Paulo Renato Porto e Paula Vigneron
07/12/2019 15:21 - Atualizado em 17/12/2019 17:19
Com a alta do preço da carne bovina, o campista partiu para outras opções como aves e suínos, mas os preços destes cortes já começam a oscilar para cima nos açougues do Mercado Municipal. Enquanto consumidores sentem no bolso e comerciantes vêem a queda do consumo, os pecuaristas ganham dinheiro. O preço da arroba do boi chegou a R$ 230,00 esta semana em Campos.
Em alguns casos, o preço da carne bovina disparou até em 50%, o que acarretou aumento de outros cortes como frango e suínos. Ronaldo Vieira, gerente de um açougue, admite que o aumento da procura por carne de frango saltou para aproximadamente 80% em comparação com as semanas anteriores.
Jonas Alves Mendonça, outro gerente de açougue no Mercado, admite uma queda de 50% no consumo da carne de boi com a disparada dos preços. Na sexta-feira, a média do preço do contra filé no Mercado estava a R$ 33,00, enquanto o quilo da costela de frango (o produto agora mais consumido) saía a R$ 14,00. Entre outros cortes de aves, o filé de peito ficava a R$ 11,00; o peito, a R$ 9,70; o frango abatido a R$ 7,50; o miúdo, a R$ 7,00; e dorso, a R$ 2,00.
Os impactos do aumento do valor da carne vermelha estão sendo sentidos não apenas pela população, mas também por aqueles que trabalham com o produto. Proprietário de um tradicional churrasquinho no Centro de Campos, Renan da Penha Silva, de 61 anos, afirmou que este foi o pior aumento desde que iniciou as atividades.
– Eu trabalho aqui há quase 35 anos. O pior aumento de carne que teve foi agora. É uma mercadoria que você não pode estocar demais. A cerveja, por exemplo, eu tenho um estoque grande. Então, quando sei que vai aumentar, a gente pode encher o estoque. Depois, vai só soltando. Com a carne, você não pode fazer isso, até porque depende de muito freezer para congelar. E quem não tem? – questionou.
Renan destacou que, há cerca de três meses, conseguia abastecer o seu estoque com contrafilé ou o miolo da alcatra, que variavam entre R$ 19,8, R$ 20, R$ 21. Hoje, o valor, de acordo com ele, chega a R$ 35. Com isso, foi necessário aumentar, também, o preço do seu produto, o que levou à queda de 20% nas vendas do churrasco de boi.
– Eu vendia o meu churrasco de carne, com molho e farofa, a R$ 5. Agora, botei a R$ 7. Quer dizer, se eu fosse calcular o aumento que teve a carne para poder aumentar o churrasco, ninguém ia comprar. Com uma crise dessas, se a gente botar muito caro, não vende. Então, vai só achatando a margem de lucro – disse.
Como alternativa à carne vermelha, Renan sugere cinco tipos a preços mais baratos. “O frango, o coração, o de calabresa, o salsichão, a gente vende mais barato. Tem o consumidor que come porque gosta; tem aquele que come por necessidade, porque não traz de casa, como o pessoal do comércio. Então, a gente fica com pena, mas não tem outra alternativa”.
Abate de fêmeas gera escassez no mercado
Apesar dos aspectos positivos destacados pelo pecuarista, Silvio se recordou de que, devido à estagnação do preço nos últimos anos, houve muito abate de gado: “Abateram muitas fêmeas lá atrás, porque, com a defasagem do preço, o produtor precisava fazer dinheiro para pagar seus compromissos e matou muitas fêmeas, que são as matrizes, o berço da produção do gado. Matou a matriz, e a quantidade de animais diminuiu”.
Para Silvio, a expectativa é de melhoria no cenário econômico brasileiro, não apenas devido ao aumento da exportação, mas também aos demais incentivos dados pelo governo federal.
– De mudança brusca, a gente sempre desconfia. Mas quando é feita de base, aos poucos, no alicerce, você acredita. Vai melhorar aos poucos. O nível de emprego já melhorou um pouco... Eu acho que a perspectiva para o Brasil não é ruim. Nós temos produção de tudo. Mas tem muitas dificuldades, muita coisa a vencer. Acreditamos no governo, apesar de ter seus deslizes em determinadas coisas que a gente não comunga, mas no geral vai melhorar — concluiu Silvio Paes.
Consumidor opta por cortes de preços mais baratos
Entre os consumidores, a solução é partir para outras opções como as carnes de frango e de porco para substituir a carne bovina. “O dinheiro já tá curto, moço, e com esse aumento piorou. Então, se não economizar não dá. Tem que partir pra comer franco, carne de porto, peixe, essas coisas”, disse Dalva da Silva. Consumidora com bom grau de consciência, a dona de casa sugeriu. “Se a gente não comprar a carne de boi o preço baixa. Se comprar, vai continuar aumentando”, recomendou.
O aumento do preço da carne levou a comerciante Diane Ferreira a um dilema. “Foi terrível essa alta no preço da carne, ainda mais para mim que trabalho com quentinha. Se eu não aumentar o preço vou ficar no prejuízo. Dá dó aumentar, coitado do povo, mas vou fazer o quê? Por outro lado se eu aumentar ninguém compra”, raciocinou.
A dona de casa Rose Ferreira também se assustou com o aumento. “Tem muito tempo que a gente não vê um aumento como esse. Aquelas carnes mais caras, como chã de dentro, filé, eu não estou levando. Vou levar uma carne mais barata e esperar o preço baixar”.
O fenômeno da disparada no preço da carne bovina se deve a um surto de gripe suína na Ásia, que fez a demanda da China por carne bovina aumentar consideravelmente. O país asiático elevou a importação da carne brasileira e, com isso, os frigoríficos não conseguiram suprir a demanda interna.
Pecuarista diz que não trabalha mais no “vermelho”
Para os produtores os impactos são positivos. O pecuarista Silvio Paes apontou que, com o aumento do preço da carne vermelha, os produtores não estão mais trabalhando “no vermelho”. “Agora, vamos ter como investir. Você, no vermelho, não faz pastagem. Como vai colocar adubo? Muito mal um calcário. Adubo, faz muito tempo que ninguém usa aqui em pastagem”, disse.
O produtor se recordou de que a alteração de preços registrada nas últimas semanas está relacionada à exportação para a China. Segundo ele, com a peste suína, o país tem comprado em maior quantidade a carne bovina brasileira. Diante desta perspectiva, as vendas têm apresentado saldo positivo.
– Nosso maior parceiro comercial é a China. Hoje, a lei da oferta e procura inverteu: pouca oferta e muita procura. Mas é por causa da exportação, até normalizar esse problema da peste suína na China. Isso não afetou a produção. O pessoal tem medo de cair o preço. Então, como melhorou, estão vendendo – comentou.