Líder do maior quilombo do Brasil, Zumbi dos Palmares foi morto em 20 de novembro de 1695. Mais de 320 anos depois, a data se tornou um símbolo de resitência. Apesar do fim do período da escravidão, a desigualdade continua uma realidade na vida do país com a maior população negra fora do continente africano. Na política regional, a desparidade é refletida também nas câmaras municipais. Dos 111 vereadores eleitos em 2016 em todas as cidades do Norte Fluminense, apenas 13 (11,7%) se declararam pretos no registro de candidatura na Justiça Eleitoral e outros 20 (18%) disseram ser pardos. Por outro lado, a esmagadora maioria de 75 (67,6%) são de brancos.
A maior Câmara da região é a de Campos, que possui 25 vereadores. Dos eleitos em 2016, a grande maioria (16) também se declarou branco, enquanto cinco falaram ser pardos e apenas três são negros. Também há um parlamentar que se registrou como amarelo. Com a constante dança das cadeiras no Legislativo, principalmente relacionada a processos e decisões judiciais, 13 cadeiras são ocupadas atualmente por suplentes que ascenderam ao cargo. Com a nova composição, o número de negros caiu para dois e o de brancos passou para 17.
Superintendente de Igualdade Racial de Campos, Rogério Siqueira lembrou que o município foi um dos principais destinos de negros escravizados do país. Ele relata que houve avanços nos últimos anos, mas que ainda há necessidade de maior representatividade na política.
— Ao longo dos anos, os negros têm conseguido alcançar espaços que ainda são considerados de privilégio, de poder. A medida que o negro avança nessas conquistas, isso também reflete na política. É natural que tenha aumento gradual de políticos que se declaram negros ou pardos. Mas, do ponto de vista da proporcionalidade da população, ainda estamos em desequilíbrio. Precisamos de mais políticos afrodescendentes em posições privilegiadas dentro da política. As posições de decisão. Ainda há muito a se fazer. Campos, como uma das cidades que mais recebeu negros escravizados no país, deveria ter mais representantes declaradamente afrodescendentes na Câmara — afirmou.
A desigualdade na política também fica evidente em outros municípios do Norte Fluminense. Em São João da Barra são seis vereadores que se declararam brancos, três pardos e nenhum negro. A situação é parecida com Conceição de Macabu, onde há sete parlamentares brancos e quatro pardos.
Já em Carapebus, apesar de também não haver nenhum vereador, há um equilíbrio entre brancos (quatro) e pardos (três), além de dois amarelos.
— As lutas de anos e anos do movimento negro pelo reconhecimento para que pudesse acessar as ferramentas de emancipação socioeconômicas, passa também pela ocupação do espaço político para que possamos fazer políticas públicas com objetivo de diminuir as assimetrias brasileiras, vinculadas ao processo de escravização, que durou mais de 300 anos. Temos a liberdade, mas não temos a emancipação socioeconômica — completou o superintendente.
Origens africanas no nome e na Câmara
Quissamã é o único município do Estado do Rio de Janeiro com nome de origem africana. Diz a história que o primeiro grupo de colonizadores da região, conhecido como os Sete Capitães, se depararam com um negro entre os índios quando chegaram. Ao ser questionado, o homem teria respondido que era um escravo liberto e que tinha origem na cidade de Quiçama, em Angola. Desde então, o nome Quissamã passou ser uma referência para denominar a área.
Terra da comunidade quilombola de Machadinha, a relação do município com as origens africanas estão enraizadas na cidade e também se misturam na política local. A Câmara de Quissamã é a única do Norte Fluminense que é formada por maioria de descendentes do continente do outro lado do Oceano Atlântico. Das nove cadeiras no Legislativo quissamaense, cinco são ocupadas por pardos, três por negros e uma por branco.
É o contrário do que acontece nos municípios de Cardoso Moreira e São Fidélis, onde todos os nove assentos são ocupados por vereadores que se declararam brancos.