“Navegar é preciso, viver não é preciso”. O trecho da conhecida poesia de Fernando Pessoa reflete sobre como a vida pode ser inexata. E quantas são as circunstâncias que vão determinar se um aluno vai ou não ser bem sucedido? A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) define que a alfabetização das crianças deverá ocorrer até o segundo ano do ensino fundamental, com o objetivo de garantir o direito de aprender a ler e escrever, mas a realidade é bem diferente. Mais da metade dos estudantes do 3º ano do ensino fundamental — período em que termina o ciclo de alfabetização nas escolas — só consegue localizar informações “explícitas” em textos curtos, apontou uma pesquisa do Ministério da Educação. Para tentar mudar isso, uma oficina, realizada pelo projeto Navegando na Poesia, prepara alunos da rede pública para leitura e escrita de forma lúdica e participativa, permitindo que desenvolvam novas possibilidades de compreensão e leitura de mundo. Nesta semana, alunos da Escola Municipal Manoel Coelho, em Goitacazes, participaram da ação.
As estudantes Maria Clara de Souza, de 10 anos, e Bianca Passos, de 9, do 3ª ano do ensino fundamental, leram, cantaram e brincaram na oficina realizada na última segunda (18), e se prepararam para fazer um exercício proposto pela educadora: escrever um texto sobre as emoções. As duas escolheram falar sobre a alegria. “É o que eu estou sentindo”, contou Maria Clara.
— Os educadores do projeto sempre trabalham de forma dinâmica. Eles trazem música, histórias, sempre trabalhando de forma lúdica, então prendem a atenção dos alunos. É muito prazeroso para eles — afirmou a professora Isabelle Simões, que há 11 anos atua na rede pública municipal. Segundo ela, os alunos passam a ter mais estímulo, concentração e criatividade.
De acordo com o educador José Carlos Rosa, existem crianças com dificuldade de se expressar: “Quando a gente pede para o aluno escrever ou desenhar, eles conseguem mostrar o que estão passando. Acontece de algumas crianças pedirem uma folha extra para poder levar para casa o que fizeram e mostrar para os pais”.
Projeto — O público da ação são alunos do 3º e 4º anos do Ensino Fundamental I de 40 escolas da rede pública municipal de Campos, Macaé, Carapebus, Quissamã, São João da Barra e São Francisco de Itabapoana, em uma realização da Associação Raízes, em parceria com o Programa Petrobras Socioambiental. Ao todo, mais de 4 mil crianças participam do programa, que completou um ano neste mês.
— A gente trabalha com jogos teatrais que é para estimular a liberdade, a expressão corporal, com o objetivo de predispô-los a escrita — explicou a coordenadora pedagógica do projeto, Alcimere Siqueira.