Camilla Silva
23/11/2019 19:59 - Atualizado em 26/11/2019 14:19
A experiência de vida da vigilante Damiana Castro Fonseca, de 42 anos, faz com ela não veja saída: “sofreu a violência, não volta. Meu ex-companheiro não se importou nem com o fato de que eu era mãe da filha dele”. As agressões acabaram há 13 anos quase da pior forma possível. “Ele tentou me enforcar. Minha irmã me encontrou quase morta, com uma corda no pescoço, amarrada na cama. É um glória, para mim, poder contar, estar viva para contar o que aconteceu”. Ela vai participar da caminhada em razão do Dia Internacional de Combate a Violência contra a Mulher, que será realizada em Campos, nesta segunda-feira (25). O ato é organizado pela Associação comunitária de mulheres de Campos. Sobre o tema, nesta semana, o Departamento de Proteção Social Especial (DPSE) da secretaria municipal de Desenvolvimento Humano e Social deu início à Campanha 16 Dias de Ativismo pelo fim da violência contra as mulheres e meninas. Os últimos dados do Dossiê Mulher, divulgados pelo Instituto Segurança Pública (ISP-RJ) com informações de 2018, mostram que o município teve 1552 casos de violência contra a mulher registrados, 39% deles são de violência física, 33,7% psicológica, 15,2% moral e 7,7% sexual. Em 2019, três mulheres foram assassinadas com quem haviam mantido relacionamentos anteriores (info ao lado).
Damiana Fonseca contou que quando as agressões começaram, a filha dela tinha apenas seis meses, mesmo assim ela tentou sair de casa. “Ele não quis aceitar a separação, começou a me trancar em casa. Foi muito difícil, mas a minha família me apoiou muito. Fiquei 5 meses e 10 dias no abrigo, sem sair. Um ano em outra cidade. Tem muita gente que não consegue superar. Eu fiz curso de vigilante, defesa pessoal para me proteger. Virou a minha profissão”, contou.
A caminhada terá concentração na Rodoviária Roberto da Silveira, no Centro de Campos, a partir das 14h. O grupo seguirá para o auditório da prefeitura de Campos, onde será realizada uma palestra. O evento é organizado pela Associação comunitária de mulheres de Campos, movimento que nasceu em 1998. Por dez anos, a associação manteve o Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher (Niam), onde uma equipe composta por psicóloga, advogada e assistente social auxiliavam vítimas de violência.
— Depois da delegacia da mulher, teve uma melhora no atendimento, mas a violência continua forte. Precisamos fazer novas ações porque as vítimas continuam aumentando. Mulheres de todas as classes, que tem problemas e escondem. Quanto existia o Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher, elas nos procuravam, porque confiavam no nosso trabalho — afirmou Vera Coutinho.
Centro especializado na pauta do movimento
O Núcleo Integrado de Atendimento à Mulher foi encerrado há mais de 10 anos. Hoje, grupos de defesa dos direitos das mulheres, em Campos, lutam pela instalação do Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam). O Ministério Público entrou com uma Ação Civil Pública e em dezembro de 2018, a 1ª Vara Cível de Campos determinou que o Estado e o município promovessem a sua instalação. No entanto, os réus apelaram da sentença, que aguarda julgamento no Tribunal de Justiça. “Em 1999 fomos a secretária de políticas públicas do estado, Marisa Chaves, que vai ser palestrante no evento desta segunda. Ficamos 12 anos trabalhando. Na hora de renovar o protocolo de intenções, entre Campos e o Rio de Janeiro, para renovar o projeto, a prefeita de cidade Rosinha Garotinho estava brigada com o governador, na época o Sérgio Cabral, e não quis assinar. Resolveram fechar o Niam, as mulheres ficaram desamparadas. Continuamos a fazer o trabalho voluntário, mas é difícil sem a mesma estrutura. Nossa luta, agora, é para que o governo implante o Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam)”, explicou Vera Coutinho.
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social informou que oferece às mulheres, vítimas de violência doméstica, atendimento jurídico por meio da Superintendência de Justiça e Assistência Judiciária, além do atendimento especializado nos Centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas). “A SMDHS dispõe, ainda, às mulheres vítimas de violência, protegendo sua integridade física e prestando apoio psicológico e social à vítima, por meio da Casa Benta Pereira, que possui parcerias para reinserção dessas mulheres no mercado de trabalho. A Secretaria oferece acompanhamento para o agressor em parceria com a Gerência de Saúde Mental”, completou.
Municípios realizam ações sobre o tema
O Departamento de Proteção Social Especial (DPSE) da secretaria municipal de Desenvolvimento Humano e Social deu início, na última quinta-feira, à Campanha 16 Dias de Ativismo pelo fim da violência contra as mulheres e meninas. A programação conta com rodas de conversa nas unidades do Centro de Referência Especializado de Assistência Social, abordando o tema “Violência Doméstica: gênero, raça e classe”. Em Macaé, neste domingo, a partir das 8h, a avenida Atlântica, nos Cavaleiros, em Macaé, será palco de dois eventos: uma caminhada voltada para luta contra o feminicídio e a violência doméstica, e a corrida Federal Rosa, celebrando o Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher. O ponto de concentração das pessoas será o número 2150. O percurso seguirá pela rua Lindolfo Collor e avenida Nossa Senhora da Glória, com retorno ao ponto de largada na avenida Atlântica. Autoridades e populares estarão reunidos no evento, que alerta sobre o crescimento de casos de violência contra a mulher. O Sindicato da Polícia Federal do Estado do Rio de Janeiro e a Federação Brasileira de Ciências Policias estão na luta contra o aumento no número de casos.