Quem passa pelas ruas de Campos, especialmente no Centro, percebe a presença cada vez mais frequente de pessoas em situação de rua. De acordo com a Prefeitura, um levantamento feito por pesquisa amostral em maio, apontou que há 131 pessoas em situação de rua em Campos. Comerciantes alegam que a vulnerabilidade social gera desordem urbana e sensação de insegurança e atrapalha o comércio. Na última quarta (13), equipes do Centro de Referência Especializado para a População em Situação de Rua (Centro Pop), ligado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social, realizaram nova mobilização na área central. O objetivo foi notificar pessoas que construíram barracas e tendas em vias públicas, impedindo a circulação da população em geral.
O comerciante Paulo Vieira da Silva, de 47 anos, tem um carrinho de churros no calçadão da cidade e, segundo ele, há cerca de 4 anos a população de rua vem crescendo, com mais evidência esse ano.
— Em 2002, quando cheguei aqui não havia esse pessoal. Depois das 19h, não tem mais quase ninguém no calçadão porque a sensação de insegurança é grande. Os próprios lojistas desviam o caminho e, com isso, acabo sentindo os impactos nos meus negócios — declarou.
Na Beira-valão, a funcionária de uma funerária contou que as pessoas em situação de rua acabam atrapalhando a rotina de trabalho. “Eles entram aqui e é uma situação complicada, porque muitas vezes estamos em atendimento. Nós não sabemos o que fazer, afinal, não sabemos quem são essas pessoas”, contou.
Em relação ao perfil da amostra das pessoas abordadas no Censo, destaca-se a prevalência de homens (82,44%) estando em consonância com a Pesquisa Nacional realizada em 2009, que apontou 82% de homens em situação de rua. No que se refere à faixa etária, as pessoas que acessam o serviço do Centro Pop são maiores de 18 anos, destacando a faixa etária entre 27 anos e 43 anos, totalizando 56,49% da amostra de 131 pessoas. Em relação ao estado civil, 75% declararam ser solteiros.
A maioria das pessoas é de Campos, com 44,27% do total de 131 pessoas. Há ainda naturais de Macaé, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais. O principal alegado para saírem das suas cidades é o desemprego, seguido de conflitos familiares e os territoriais. Sobre desejo de retornarem às suas cidades, destaca-se a negativa, em 33% dos casos. Outros 67% afirmaram possuir algum vínculo familiar, mesmo fragilizado ou rompido.
Sobre escolaridade, 5% informaram não possuir escolaridade e 74 %, o Ensino Fundamental. Nas ocupações no ramo da construção civil e serviços gerais, são 22,14% e 14,50% respectivamente e 73% das pessoas afirmaram que pretendem ter alguma atividade remunerada. Outros 50% das pessoas afirmaram não terem tido vínculo de trabalho formal, com carteira assinada. Os principais motivos de estarem em situação de rua são os conflitos familiares, o desemprego e a dependência química, estando em consonância com a Pesquisa Nacional de 2009.
Centro Pop faz abordagens ininterruptas
A mobilização na última quarta-feira (13) iniciou na Praça do Santíssimo Salvador, seguindo para a Praça Tiradentes, ao lado da Igreja Nossa Senhora do Rosário, e finalizada dentro do Rio Paraíba do Sul, no pilar da Ponte Leonel Brizola, em parceria com a Superintendência de Postura, Guarda Civil Municipal e 5º Grupamento de Bombeiro Militar.
O secretário Municipal de Desenvolvimento Humano e Social (SMDHS), Marcão Gomes, explicou que a finalidade é notificar pessoas em situação de rua que insistem em colocar materiais recicláveis nas calçadas, mesmo abordagens do Centro Pop, impedindo a passagem dos demais transeuntes.
Na oportunidade, os profissionais apresentaram novamente os serviços de acolhimento da Prefeitura de Campos e os serviços ofertados no Centro Pop, como alimentação, espaço e sabão para lavagem de roupas, guarda de pertences, atendimentos e encaminhamentos pela equipe multiprofissional para rede de serviços públicos, inscrição/atualização CAD Único (bolsa-família e outros benefícios/programas sociais), retirada de documentos, encaminhamento para acolhimento, atividades coletivas e ligações telefônicas.
De acordo com a Prefeitura, as abordagens sociais do Centro Pop acontecem de forma ininterrupta. Foram 1.875 abordagens sociais no primeiro semestre de 2017, 855 no primeiro semestre de 2018 e 578 no primeiro semestre deste ano.
Comitê ouve quem está morando na rua
Situação de rua no Centro de Campos
Situação de rua no Centro de Campos
A Prefeitura criou o Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento para a População em Situação de Rua (Ciamp), por meio do Decreto 225/2018. Mensalmente, o Comitê promove reuniões com participação dos mais interessados na pauta, a própria população em situação de rua. A próxima reunião será no dia 28 de novembro, às 9h, na Casa dos Conselhos, no Edifício Executivo, na avenida Alberto Torres. O Comitê é coordenado pela SMDHS e conta com representantes da sociedade civil organizada; da secretaria de Saúde; Secretaria de Educação, Cultura e Esporte; Secretaria de Desenvolvimento Econômico; superintendências de Postura, Trabalho e Renda e Justiça e Assistência Judiciária, além de Guarda Civil Municipal.
— A Secretaria também aumentou a oferta de cursos de inclusão produtiva na área urbana e na área rural, para promover a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho, e desenvolver a autonomia, independência e reinserção social. Várias pessoas estão conseguindo trabalho e novas oportunidades de reingresso na família — disse o secretário Marcão Gomes.