísticas, para as crianças e adolescentes das escolas públicas municipais. Também mantivemos o Curso Livre de Teatro, sob a coordenação do (ator) Pedro Fagundes. Em termos de público, em 2017, nós tivemos 7.544 espectadores. Em 2018, 10.949. Então foi crescendo o número de público e de produções. Essa promessa, o prefeito Rafael Diniz (ainda como vereador de oposição), fez aos artistas que ocuparam o Teatro (no movimento “Ocupa TB”, no final do governo Rosinha Garotinho). E o Teatro de Bolso foi reaberto, cumprindo a promessa que ele fez à classe artística.
Apesar de relembrar o cumprimento de promessas do governo qual faz parte, Fernando não se furtou em propor a autocrítica pela maneira como o município deixou, em cima da hora, de ser parceiro do Festival Doces Palavras! (FDP!). Mesmo sem o apoio do poder público municipal, por conta da crise financeira, o evento foi realizado em novembro:
— Algumas coisas têm que ser revistas, tem que fazer uma autocrítica em relação a posturas. O que poderia ter sido feito? Mas é lamentável que, tão bacana nas edições anteriores, e dessa vez não ter tido essa participação. Vamos ver agora também, a situação como está, como é que vai ser a Bienal do Livro deste ano. A questão do FDP! é ruim, é péssima. Isso deveria ser revisto, realmente (a desistência do governo) foi anunciada muito em cima. As pessoas merecem respeito. Eu, enquanto artista, acho que todos nós merecemos respeito.

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